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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A futilidade e outras coisas...

Sob muitos aspectos, manter um blog como esse requer um pouco de tempo, uma pequena dose de paciência e um pouco de cuidado com aquilo que escreve e publica, especialmente se você se importa ao menos um pouco com a forma pela qual será lembrado. Ainda assim, nada é mais sintomático da liberdade de expressão hoje em dia que a imensa proliferaçãode blogues como esse aqui; pessoalmente, o simples espaço que se abre para alguém como eu (mais um nessa multidão) se expresse é prova de uma de nossas grandes conquistas recentes.

Mas, somos, como tenho dito algumas vezes aqui, uma espécie paradoxal; muitas dessas nossas conquistas são geralmente acompanhadas de efeitos colaterais ou resultados inesperados. Nossa história como espécie não é uma linha reta, mas é feita de avanços e retrocessos.

Tome o ambiente virtual como exemplo. Foi uma conquista que como disse, permite a livre expressão, quebra tabus e preconceitos (apesar de alguns acharem que a "revolução não será clicada", numa clara alusão que não devemos esperar muita coisa desse tipo de mídia interativa), etc. Mas ele também afasta as pessoas; a tela do computador é uma janela de um mundo conectado em rede que fecha nossas portas do mundo real. Neste lugar, nos acostumamos a observar e ser observados, a participar de joguinhos de comportamento que nos fascinam pela manobra lúdica dos recursos e cliques de mouse. No fim e sem perceber, perdemos o gosto pela realidade factual.

Esse coletivo de atitudes e rostos sem nomes, nem formas, nem toques, molda sob vários ângulos toda uma geração que "se antena" no que acontece em vários locais ao mesmo tempo, que tem acesso à maior quantidade de informação disponível em nossa história, mas de que faz um uso extremamente superficial. E estamos rodeados de exemplos que sinalizam isso.

Que diabos é o Twitter, senão o exercício maior de nossa, digamos, futilidade? Um ambiente fruto de uma ilusão visual de códigos e números que a máquina codifica e decodifica o tempo todo, e que é usado pra transmitir desde as coisas mais banais, tipo "vou ao banheiro", "passando roupa", passando por sensações momentâneas em que uma pequena baixa de ânimo gera comentários como "triste!!" ou "minha vida tá uma droga". Mas basta alguns minutos para que uma mudança nesse perfil indique que está tudo bem, que o problema a que se aludia esvaneceu-se. E de novo, tristeza, e alegria por extensão, vão se redefinindo enquanto palavras que simbolizam uma sensação que é, me parece, cada vez menos consistente...

E os exemplos pipocam de todos os lados: o caso envolvendo uma pretensa declaração do Maradona e o jogador Neymar foi um deles; de repente, todo mundo só falava disso, o brasileiro apressou-se em uma retratação por não ter feito nada a um Maradona que não disse coisa nenhuma. Quando suas vozes foram ouvidas e tentou-se descobrir quem tinha começado o boato, ninguém sabia. Foi um rastilho de pólvora que "correu o mundo", movimentou (e estressou) pessoas diferentes que provavelmente não se conheciam, mas que todas as pessoas habituadas a esse jogo seguem a massa sem sequer um único questionamento. E esse tipo de falsa informação normalmente vem acompanhado de um "segundo tal pessoa" e coisas do genero. Como se dizia Wiston Churchill, e agora mais do que nunca, uma mentira dá a volta ao mundo sem que a verdade tenha tempo de calçar as sandálias (ou algo assim...).

Honestamente, apesar de admitir a grande facilidade disso tudo,  e de concordar que provavelmente não viveríamos sem, sinto falta às vezes da telha de barro, do terreno em volta da casa, dos livros em papel e dos encontros entre pessoas num café ou na casa de alguém.