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quarta-feira, 29 de junho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A futilidade e outras coisas...

Sob muitos aspectos, manter um blog como esse requer um pouco de tempo, uma pequena dose de paciência e um pouco de cuidado com aquilo que escreve e publica, especialmente se você se importa ao menos um pouco com a forma pela qual será lembrado. Ainda assim, nada é mais sintomático da liberdade de expressão hoje em dia que a imensa proliferaçãode blogues como esse aqui; pessoalmente, o simples espaço que se abre para alguém como eu (mais um nessa multidão) se expresse é prova de uma de nossas grandes conquistas recentes.

Mas, somos, como tenho dito algumas vezes aqui, uma espécie paradoxal; muitas dessas nossas conquistas são geralmente acompanhadas de efeitos colaterais ou resultados inesperados. Nossa história como espécie não é uma linha reta, mas é feita de avanços e retrocessos.

Tome o ambiente virtual como exemplo. Foi uma conquista que como disse, permite a livre expressão, quebra tabus e preconceitos (apesar de alguns acharem que a "revolução não será clicada", numa clara alusão que não devemos esperar muita coisa desse tipo de mídia interativa), etc. Mas ele também afasta as pessoas; a tela do computador é uma janela de um mundo conectado em rede que fecha nossas portas do mundo real. Neste lugar, nos acostumamos a observar e ser observados, a participar de joguinhos de comportamento que nos fascinam pela manobra lúdica dos recursos e cliques de mouse. No fim e sem perceber, perdemos o gosto pela realidade factual.

Esse coletivo de atitudes e rostos sem nomes, nem formas, nem toques, molda sob vários ângulos toda uma geração que "se antena" no que acontece em vários locais ao mesmo tempo, que tem acesso à maior quantidade de informação disponível em nossa história, mas de que faz um uso extremamente superficial. E estamos rodeados de exemplos que sinalizam isso.

Que diabos é o Twitter, senão o exercício maior de nossa, digamos, futilidade? Um ambiente fruto de uma ilusão visual de códigos e números que a máquina codifica e decodifica o tempo todo, e que é usado pra transmitir desde as coisas mais banais, tipo "vou ao banheiro", "passando roupa", passando por sensações momentâneas em que uma pequena baixa de ânimo gera comentários como "triste!!" ou "minha vida tá uma droga". Mas basta alguns minutos para que uma mudança nesse perfil indique que está tudo bem, que o problema a que se aludia esvaneceu-se. E de novo, tristeza, e alegria por extensão, vão se redefinindo enquanto palavras que simbolizam uma sensação que é, me parece, cada vez menos consistente...

E os exemplos pipocam de todos os lados: o caso envolvendo uma pretensa declaração do Maradona e o jogador Neymar foi um deles; de repente, todo mundo só falava disso, o brasileiro apressou-se em uma retratação por não ter feito nada a um Maradona que não disse coisa nenhuma. Quando suas vozes foram ouvidas e tentou-se descobrir quem tinha começado o boato, ninguém sabia. Foi um rastilho de pólvora que "correu o mundo", movimentou (e estressou) pessoas diferentes que provavelmente não se conheciam, mas que todas as pessoas habituadas a esse jogo seguem a massa sem sequer um único questionamento. E esse tipo de falsa informação normalmente vem acompanhado de um "segundo tal pessoa" e coisas do genero. Como se dizia Wiston Churchill, e agora mais do que nunca, uma mentira dá a volta ao mundo sem que a verdade tenha tempo de calçar as sandálias (ou algo assim...).

Honestamente, apesar de admitir a grande facilidade disso tudo,  e de concordar que provavelmente não viveríamos sem, sinto falta às vezes da telha de barro, do terreno em volta da casa, dos livros em papel e dos encontros entre pessoas num café ou na casa de alguém.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Romanzas, Op. 94 de R. Schumann

O oboista da Orquestra Filarmonica de Berlim, Albrecht Mayer, e a pianista Hélène Grimaud interpretam uma das grandes obras de música de câmara do século XIX para essa formação. Dividida em tres movimentos, sendo os dois primeiros no primeiro vídeo.
A gravação é parte de um documentário intitulado "A Letter to Clara", que explora a relação entre Brahms e os Schumann, Clara e Robert.

I. Nicht schnell e em 3:36, II. Einfach, innig


III. Nicht schnell

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Aquarela

A voz e o violão de Toquinho, em seu clássico que não morre nunca. E o clipe de animação em desenho também (que eu nem lembrava mais).

domingo, 12 de junho de 2011

Viola de cocho e orquestra

O grande Roberto Correa e a Orquestra do Estado de Mato Grosso.

"Mensagem para cristãos"


Era o que dizia o título quando abri meu e-mail. Recebi essa mensagem há algum tempo e confesso que ela me incomodou um bocado. Estou com muita coisa nessa época (fim de semestre: só quem passa por ele é que sabe), então não tenho postado ultimamente aqui. Mas resolvi abrir uma exceção para esse caso.

A mensagem inicia dizendo ser endereçada aos cristãos. Não sei por que cargas d’água veio pra mim, mas como a prática diária tem me ensinado, pode ser inútil argumentar logicamente com quem abandonou a razão. E aí segue a missiva que, sendo impossível pra mim descrever, resolvi transcrever (e acho que nem precisa de aspas):

A PAZ DO SENHOR. 

SE TIVERES QUALQUER DÚVIDA QUANTO AO ASSUNTO HOMOSSEXUALIDADE, BASTA LER EM

LEVÍTICO 18:22.
NÃO HÁ CONVERSA; É A PALAVRA DE DEUS. 

PLC 122/2006 É UM PROJETO DE LEI QUE ESTÁ BEM PRÓXIMO DE SER HOMOLOGADO PELO CONGRESSO E PELA PRESIDENTE. PARA AFRONTAR NÃO SÓ O POVO DE DEUS, MAS AO PRÓPRIO SENHOR.


Não vou nem entrar no mérito do que sinto ao abrir um e-mail e dar de cara com essas letras assim, garrafais e coloridas, parecendo o desenho de uma criança com três anos, ou um chipanzé adulto sob estudo. Sempre desconfio de antemão daqueles que gritam para fazerem-se ouvir (em linguagem cibernética, maiúsculas são equivalentes a gritos), porque a qualquer observador atento, isso trai automaticamente não só a veracidade do que se diz, mas sobretudo o nível de convencimento que o interlocutor tem naquilo que está dizendo. 

O texto começa exatamente assim e segue na mesma linha, mas não vou impingi-los ao restante. Sem nenhum carinho (o teor a seguir demonstra o quanto a “paz do senhor” está distante desse texto), o autor que não se identifica parte para a conclusão simplista e absurda que ele não tem somente uma boa resposta para a questão; ele tem a resposta definitiva, demonstrada com o perigoso e tão cristão “não há conversa”! Então você até pode pensar, como um exercício de boa fé (sic), “vou ver o que diz esse tal versículo”.

Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; abominação é. (Lev. 18:22)

E é isso. A resposta para uma questão legislativa de uma prática num estado laico em pleno século XXI vem de sabe-se lá quem na forma de uma palavra que tem tanto significado e pertinência no contexto quanto mamão papaya: abominação! Ao que tudo indica, o autor sequer esconde sua vergonha em proclamar algo tão descabido com tamanha estupidez.

Ora, basta uma rápida olhada no mesmo e gentil Levítico para saber que seu conceito de abominação é no mínimo curioso: comer um inseto que voa ou anda em quatro patas? Não pode. Por que? São uma abominação (Lev. 11:20). E aquela saída pra ir no seu restaurante japonês preferido? Esqueça. Frutos do mar sem escamas ou barbatanas (Lev. 11:12) também são. Comer répteis que rastejam ou andam em quatro patas (Lev. 11:41)? Nem preciso dizer. Além do mais, se tocar em um deles já morto pela manhã, você estará impuro até... à tarde (Lev. 11:31).

Como se nota, o legislador se preocupa com coisas extremamente importantes. Mas, como todo bom humano, ops, tem lapsos... É permissível ter escravos, desde que sejam de nações vizinhas (Lev. 25:44); adultério, normalmente punido com morte, é convertido em açoite se a mulher for escrava (Lev. 19:20), o que abre a discussão se é porque ela teria menor valor, ou porque daria prejuízo ao seu possuidor. Além disso, mulheres menstruadas não podem ser tocadas por risco de tornar imundo quem o fizer [!] (15:19), e flagrantemente valem menos que os homens (27:7), etc, etc, etc... e bota eteceteras nisso.

Devia estar claro pra qualquer um que a palavra abominação não tem o mesmo significado que tem pra nós hoje... e mesmo que tivesse, quem se importa? Que base moral possui alguém que legitima a escravidão para legislar sobre a vida de quem quer que fosse naquela época? E pior, seus ecos ainda perdurarem nos nossos dias atuais?

Não, meu caro autor desconhecido (desconfio porque), temos muito o que conversar sobre seu pequeno versículo sem noção. Se você quer colocar a coisa na perspectiva correta, sugiro que observe essa literatura como um retrato de quem a produziu: povos que vagavam pelo deserto sem conhecer nada além do limite das montanhas que visualizavam no horizonte. Suas sociedades eram coalhadas de pretensos profetas e messias, e todos querendo justificar seus próprios interesses em nome do sagrado, exatamente porque sabiam que as pessoas como você, crédulas sem um senso crítico, defenderiam indireta e cegamente seus interesses. Acreditar nisso naquela época já era absurdo; fazer isso hoje, sabendo o que sabemos, não tem nome ainda.

Esse medo, essa insegurança crônica que religiosos depositam na opção individual é altamente suspeita pra mim. Sempre foi. Ainda que os mecanismos de tortura física existam em toda nossa história e sejam maldosamente engenhosos em causar dor, não se comparam nem de longe à tortura psicológica imposta por esse tipo de pensamento, que é muito mais refinada. Nela, crer estar fazendo a vontade de deus faz com que pais rejeitem os filhos tranquilamente, comunidades excluam do seu convívio membros que sob qualquer outro aspecto são decentes e honestos; e tudo por causa desse dogma atrasado a que estamos sendo sujeitos. Diariamente, vejo religiosos invadindo minha casa pela tevê berrando sobre os desígnios que ele jura conhecer, para dizer que duas pessoas honestas e com um sentimento sincero não podem coexistir em nosso meio porque “é uma afronta ao senhor”.

Estou honestamente cansado disso. É uma afronta à nossa inteligência, isso sim, permitir que vigaristas disfarçados de pregadores, se excludentes, queriam controlar as massas de ignorantes com base na sua vaidade ou na leitura grotesca que fazem do que dizem ser a vontade divina.

Então, faça um grande favor a nós todos enquanto espécie: se quiser "sair do armário", saia; se quiser continuar a conversar murmurando com seu amigo imaginário diante de um muro, no silencio do seu quarto, sozinho ou acompanhado, tudo bem. Mas, de uma vez por todas, deixe a vida das outras pessoas em paz.

quarta-feira, 1 de junho de 2011