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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Christopher Hitchens 1949–2011





O mundo ficou definitivamente mais triste essa semana: faleceu o jornalista, crítico, ativista político e intelectual, Christopher Hitchens. Sua retórica impressionantemente precisa, embasada, bem estruturada, dividiu seus opositores entre o escárnio dos obtusos e a admiração dos pensantes. Na vida, errou muitas vezes; alcólatra confesso, fumante inveterado, seu corpo finalmente deu sinais de falência.

Porém, seu espírito vivo e combatente foi uma demonstração pública de uma coragem com paralelos dificilmente vistos. Seu translado nesse planeta foi determinante para a transformação da vida de inúmeras pessoas que estavam ocultas sob o véu da ignorância, e que ele constantemente atacou de frente, sem rodeios. Nunca invejou o consolo dos crédulos e teve a ombridade de sustentar isso em alto e bom som. Em parte por conta do seu trabalho, a crença sem provas que põe no mesmo nível deuses tão diferentes só demonstram ainda mais o caráter especulativo sob o qual essas crenças são construídas. 

Jornalista de fronts de batalhas in loco, expos as farsas por trás de várias das guerras recentes, como a da Bósnia e Sarajevo. Mas foi sobretudo as guerras ideológicas que travou as que mais pessoas beneficiou. Demonstrou através de relatos e documentos a farsa da figura de Madre Teresa de Calcutá, aclamada mundialmente como exemplo de bondade, mas que não tratava de nenhum dos doentes com a medicação necessária. Empilhados em colchões no chão como um depósito humano, essas pessoas só tinham o consolo da oração.



Agora, passados seus 62 anos, Hitchens entra definitivamente na história como um homem cuja trajetória ensinou a recusar a mentira que conforta, a negar a satisfação com algo que não explica nada, como as pessoas religiosas tanto se habituaram. Sua imagem continuará reluzente em vídeos e livros espalhados pelo planeta, e suas palavras continuarão a ser ouvidas. A única imortalidade que sabemos ser efetiva, a de permanecer na memória daqueles que ficam, essa ele tem de sobra. E eu sinto-me feliz de ter sido seu contemporâneo por algum tempo, ainda que nunca o tenha conhecido.