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terça-feira, 8 de março de 2011

Audições na OSB 3

A mensagem de Paulo Bosísio sobre o fato, divulgada no blog do Nassif.


"Mensagem do violinista Paulo Bosisio.
by Antonio J Augusto on Friday, March 4, 2011 at 7:22pm

Mesmo não integrando o quadro de instrumentistas da Orquestra Sinfônica Brasileira, minha relação com aquele conjunto já vem de 1966 , quando solei como jovem concertista, sob a regência do então Titular Maestro Karabtchewsky. Retornando da Europa, apresentei-me diversas vezes na serie oficial da OSB, em cujo corpo integram hoje, não só antigos e novos colegas, como também alunos e ex-alunos.

Participante ativo da vida musical de nosso país fui surpreendido pela noticia de um possível teste de avaliação interna nos quadros daquela orquestra, de natureza estranha, no mínimo. Estranha por não ter eu presenciado tal procedimento nos oito anos de minha permanência na Suiça e Alemanha, estranha por não poder avaliar os músicos da orquestra por suas maiores qualidades - a experiência profissional e o convívio harmônico com os colegas - ,estranha pelo seu tom autoritário.

A ideia de que a OSB-Jovem, onde também tenho alunos, possa por um espaço de tempo suprir a ausência da OSB profissional, é absurda. Aquela orquestra jovem deveria estar cumprindo a missão de orquestra escola, como foi a antiga Orquestra Juvenil do Teatro Municipal, sob a regência do maestro Hack, que ofereceu ao cenário sinfônico carioca os seus melhores músicos profissionais. Para ter este perfil, deveria trabalhar com um repertório compatível com o nível existente, o que definitivamente não é o caso.
Voltando aos profissionais cito, para quem não sabe, que o grande violinista Arnold Rosé, spalla da Opera de Viena sob a regência de Mahler, ocupou durante 57 anos aquele posto, não sendo obrigado a passar por qualquer prova de avaliação. Foi afastado pelos nazistas austríacos.
A ideia de avaliação interna é deplorável e humilhante. Mas se assim fosse a filosofia, por que não avaliar o maestro? Não é músico também? É uma questão de coerência.

Paulo Bosisio.

Paulo Bosísio ocupa a Cadeira 08 na Academia Brasileira de Música."


PS: Em tempo, segue link do jornal O GLOBO, com matéria mais recente sobre a discussão.

Audições na OSB 2

Posto aqui a resposta à carta aberta de Alex Klein por John Neschling em seu blog Semibreves.

"A deselegância de Alex Klein

Como sabem meus leitores, uma das razões pelas quais criei esse blog foi a minha decisão de não permitir mais que ataques me sejam feitos sem que eu possa me defender. Hoje, li a carta aberta que o oboísta e atual maestro Alex Klein enviou ao maestro Roberto Minczuk, em razão das audições marcadas para os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira. A carta é de uma deselegância ímpar em relação a mim e também ao maestro Minczuk, a quem Klein se dirige como se fosse um veterano na regência. Alex Klein é um excelente músico, mas jamais fez nada parecido ou próximo do que deixei realizado no Brasil. Sua passagem pela direção do Teatro Municipal de São Paulo foi fugaz e estéril, e nem por isso ele foi vítima da deselegância que hoje ele utiliza  na sua tentativa de ser parceiro de outro maestro, e ao mesmo tempo partidário dos músicos da orquestra.
Comparar as atuais audições da OSB com as que realizei  durante a minha gestão frente à OSESP  é fora de propósito. As audições foram feitas com outros critérios, outros objetivos e  e sobretudo,  após longas negociações com a comissão da orquestra e a anuência da grande maioria dos músicos. Sem falar que elas foram programadas no início da minha gestão.
Alex afirma que essas audições deixaram cicatrizes profundas, que até hoje afetam os músicos. O que elas deixaram, sim, foi uma orquestra que, com menos de  dez anos de trabalho, já estava ganhando o Grammy. Quando saí da OSESP  a prestigiosa revista inglesa Gramophone a incluiu como digna de nota na matéria sobre as vinte melhores orquestras do mundo.
Curioso Alex mencionar o cenário internacional das orquestras para discutir o contexto brasileiro. Como se o Brasil, em 1997, tivesse a mesma tradição e os mesmos 150 anos de história da Filarmônica de Berlim nas costas. Quando cheguei ao Brasil, em 1997, Alex era oboísta da orquestra de Chicago porque no Brasil não havia orquestra à qual ele pudesse entregar seu talento. Naquela época, para quem não se lembra, os músicos da OSESP, ensaiavam num restaurante e podiam até mesmo ler jornais durante os ensaios. Mais do que construir uma orquestra, eu imprimi uma cultura de qualidade e de disciplina, e se fiquei com a pecha de autoritário e ditador, foi por conta de atitudes deselegantes e conservadoras como a de Alex, que na época em que fui diretor da OSESP, ia a meu camarim dizer coisas muito diferentes do que diz hoje em carta aberta.
Dizer que em 1882 os músicos da Filarmônica de Berlim iniciaram a sua luta por melhores condições de trabalho  é citar exemplos fora da nossa realidade.  A OSESP reestruturada não tem nem 15 anos.  Klein parece que esqueceu disso e vem agora com exemplos de 1882. Durante toda a minha atuação à frente da OSESP minha preocupação não foi só quanto à qualidade artística. Enquanto Alex Klein tocava nos USA e ganhava em dólares, sem pensar em voltar ao Brasil, eu batalhei pelo aumento dos salários dos músicos brasileiros em reais e para dar-lhes uma condição de trabalho digna e luxuosa, comparável a qualquer grande orquestra do mundo, inclusive a de Chicago, onde Alex tocava.  Quando deixei a OSESP estava iniciando uma batalha para conseguir um plano de previdência privada para os integrantes da Fundação OSESP e havíamos incluído o seguro saúde nos seus salários. O que fez Alex Klein pelo músico brasileiro?
Nesse episódio da OSB, me manifestei a favor da orquestra e coloquei meu blog à disposição para a divulgação das ideias da Comissão dos Músicos. Posicionei-me em relação à crise, da mesma forma como venho comentando a realidade de diversas  outras orquestras da América Latina.
Citar grandes empresas e comparar suas políticas  administrativas à gestão  de uma orquestra sinfônica, como faz Alex,  é típico de quem nunca fez nada no campo da gestão artística além de pequenas empreitadas regionais . Uma orquestra não produz suco de laranja, petróleo nem aviões, e seus músicos não devem ser encarados como burocratas ou fornecedores. Sempre me bati contra essa mentalidade reducionista. Antes de mais nada, porque uma orquestra não dá lucro. Seus ganhos são mensurados por critérios muitos diferentes.
Ainda por cima citar como exemplo a EMBRAER, que há pouco tempo promoveu uma demissão em massa, é desconhecer até os modelos de gestão das grandes empresas contemporâneas. Nunca fui partidário de demissão aos magotes . (Ah, sim, na verdade houve o episódio da demissão dos sete músicos que brigaram e desrespeitaram Roberto Minczuk, na época, meu assistente, durante um ensaio, e a quem apoiei no episódio, assumindo todas as responsabilidades que me cabiam).
Alex vai mais longe e sugere que eu não tenho carreira internacional. Se ele ignora o que venho fazendo fora do Brasil durante os últimos 40 anos, razão pela qual, inclusive fui chamado de volta ao Brasil –  não por razões de saúde que me impediam de continuar no meu emprego – devia, no mínimo, calar-se a meu respeito. Diferente dele que é regente só recentemente,  atuo nessa profissão  desde os meus vinte anos . É curioso que ele queira ser agora o paladino dessa classe, espinafrando colegas, pretendendo dar aulas a Roberto Minczuk  e, pretensiosamente, ditando regras que ele nunca conseguiu por em prática. Seu primeiro conflito no único cargo importante que tentou ocupar como diretor de  um grande teatro, resultou na sua demissão depois de tres meses no posto.
Nessa carta, Alex, ainda que de forma indireta, dá a entender que, como Minczuk agora na OSB, eu agi na Osesp numa atitude de desrespeito e contrária aos interesses dos músicos, e esse é o maior disparate que ele diz nessa carta que até músicos de Montevideo já receberam.
Agora é fácil para o Alex falar nos avanços das orquestras brasileiras, e nas conquistas que conseguimos. Mas é preciso ter em mente que a história é feita de coragem, originalidade e sobretudo , senso crítico. Se hoje músicos da qualidade de Alex podem voltar a viver no Brasil, como fez ele próprio- e  Minczuk não é obrigado a ficar só em Calgary-,  é porque fui um pioneiro na criação de uma nova realidade sinfônica no país.
Como disse Sêneca, nossa vida é curta e nossa arte é longa. A essa altura, Alex deveria, no mínimo, ter uma biografia como a do maestro Minczuk ou a minha, para escrever  cartas pretensiosas como a que escreveu."

As audições na OSB e construção de um modelo orquestral que funcione.

Pode ter passado despercebido para a comunidade em geral, mas há um diálogo eclodindo sobre a pretensa audição requerida aos músicos da Orquestra Sinfônica Nacional e seus possíveis desdobramentos. Resolvi postar aqui as cartas que encontrei sobre o assunto, por julgar sobretudo que essa discussão pode ser benéfica para todos os músicos, se pensarmos em que tipo de orquestra queremos; integrar as refinadas funções de um grupo musical como esse enquanto instituição com um local que ofereça segurança profissional aos músicos parece ainda ser um ideal distante.

Segue a mensagem postada no blog da Comissão dos músicos da OSB, informando das condições em que a polêmica audição foi instaurada:

"A Orquestra Sinfônica Brasileira comemorou em 2010 seus 70 anos de existência. Ano passado, tocamos cerca de cem concertos - numero muito expressivo - que foram vistos por 190 mil espectadores. A temporada teve caráter de celebração, revivendo grandes momentos destas sete décadas de trabalho. Não há dúvida de que a OSB é a orquestra mais tradicional do país, com uma história de grandes estréias mundiais e no Brasil de obras-chave, responsável pela revelação de talentos (Nelson Freire, Cristina Ortiz e Antonio Meneses, por exemplo) e pela presença no país dos maiores nomes do planeta como seus convidados.

Logo após o inicio das férias da Orquestra, todos os seus músicos foram surpreendidos por uma convocação para prestarem uma prova de avaliação do seu potencial artístico. Isso é inusitado. Nenhuma orquestra do mundo exige tal prova. Criou-se assim um grande impasse na Fundação - como muitos dos senhores e senhoras já sabem, porque foi veiculado pela imprensa. Há profundo desacordo sobre os critérios e a exigência inédita desta prova, de "avaliação de desempenho". Todos somos avaliados diariamente. Todos fizemos prova para ingresso na OSB. Não há porque "avaliar" o que está todo dia sendo avaliado.

Agora, falamos de um desrespeito ao público. A Fundação, querendo se precaver, decidiu colocar no palco a OSB Jovem abrindo a nova temporada e atuando como único grupo sinfônico no primeiro semestre da programação de 2011, sem nenhuma justificativa, tanto para os seus assinantes quanto para os seus músicos profissionais.

Pela primeira vez na história desta tradicional instituição, percebemos um desvio grave dos seus princípios. A Fundação OSB, erigida com o compromisso estatutário de manter uma orquestra sinfônica, vê sua governança infringir esta norma, acenando para seus músicos contratados com programa de demissão voluntária, sem a solução ética da boa gestão que premia seus antigos e fiéis funcionários.

Estamos diante de graves problemas trabalhistas e da triste situação da busca de soluções externas para atingir algum equilíbrio entre as partes. Estamos entristecidos com a utilização indevida dos jovens músicos, com o desrespeito na desinformação dos assinantes, com o descaso para com os músicos profissionais - aqueles que imprimiram a marca, a personalidade, a característica única desta instituição, fundada e alimentada pelos sonhos dos músicos e pela prestigiosa presença das senhoras e dos senhores em nossos concertos. Estamos, enfim, nos mobilizando.

A partir de hoje, convidamos os assinantes e o público em geral a acompanhar também por esse espaço as questões que colocaremos, como interessados de primeira hora na qualidade e na excelência da programação da OSB, assim como na manutenção deste grupo de artistas em sua melhor performance possível. Uma orquestra sinfônica é um organismo singular: vivo, mobilizador, poderoso, feito por seus artistas reunidos em prol de um objetivo comum: a música em sua grandeza."

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Aqui a carta aberta de Alex Klein em apoio aos músicos da OSB e divulgada por magnoviola.

"Carta aberta sobre a OSB


Carta aberta ao maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk.

por Alex Klein, quinta, 3 de março de 2011 às 19:16
Caro Roberto,


Eu lhe escrevo em carta aberta para apoiar sua intenção de renovar a Orquestra Sinfônica Brasileira, e elevar seu nível artístico. A OSB já foi líder entre orquestras nacionais, e graças ao seu trabalho e liderança estes últimos anos, assim como a dedicação dos músicos que mantiveram esta orquestra viva por tantos anos de dificuldades, vemos que ela retorna ao seu merecido alto reconhecimento.

Porém, eu lhe peço encarecidamente que reconsidere a estratégia de impor audições internas a toda a orquestra, e mesmo a um único musico. Esta estratégia já foi usada antes, na OSESP, deixando cicatrizes no mercado que até hoje afetam músicos e o próprio maestro. Naquela época, no entanto, as audições internas da OSESP contaram com bancas julgadoras externas à organização, reduzindo ou eliminando a percepção de que padrões não-artísticos – ou seja, preferência pessoal do maestro – seja utilizada na escolha dos músicos.

Para justificar estas audições, muito se fala na necessidade de elevar o nível de nossas orquestras ao nível internacional. Mas, ironicamente, não existe precedente destas orquestras internacionais passando por audições internas para alcançarem tal nível. Ao contrario, as grandes orquestras do mundo alcançaram seu patamar apos movimentos que deram apoio trabalhista aos músicos, dando-lhes segurança de emprego razoável assim como condições de trabalho que fomentem este alto padrão.

A Orq. Filarmônica de Berlim iniciou seu caminho expressivo como líder entre as orquestras do século XX apos uma movimentação em 1882 onde 54 músicos reclamaram sobre condições de trabalho, seu uniram, e partiram com seu maestro. E Chicago abriu-se com como orquestra internacional de ponta após a saída de Fritz Reiner, com a formação de sua comissão de músicos defendendo os direitos trabalhistas de seus integrantes. De fato, a primeira tournée internacional de Chicago foi somente em 1971, 8 anos apos a saída de Reiner, em cujo periodo se instalou a Comissão de Músicos que estabeleceu direitos trabalhistas.

Contra esta movimentação histórica não se pode lutar. Os dias do “poderoso chefão” em fábricas e indústrias já a muito tempo passou. Hoje, empresas modernas dão valor à retro-alimentação dentro da firma, com “patrões” e “empregados” em constante comunicação bilateral em prol de um produto de melhor qualidade. Não se vê a Embraer ou a Petrobrás re-entrevistando todos os seus engenheiros. Este é o segredo do sucesso das grandes empresas assim como das grandes orquestras internacionais. A eleição de audições internas vai em sentido oposto a estas modernidades, e faz com que a OSB sob sua liderança tenha os anos 1950 como exemplo de futuro. Você não merece esta comparação, Roberto, e precisa mudar o rumo desta discussão.

Mas as audições internas tem outras conseqüências. Cria-se um regime de trabalho de “nós contra eles” onde a primeira oportunidade é utilizada para infligir dano ao outro grupo, geram-se desconfianças, atritos desnecessários, e nada disso é comensurável com a boa musica, onde deveria reinar a harmonia, o respeito mútuo, a coesão artística, e aquele grande momento orquestral onde maestro e orquestra são “um”, e formam uma parceria mágica. Uma “parceria”, no entanto, indica um trabalho horizontal, de lado a lado, entre maestro e músicos. E não algo vertical onde o maestro está acima e suas decisões são supremas. O respeito de músicos por um maestro não é de fato diferente do respeito que um engenheiro tem pela administração de uma Embraer ou Petrobrás, e este respeito depende de uma via de duas mãos onde a liderança “faz sentido” para os técnicos altamente treinados e que montam o produto da empresa. Se ao ponto de vista do musico a liderança do maestro “não faz sentido”, este músico não produzirá seu melhor trabalho, a não ser que o produto desejado seja meramente 100 músicos tocando junto. Mas ao ver a sua trajetória, Roberto, você sabe e merece mais do que isso. Talvez outros maestros se contentem com menos, assim como talvez outras indústrias aceitem menos. Mas para uma instituição de ponta, exigimos de nós mesmos um resultado de primeira qualidade em todas as suas vertentes.

É igualmente errado, portanto, músicos exigirem a demissão imediata de um maestro. Você tem um contrato de 6 anos, e deve ter o direito de cumpri-lo sem interferência ou movimentação interna contra sua permanência. Não seria o caso de liderar por exemplo e dar aos músicos também sua permanência sem movimentações que ameacem sua subsistência? Não faria mais sentido assegurar a presença de todos – músicos e maestros – deixando-os livres para criar musica, sem o desperdício de tempo e recursos, e o desgaste de audições e demissões?

E veja bem, Roberto, o seu caso é bem diferente do Neshling quando ele fez as audições na OSESP nos anos 90. Você rege as melhores orquestras do mundo, Philadelphia, New York Phil, e tem uma posição expressiva em Calgary. Todas estas orquestras mantém contratos modernos com seus músicos, contratos “horizontais”. Você não precisa demonstrar ser igual ao colega Neshling para instalar sua reputação como excelente líder orquestral no Brasil, e não necessita utilizar técnicas desprestigiadas internacionalmente para impor respeito e disciplina em sua orquestra. Uma escolha equivocada neste momento poderá causar desconfianças e complicações à sua reputação no exterior. Você não merece isso apos dedicar-se tanto à sua carreira, e precisamos de você no Brasil como um líder moderno.

A OSB é uma excelente orquestra, e possui muitos dos melhores músicos orquestrais do Brasil. A própria instituição deve a eles um grande agradecimento por manter viva esta orquestra durante muitos anos de condições trabalhistas abaixo da expectativa. Se há entre eles músicos que já não acompanham o ritmo de trabalho, quem sabe você pode trazer à OSB os princípios de desligamento existentes em Calgary e outras orquestras estrangeiras que você já regeu. O musico merece conhecer as razões de seu possível desligamento, e de ter uma chance verdadeira de oferecer melhorias. Se mesmo assim um desligamento é desejado, o musico merece a defesa de sua causa pela Comissão de Músicos, para evitar que razões não-artísticas permeiem a decisão de demitir-lo. E se mesmo assim a demissão é inevitável, dê ao musico a misericórdia e a dignidade de um desligamento educado, com uma salva de palmas, um certificado de agradecimento, um reconhecimento de que seus dias na OSB foram de valor, pelos quais a instituição lhe agradece. Valorize o ser humano dentro deste músico, pois a mensagem ficará clara àqueles que ficam, que a orquestra valoriza aqueles que produzem o som dela.

Estes músicos tem famílias, Roberto. Tem prestações a pagar. O caminho para a desejada e importante renovação não é pelo afastamento de músicos, e sim por estimular-los a produzir a melhor musica que jamais tocaram, alimentando sua auto-estima. Eu concordo que é muito mais difícil para um maestro trabalhar nestas condições, onde 100 músicos tem opinião própria e muitas vezes opostas à do maestro. E é também muito mais difícil para Dilma Rouseff governar do que Kim Il-Sung. Pois este é o regime em que vivemos, democrático, onde há liberdade de expressão. Uma orquestra ou empresa não é uma democracia, mas nós brasileiros somos democráticos, está em nossas veias. Nós respiramos o dialogo e livre expressão em todos os nossos afazeres, e inteligente é o líder que sabe transformar toda esta energia em produção. A vivência com valores democráticos tem seu preço, especialmente para aqueles que lideram. Não podemos aderir a valores autocráticos simplesmente porque nos convém. Somos brasileiros, nós não respondemos bem à autocracia, e isso é bom. A orquestra, como uma micro-sociedade, também respira valores democráticos, mesmo se o formato da organização é contratual e empresarial.

Eu lhe peço, meu caro, que reconsidere, e cancele estas audições. Você está em uma posição excelente para trazer ao Brasil os padrões de uma orquestra internacional. Faça-o. Traga ao seu pais os verdadeiros padrões que fazem de uma Philadelphia ou Cleveland o que elas são. Eleve o nível de produção de seus músicos, mas com respeito e dignidade.

Vamos virar a página e encerrar este capítulo de demissões, desentendimentos, polarizações, autoritarismo, e a inevitável falta de consenso artístico que resulta. Chega de demissões em massa de músicos, chega de exigir a saída imediata do maestro.

Contamos com você, Roberto, pelo musico que você é, e pelo futuro que você representa, em liderar a OSB sem audições internas, não porque é fácil, mas porque é difícil. Mas é o caminho certo.

Abs,

Alex"