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domingo, 13 de novembro de 2011

Sobre Manaus e Imaruí...

O blog de Luis Nassif publicou hoje uma matéria de sua autoria intitulada "Primavera em Manaus".  Dividida em sete capítulos, ela narra como a truculência e o coronelismo ainda dominam as relações políticas em nosso país. Uma médica grávida de oito meses perseguida sem cessar por um radialista patético porque ousou protestar contra uma taxa  de coleta de lixo. Essa história infame é a faceta visível de um esquema mais profundo que mescla apadrinhamento político, favorecimento ilícito e até pedofilia.

A matéria é estupendamente bem escrita e demonstra, passo a passo, como o radialista Ronaldo Tiradentes e seus comparsas achacam os que ousam pensar que são livres em terra de tiranos.

Seguem os links:

A Primavera de Manaus

Twitteiros versus coronéis da selva.
A fonte de poder dos coronéis regionais.
As primeiras represálias ao movimento.
O radialista que amava Roberto Carlos.
A invasão do posto de saúde.
A suspensão com base em um documento falso.
O terror no jogo político do Amazonas.


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Esse tipo de acontecimento expõe a real situação em que vivemos; ele demonstra que o sistema político que temos é fruto direto da nossa atitude como pessoas sem consciência do que é um sistema democrático. A esse respeito, lembro de uma frase de George Carlin, um grande humorista norte americano que já estrelou outros post aqui no blog. Segundo ele, tendemos a pensar que políticos são criaturas diferentes so que somos, que se materializam em nossa realidade vindas de um outro lugar, como uma outra espécie.

Não são.

São pessoas como eu e você, que elegemos para nos representar, embora não seja difícil demonstrar como essa representação é fraudulenta (porque não funciona) e, ao mesmo tempo, justificável. Conheço muitas pessoas que falam demonstrando conhecimento dos desmandos na política. Porém, muitas delas parecem no fundo lamentar não ser elas e estar lá, fraudando, recebendo sem trabalhar... enfim, não me espanta que sejamos governados por imbecis.

 
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Imaruí - Os fatos sobre a capital nortista me fizeram lembrar da minha cidade ao sul de Santa Catarina.  A "pequena jóia" (que é como a chamamos) foi mais um dos tantos redutos espalhados pela país governados por clãs familiares durante boa parte da sua história e que distribuíam migalhas como se fosse banquete aos miseráveis. Fazendo o mínimo do que deveriam mas alardeando como se fosse um favor, eles posavam numa clara atitude paternalista, favorecendo correligionários e sufocando as vozes discordantes.

Num lugar desses, se você não é da "situação" vê seus direitos se esvairem na sua cara, as portas se fechando nos momentos mais inusitados e pelos motivos mais absurdos; eu mesmo fui preterido em no mínimo três oportunidades diferentes de trabalho por pessoas claramente menos qualificadas, mas que eram conhecidos de pessoas ditas influentes.

 Em matéria do Diário Catarinense (23/10/11, pág. 10) sobre a polêmica aposentadoria em massa dos funcionários da Assembléia Legislativa de SC em 1983, há um texto sobre Imaruí que apenas ratifica o que todos que moram ou moraram lá sabem: se não for "carneiro", esqueça. Assim era como chamávamos os que se beneficiavam do esquema. A matéria informa que o sobrenome Bittencourt pairou incólume na administração da cidade de 1930 a 1996 (com pausas para aliados de outros sobrenomes, o que dá no mesmo).
E embora seja ruim só a concessão do beneficiozinho aqui, o jeitinho ali aqui, o problema é mais profundo. O pior é o sistema viciado que criou pessoas com um sistema moral parcial e que não via nada de errado no fato do seu filho ser indicado sem lisura alguma ao que quer que fosse, e muitas vezes à revelia das suas escassas capacidades. E na tentativa de manter o que julgavam um direito adquirido, vi muitos amigos em contendas banais, infantis e sem fundamento. Os "carneiros", sem ter do que rotular os outros, resolveram chamá-los de "porcos", talvez sinalizando que o quinhão deles deveria ser as sobras. E assim seguiram, como numa fazenda, degladiando-se por quem tinha mais espaço no cocho.

Campanhas eleitorais eram uma época triste; amigos por anos a fio dividiam-se em dois times como torcidas fanáticas disputando o que julgavam a cereja do bolo. Ânimos inflamados, fogos de artifício no telhado alheio, a desgraça de sempre.

Mas cidades como Imaruí não são únicas e pipocam no interior do Brasil, em situações que variam de mais brandas a muito mais críticas. Esses pequenos feudos terminaram criando massas de pessoas sem consciência política adequada, divididos quando deveriam estar unidas pelo bem comum, sorrindo orgulhosos quando conseguem lamber os farelhos no tapete sem saber que pagaram a conta pelo banquete completo...