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sexta-feira, 30 de março de 2012

Reiki = BABOSEIRA

Para os que ainda acham que essa embromação é verdadeira, um bom artigo sobre Reiki e seus resultados completamente nulos. Direto do Bule.

[abre aspas]


Quando a superstição consegue se passar por ciência: o Reiki

Fonte: Campelog
Autor: Felipe Campelo
Editor: Eduardo Patriota Gusmão Soares
Reiki - o poder da impostação das mãos 

Introdução: Para entender as alterações biológicas do reiki, o psicobiólogo Ricardo Monezi Julião de Oliveira testou o tratamento em camundongos com câncer. “O animal não tem elaboração psicológica, fé, crenças e a empatia pelo tratador. A partir da experimentação com eles, procuramos isolar o efeito placebo”, diz. Para a sua pesquisa de mestrado na USP, Monezi escolheu o reiki entre todas as práticas de imposição de mãos por tratar-se da única sem conotação religiosa.

Depois de sacrificados, os animais foram avaliados quanto a sua resposta imunológica, ou seja, a capacidade do organismo de destruir tumores, de acordo com o tratamento recebido (impostação x placebo). Os resultados mostraram que, nos animais do grupo “impostação”, os glóbulos brancos e células imunológicas tinham dobrado sua capacidade de reconhecer e destruir as células cancerígenas.
Isso me impressionou, confesso. Como um trabalho assim é aprovado numa banca de mestrado da USP? Assume-se que o trabalho tenha atendido às exigências da academia e seu conteúdo seja válido e procedente. Mas, talvez, a banca examinadora não tenha conhecimento de diversos trabalhos já feitos na área. Antes de começar a montar uma pesquisa a respeito, Fábio Campelo escreveu em seu blog um breve texto refutando alguns pontos centrais da pesquisa, bem como nos trouxe referência de muitos estudos que apontam para resultados inconclusivos ou definitivamente nulos quanto à eficácia do reiki.

Um ótimo texto para quando você precisar discutir com os terapeutas “alternativos”.

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Antes de passar à discussão, convém definir o que é Reiki. De acordo com o artigo da Wikipédia(a) (traduções e grifos meus):
(Reiki é uma prática espiritual desenvolvida em 1922 pelo budista Japonês Mikao Usui. O Reiki utiliza uma técnica comumente conhecida como cura pelas mãos como uma forma de medicina alternativa e complementar, e é ocasionalmente classificada como medicina oriental por entidades profissionais. Através do uso desta técnica, o praticante de Reiki afirma poder transferir energia curadora, na forma de ki, através das palmas das mãos.)

Em outras palavras, o praticante de Reiki abre as mãos sobre uma determinada parte do corpo, se concentra, e afirma poder manipular ou transferir energias vitais para o paciente, de forma tratar e curar as mais diversas moléstias. Isto torna o Reiki parte de uma corrente conhecida como Vitalismo, cuja premissa é a existência de algum tipo de energia vital que pode ser manipulada ou alterada por adeptos ou praticantes de certas artes. O fato de nenhuma destas energias vitais – ou seus efeitos – jamais terem sido observadas de forma objetiva em mais de 200 anos de investigação científica (Ben Franklin e outros cientistas já investigavam uma modalidade de vitalismo conhecida como magnetismo animal no final do século XVIII, com conclusões fortemente negativas) coloca a plausibilidade prévia deste tipo de modalidade em um valor bastante baixo. Para maiores informações, sugiro ler aquiaqui,aquiaqui, e principalmente aqui (este último fala de Emily Rosa, a pessoa mais jovem a publicar um artigo no prestigioso Journal of the American Medical Association, descrevendo o protocolo e testes utilizados para examinar uma modalidade conhecida como toque terapêutico, extremamente similar ao reiki).

Reiki na Literatura Científica
Suponhamos entretanto que possamos ignorar o fato de que estas energias jamais foram detectadas e que não há qualquer plausibilidade fisiológica ou física para sua existência. Dezenas de estudos foram realizados para testar a eficácia do Reiki (e outras modalidades de vitalismo) ao longo dos anos. O que a literatura médica tem a dizer quanto a isto?

Uma revisão da literatura publicada em 2008[1] examinou 205 estudos potencialmente relevantes utilizando Reiki para o tratamento de uma série de moléstias. Dentre estes 205 estudos, apenas 9 possuíam os critérios mínimos de qualidade metodológica para inclusão na análise (randomização, cegamento duplo, descrição detalhada do protocolo utilizado, etc.). Os critérios de seleção empregados na revisão foram:

(Testes randomizados e controlados foram incluídos no estudo nos casos onde o estudo foi conduzido em humanos, tanto recebendo somente reiki quanto reiki associado a uma modalidade convencional de tratamento. Testes onde o reiki foi comparado contra qualquertipo de grupo controle foram incluídos. Testes onde o reiki foi utilizado como parte de intervenções complexas [N.T.: isto é, em associação com muitos outros fatores ou tratamentos] foram excluídos. Estudos onde o objetivo era desenvolver metodologias dos procedimentos de reiki, sem variáveis clínicas de resposta definidas, foram excluídos. Aqueles que não reportaram dados ou comparações estatísticas também não foram utilizados. Restrições de língua não foram impostas. Dissertações e resumos foram incluídos. Cópias impressas de todos os artigos foram obtidas e estudadas completamente.)

Após o agrupamento dos dados e subsequente análise dos dados, os autores concluíram:

(Concluindo, a evidência é insuficiente para afirmar que o reiki seja um tratamento efetivo para qualquer condição. Assim sendo, o valor do reiki [N.T.: enquanto terapia] permanece sem provas.)

Em uma outra revisão da literatura publicada no próprio Journal of Alternative and Complementary Medicine[2] (que não é sequer um dos mais rigorosos em termos de evidência) concluiu que:

(As severas limitações metodológicas e de publicação dos escarsos estudos existentes sobre reiki não permitem alcançar qualquer conclusão definitiva a respeito de sua eficácia.)

Outros estudos de grande volume a respeito do uso de reiki para intervenções diversas foram organizados pelo National Center for Complimentary and Alternative Medicine, e são listados no NCCAM Watch. Os resultados obtidos também são pouco animadores:

Reiki para tratamento de fibromialgia:
Encerrado em 2005.
Conclusões: reiki não foi considerado eficaz no tratamento de fibromialgia.

Reiki em pacientes com AIDS em estágio avançado:
Concluído em 2003.
Conclusões: os resultados não foram publicados na literatura (o que já diz muita coisa).

Reiki para neuropatia dolorosa e fatores de risco cardíaco:
Concluído em 2004.
Conclusões: os resultados não foram publicados na literatura (de novo, já diz muita coisa).

Qualquer um familiar com a literatura científica, e em particular com a literatura médica, consegue entender claramente o que está implicado em todas estas conclusões: a despeito dos quase 90 anos de prática, não há na literatura nenhuma evidência que o reiki funcione melhor que um placebo similarmente aplicado, e que qualquer efeito específico se deve à sugestão do paciente (ou à autosugestão do praticante). Mais recursos para o leitor interessado podem ser encontrados aqui (em texto) e aqui (episódio 29 do excelente podcast Quackcast).

Os Experimentos da Revista Galileu
Mas e os experimentos descritos na reportagem da Galileu? Não representariam uma nova vertente na pesquisa do reiki? (a esta altura, o leitor observador já deveter percebido quepesquisa do reiki provavelmente é uma área tão científica quanto aerodinâmica de unicórnios). Bem, como diria Mark Crislip, lets look at the facts:

A reportagem trata principalmente dos experimentos do psicobiólogo (!) Ricardo Monezi a respeito dos supostos efeitos do reiki em ratos com câncer induzido. Nas palavras de Monezi:
“O animal não tem elaboração psicológica, fé, crenças e a empatia pelo tratador. A partir da experimentação com eles, procuramos isolar o efeito placebo”
Reiki (quase um Hadouken)
Monezi, que segundo seu CV Lattes trabalhou com metodologia experimental, de cara já coloca uma afirmação que não é tecnicamente verdadeira: animais estão sujeitos *sim* a efeitos similares ao placebo! Este fenômeno é conhecido já há bastante tempo na pesquisa veterinária e médica, e é muito bem explicado aquiaqui e aqui. De forma breve, o placebo não precisa ocorrer necessariamente no indivíduo (humano ou não) receptor do tratamento. No caso de pesquisa com animais, por exemplo, estudos que não sejam duplo-cegos (ou seja, onde o animal de teste não sabe se recebeu tratamento ou controle, mas o administrador da intervenção sabe), observação seletiva e tendências pessoais (a famosa e quase inevitável tendência à confirmação) são praticamente garantidos.

Há outras formas através das quais efeitos similares ao placebo podem ocorrer em pesquisas com animais, mas não vou me alongar demais nisto: quero chamar a atenção aqui é para o fato de que, de acordo com o que podemos inferir da reportagem, os experimentos de Monezi carecem exatamente do tipo de controle duplo-cego que menciono acima, o que – como expliquei – abre as portas para a infiltração de todo tipo de tendência pessoal nos dados.

A métrica de avaliação dos resultados descrita (capacidade do organismo de destruir tumores) é vaga o bastante para não permitir uma discussão mais a fundo em relação a este aspecto. Quaisquer que sejam as especificidades da métrica utilizada, entretanto, o não-cegamento do experimentador invalidaria completamente o protocolo experimental utilizado.

Outra razão para uma saudável dose de ceticismo é o fato de o trabalho descrito na reportagem não ter sido publicado em nenhuma revista científica com revisão por pares – muito menos naquelas em que resultados tão impressionantes como os relatados deveriam estar – JAMA, NEJM, talvez até a Nature. Embora o pesquisador tenha defendido sua dissertação de mestrado sobre o assunto, o fato de seus resultados não terem sido publicados na literatura técnica especializada (onde estariam sujeitos às críticas e comentários da comunidade científica em geral) não costuma ser um indicador de qualidade em pesquisa.

Examinando um pouco mais de perto a dissertação do Ricardo Monezi (onde os experimentos comentados na Galileu são relatados), observei alguns outros aspectos perturbadores:

1) a revisão da literatura em terapias energéticas é feita de forma completamente crédula, sem nenhuma referência a trabalhos refutando estas modalidades (como, por exemplo, o da Emily Rosa no JAMA);
2) o tamanho amostral utilizado (20 indivíduos/grupo) foi pequeno o suficiente para que flutuações estatísticas pudessem ser significativas, mesmo descontando os outros problemas metodológicos;
3) como eu havia suspeitado, na descrição da metodologia utilizada não há nenhumamenção ao cegamento dos experimentadores ou dos responsáveis pelas análises posteriores. Ao contrário, a descrição do procedimento inclui as seguintes imagens, também reproduzidas na reportagem da Galileu:
Fotos do experimento com Reiki
Nem sinal de cegamento do experimentador

4) não há também nenhuma referência a medidas para prevenir contaminação cruzada das amostras;
5) O teste estatístico utilizado (Student t) requer a satisfação de premissas fortes, que não foram validadas durante ou após a análise estatística (normalidade, igualdade de variâncias, independência das amostras).
5.a) Nota 1: os dados reportados na dissertação me permitiram verificar a premissa da normalidade para a maioria dos conjuntos. Entretanto, a premissa de isoscedasticidade – isto é, igualdade de variâncias – foi violada brutalmente em todos os testes realizados, o que possivelmente implica na não-validade do teste-t utilizado, a menos que precauções extras tenham sido tomadas – o que não foi reportado no texto.
6) Ainda na parte da análise estatística: o autor falhou em corrigir seus valores de significância para múltiplas hipóteses. Além disto, o trabalho testa uma grande quantidade de hipóteses mal-definidas, frisa aquelas onde anomalias foram observadas, e busca – na discussão final, a posteriori da execução dos experimentos – ajustar quaisquer conjecturas às observações, o que é uma prática falaciosa de análise conhecida como caça por anomalias;

Conclusões

Os experimentos e resultados relatados na revista Galileu não fornecem evidências suficientes para quaisquer afirmações a respeito do efeito do Reiki em ratos com tumores. A literatura médica possui refutações bastante definitivas desta prática, tanto de um ponto de vista de plausibilidade biológica quanto de efeitos clínicos. Reiki é uma modalidade de pensamento mágico pré-científico, e pessoas deveriam gastar seu tempo ou dinheiro com coisas mais produtivas e eficientes.
Para aqueles que tem o hábito de argumentar que “pelo menos não faz mal”, sugiro uma consulta cuidadosa aos arquivos do What’s the Harm.

(a) - Em tempo: o artigo da Wikipédia em Português é escrito a partir de um ponto de vista completamente crédulo em relação às medicinas alternativas em geral, e ao Reiki em particular. O artigo equivalente na Wikipedia em Inglês, geralmente muito mais bem embasada, traz uma seção sobre a completa falta de validade do Reiki de um ponto de vista científico.


[1] M. S. Lee, M. H. Pittler, E. Ernst, “Effects of reiki in clinical practice: a systematic review of randomised clinical trials“, International Journal of Clinical Practice 62(6): 947–54, 2008.
[2] S. vanderVaart, V.M.G.J. Gijsen, S.N. de Wildt, G. Koren, “A Systematic Review of the Therapeutic Effects of Reiki“, The Journal of Alternative and Complementary Medicine 15(11): 1157-69, 2009.

[fecha aspas]





Meu comentário

Não acho que quem acredita vá se deixar convencer por esses argumentos, e não pela credibilidade que eles tem; a questão aqui é exatamente o oposto. Quem acredita que Reiki funciona, não quer saber de argumentos, especialmente se eles demonstram a falácia que o movimento é.

Então, acho que esse artigo é bacana para as pessoas que pagam por esses tratamentos e acham que isso trará algum benefício. Faça um favor a si mesmo: guarde seu dinheiro para um bom médico, se é o que precisa.

Proselitismo...

Passei um bom tempo sem publicar o que quer que fosse aqui; sem internet, em lugar estranho é osso pra qualquer um. Por outro lado, agora deu uma estabilizada, e como venho acompanhando as notícias pela internet, esbarrei como de costume nesses problemas cotidianos que surgem no embate de ideias, ou de ideias e maluquices, se você preferir.
 
Começando pela ideia infeliz, pra dizer o mínimo, de uma professora de história no ABC paulista que usava vinte minutos diários da sua aula para...orar.


E como desgraça pouca sempre é bobagem, acabou que o primeiro que ousou não participar da oração porque era de outra denominação, foi exposto a bullying pelos próprios colegas. E pra piorar ainda mais,  a professora era de história. Você pode achar que não tem nada a ver ela dar aulas de história e que isso não vem ao caso, porque seria o mesmo se ela desse português ou matemática. Mas não é. Como professora de história ela deveria ter algo que as pessoas comuns não tem, que é o conhecimento dos erros no passado; ter ao menos ciência do que o movimento religioso realmente representou e representa na sociedade. O que ela ensinava quando tinha de falar sobre a Peste Negra, a Inquisição, o massacre dos huguenotes, o Holocausto? Que aulas de história eles estavam tendo afinal?? Se o que se ensinava ninguém sabe, sabe-se por outro lado que ela ameaçava dar zero a quem não orasse. Um exemplo didático que deixaria o ditador mais sorrateiro e hipócrita com inveja.

O trofeu dos sem noção ainda aguarda porque tem mais gente na fila; e como tem. Uma psicóloga do Paraná resolveu que não há distinção entre a igreja que frequenta e o consultório onde exerce a profissão. Resolveu nadar na contramão do que é considerado consenso entre todos os seus pares (laicos), e afirmar que homossexualismo é doença. Quando confrontada pelo Conselho de Psicologia, delirou abertamente ao dizer que estava sendo vítima de um complô ateísta. "Vítima" é uma palavra alegórica aqui e você verá muitos religiosos a usando para sua defesa, enquanto achacam os verdadeiros perseguidos nessa história toda.

Nos posts que coloca no Twitter, ela pede auxílio da oração de outros fiéis, diz que essa é uma provação que o diabo lhe impõe, além do que seu trabalho é "a ciência de Deus (...) Seu código de ética é a Bíblia. Seu psicólogo, Jesus. Seu juramento, “Eu voltarei”". Ou seja, você paga uma consulta à psicóloga para tratar de problemas reais, e acaba levando de brinde uma enxurrada dos seus delírios pessoais, incluindo toda uma pleiade de códigos e amigos que, sendo imaginários, só ela vê, ouve e conversa.
 
Mas quando se refere ao Conselho que deveria prestar contas, a santidade dos seus argumentos rapidamente se turvam para dar lugar ao que na verdade eles aparentemente escondem: o preconceito grosseiro e rasteiro, a arrogância e a infantilidade.  

 

Note que ela clama por alguém "macho", um termo que seria discutível nesse contexto para qualquer pessoa, mas que no de uma psicóloga é praticamente um absurdo. Além do que, ela demonstra ou quer fazer crer aos outros que o fato que parece importar aos seus "acusadores" não é a sua falta de compostura profissional, mas o quanto sua crença os incomoda.

O que esses casos tem em comum é simples de identificar; são pessoas, macacos pelados como eu e você, que um dia alguém botou na cabeça que estavam destinados a serem balizas morais dos outros. O que isso quer dizer é o de menos para quem desenvolve esse tipo de patologia. Para chegar a esse ponto, tiveram de abandonar completamente o bom senso, o senso crítico, sem falar, claro, no famoso e tão útil nesses casos, o senso de ridículo. Trocaram os questionamentos que nos deram os alicerces da civilização moderna pelo jogo de pique-esconde e o ta-ti-bi-ta-te metafísicos.

Essas pessoas deixam ver mais de si mesmas do que gostariam através da sua atitude. São pessoas que sofrem de algum tipo de carência gigantesca, e tem uma necessidade deprimente de se sentirem importantes, destemidas, heróicas; mais ou menos como as histórias de mártires que ouviram no passado.

Não gosto de crianças mal educadas, mas definitivamente, ver pessoas adultas falando como crianças é de dar azia em qualquer um. Façamos o seguinte: quer pregar? Vá para a igreja, onde as pessoas pretensamente vão para ouvir coisas desse tipo. Agora, não use sua posição social para impingir suas crenças e fantasias, porque diferente do que essas pessoas pensam, eu não preciso ser salvo. Sou um cidadão livre, com direito a acreditar no que eu quiser sem ser importunado, mas acima de tudo, eu mereço ser respeitado por isso, deixando os espaços públicos livres de delírios pessoais.