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sábado, 27 de março de 2010

"Me tocou um amor crepuscular... há que amar diferente"

Campo de Flores

Deus me deu um amor no tempo de madureza,
quando os frutos ou não são colhidos ou sabem a verme.
Deus - ou foi talvez o Diabo - deu-me este amor maduro,
e a um e outro agradeço, pois que tenho um amor.


Pois que tenho um amor, volto aos mitos pretéritos
e outros acrescento aos que amor já criou.
Eis que eu mesmo me torno o mito mais radioso
e talhado em penumbra sou e não sou, mas sou.


Mas sou cada vez mais, eu que não me sabia
e cansado de mim julgava que era o mundo
um vácuo atormentado, um sistema de erros.
Amanhecem de novo as antigas manhãs
que não vivi jamais, pois jamais me sorriram.


Mas me sorriam sempre atrás de tua sombra
imensa e contraída como letra no muro
e só hoje presente.
Deus me deu um amor porque o mereci.
De tantos que já tive ou tiveram de mim,
o sumo se espremeu para fazer um vinho
ou foi sangue, talvez, que se armou em coágulo.


E o tempo que levou uma rosa indecisa
a tirar sua cor dessas chamas extintas
era o tempo mais justo. Era tempo de terra.
Onde não há jardim, as flores nascem de um
secreto investimento em formas improváveis.


Hoje tenho um amor e me faço espaçoso
para arrecadar as alfaias de muitos
amantes desgovernados, no mundo, ou triunfantes,
e ao vê-los amorosos e transidos em torno,
o sagrado terror converto em jubilação.


Seu grão de angústia amor já me oferece
na mão esquerda. Enquanto a outra acaricia
os cabelos e a voz e o passo e a arquitetura
e o mistério que além faz os seres preciosos
… visão extasiada.


Mas, porque me tocou um amor crepuscular,
há que amar diferente. De uma grave paciência
ladrilhar minhas mãos. E talvez a ironia
tenha dilacerado a melhor doação.
Há que amar e calar.
Para fora do tempo arrasto meus despojos
e estou vivo na luz que baixa e me confunde.


Carlos Drummond de Andrade

"Enigma" por Carlos Drummond de Andrade

Enigma

Faço e ninguém me responde
esta perguntinha à-toa:
Como pode o peixe vivo
morrer dentro da Lagoa?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Quando o inimaginável acontece...

Não sei se dependendo do dia, a gente fica mais propenso a ser atingido por certas coisas, ou se é a fase da lua agora, meu horóscopo chinês, meu ascendente em se lá o que; o fato é que a notícia do menino de Maceió que foi sequestrado por dois anos me deixou um pouco perturbado.

Pra quem não acompanhou, a noticia foi veiculada no jornal nacional da rede Globo. O menino foi sequestrado de Alagoas e por mais de dois anos esteve vivendo com o sequestrador em Campos, no norte do estado do Rio. Lá, ele era obrigado a pedir esmola para o homem, que só foi descoberto em dezembro de 2009 porque foi preso, acusado de sequestrar outra criança.
Levado para um abrigo, o menino (que aparenta uma idade de 4 a 6 anos agora) afirmava a história contada pelo sequestrador desde que foi acolhido. Só recentemente ele começou a revelar dados e fatos que ajudaram a encontrar sua verdadeira família. A matéria do jornal é sobre o reencontro.


Agora imagine comigo essa situação: uma criança que é levada por mais de dois anos numa idade tão tenra, dormindo por todo esse tempo sabe-se lá onde e em que circunstancias, sendo submetido a um tratamento que seria abusivo e absurdo para um adulto, que marcas e cicatrizes profundas não carrega? A cena acima é uma quadro do vídeo na página da Globo, numa das cenas finais do reencontro entre mãe e filho. Não tenho o hábito de me emocionar por qualquer comercial de margarina, mas confesso que a cena me levou às lágrimas. E quem não seria levado? Quem poderia assistir a uma cena tão nefasta, que revela aspectos daquilo de pior que somos capazes de fazer e permanecer indiferente?

A psicóloga que tratou do menino fala do processo de retorno e retomada da vida familiar, e de como esse processo é delicado. Isso seria de se esperar; traumas em adultos deixam marcas profundas, mas temos válvulas de escape melhores, somos experientes em quedas e recomeços, temos uma consciência mais clara do mundo que nos rodeia. Uma criança não tem nada disso, e é precisamente por isso que é tão grave um crime que atente contra elas. Suas defesas são extremamente limitadas, buscam apoio em quem estiver perto e são facilmente influenciáveis. Além disso, em todos os grandes problemas que enfrentamos, sejam desastres naturais, guerras santas ou profanas, ou mesmo o descaso do dia a dia com os menos favorecidos, as crianças são sempre a variável mais frágil da equação, as mais atingidas, as que mais precisam de proteção. Isso nem sempre acontece...

Se um criminoso choca as pessoas com atos tão covardes, que dizer de um "santo" homem" ou "mulher"? bento 16 anda em voltas com os próprios demônios que durante anos varreu pra baixo do tapete: abuso de crianças por padres e freiras. Muito antes de ser papa (e ter feito a ponta em "Star Wars" como o imperador Palpatine, disponível aqui e aqui), ele foi acessor direto do Vaticano para assuntos dessa ordem. Agora, todas as evidencias apontam para aquilo que já se sabia ou desconfiava: durante anos, as acusações de padres e freiras por pedofilia e abuso foram ignoradas e desconsideradas, sendo os criminosos transferidos para outro lugar. Apesar de um incontável número de casos serem forjados (e isso é importante deixar registrado aqui), coisas como essa acontecem com maior frequencia do que gostariam de admitir  os católicos (aqui, aqui, aqui, e aqui, para citar alguns exemplos, e aqui para a política do vaticano de "abafa o caso").
Casos assim chocam pela frequencia que ocorrem, pelas implicações resultantes que falei anteriormente, por perverter uma inocência que é perdida para sempre, um mundo de sonho e fantasia que, de um momento para o outro, é transformado num terrível pesadelo e que pode, como em muitos casos, acompanhar a pessoa pelo resto da vida, com sérias consequencias à capacidade de confiar e relacionar-se futuramente.
Mas o caso do abuso dos padre, pastores (aqui, aqui e aqui, por exemplo) e freiras (e etc) tem um agravante ainda maior, porque muitas pessoas acreditam nessas instituições e depositam nelas a esperança de dar um futuro melhor aos seus filhos, seus órfãos, os herdeiros de tudo o que fazemos hoje em dia. Como a traição de alguém que lhe é íntimo e próximo, casos como esse revelam uma certa covardia adicional (se é possível adicionar ainda mais), porque são as pessoas de onde menos se esperaria. Como eles mesmo anunciam-se como arautos de deus na terra, resta saber o que imaginam eles que lhes reserva a pretensa justiça divina; ironicamente, a mesma com que tanto ameaçam e atormentam as próprias crianças...

Pra mim, das duas uma: ou são completos psicóticos, porque são masoquistas e acreditam que arderão no inferno mais profundo e terrível, ou são completos psicóticos, porque sabem que pregam alegorias para uma massa de corações desesperados que neles depositam suas esperanças, e cuja influencia é explorada ao extremo da vaidade e da loucura a seu próprio favor...




Pelo sim, pelo não, que paguem todos pelo que fazem aqui mesmo, já e agora!!

Uma foto...

Série "Tu é Chopin que eu sei!"


Vídeo educativo "com deus não se brinca"...

De todas as falácias que já tive notícia, acho que as veiculadas nesse vídeo são as mais antigas que já vi. E acho simplesmente impressionante como as pessoas mandam isso uma para as outras sem sequer pensar na implicações daquilo que se afirma.
O vídeo em si é uma sequencia de casos com a mesma temática: pessoas que "desdenharam" de deus e foram mortas por isso... frequentemente com mais pessoas absolutamente inocentes da declaração do pseudo-culpado. Tem de tudo um pouco: a célebre frase (distorcida) de John Lennon, Tancredo Neves, O construtor do Titanic ("nem deus afunda"), e o caso tragi-cômico da menina que saiu para anoitada e desdenhou da mãe... bom, segue o vídeo:


Certo. Como esse é um clássico dentre as mensagens e e-mails que recebo, resolvi pesquisar um pouco e postar alguns dos resultados aqui, embora no fundo, o argumento mais lógico não necessitaria de qualquer pesquisa além da mensagem do próprio vídeo: esse é o deus misericordioso?  Essa é a fonte de bondade infinita, que tudo vê, sabe e faz pra que sejamos felizes? Comento os casos mais relevantes, ao meu ver:

John Lennon - O que ele realmente disse foi que naquele momento, os Beatles eram uma influência maior para os jovens que jesus cristo. A entrevista original pode ser vista aqui. Ele prório ressaltou depois (a frase iniciou uma revolta de cristãos norte-americanos que queimaram os discos dos Beatles em protesto. PS: Queimar discos? Não faz a gente sentir saudade do tempo em que eles se auto-incineravam na fogueira?) que ser mais famoso ou influente que jesus não era necessariamente uma coisa boa, mas a constatação de um fato. Muito antes de ser morto, Lennon já tinha explicado melhor sua colocação, acrescentando que jesus estava certo,  que ele não era anti-cristão nem anti-religião, mas que não concordava com as interpretações dadas por algumas pessoas que se diziam seus seguidores. Só pra rir um pouco, no ano do aniversário do álbum branco dos Beatles, 2008, o vaticano sem ter o que fazer resolver declarar que perdoava Lennon (como se ela pudesse ou ele precisasse) em 2008 por essa declaração.

Tancredo Neves - salvo a menção nesse vídeo, não encontrei uma única fonte independente que comprovasse tal afirmação, em nenhum meio de imprensa.

Bon Scott -  a música citada é Highway to the Hell, não por acaso faixa título de álbum homônimo do AC/DC lançado em 1979. O vocalista do grupo realmente morreu de forma deplorável no ano seguinte mas, curioso, as músicas foram compostas pela banda toda e só ele "sentou na graxa"?. Essa música em específico, por ele e o guitarrista Angus Young, que continua vivinho da silva, bem como o resto da banda...

O construtor do Titanic - não achei nada que comprovasse a tal entrevista. Mas mesmo que ele ou alguém tivesse dito isso, já passou pela cabeça de alguém a insanidade de que uma pessoa diz "nem deus afunda", e 1522 pessoas perdem a vida? A propósito, para a história do Titanic, dá uma olhada aqui ou aqui (em inglês).

A menina no carro acidentado - a história dessa menina anônima que sai com uma turma de amigos bêbados em um carro onde todos morrem é tragi-cômica por vários aspectos. Primeiro, porque nenhum dos jornais de Campinas-SP relatam o fato. Depois porque a história não só não é suportada por evidência alguma (nenhum nome sequer, uma citação na imprensa, nada...) como o número de ovos encontrados no porta-mala varia de lugar para lugar. Sem contar a pergunta básica de "o que diabos uma turma de amigos que sai na noitada está fazendo com duas duzias de ovos no porta-malas?", a pergunta que realmente não quer calar pra mim é "e aí, pra que tudo isso?". Se no suposto carro todos morreram, cinco pessoas pagaram pela declaração insentada de uma menina de 19 anos? Menos mal que no Titanic, mas ainda assim não me conforta...

E vou dizer exatamente porque. Porque as pessoas que citam essas coisas sem cabimento esquecem de mencionar o outro lado da moeda; as pobres criaturas que pagam com suas vidas fazendo simplesmente aquilo que se espera de um crente devoto: louvando seu deus. É o caso dos acidentes com onibus de romeiros (20 mortos aqui, 11 aqui, 9 aqui, 5 aqui, fora os 7 mortos e quase 100 feridos na tragédia no desabamento do teto da renascer, aqui), por exemplo. E assim como John Lennon e Bon Scott morreram de forma trágica, o mesmo também aconteceu com Martin Luther King, pastor da igreja batista nos EUA que teve importante papel politico na defesa dos direitos dos negros, bem como Malcom X tb; o pacifista Mahatma Gandhi (que nem foi tanto assim, mas isso é outra história), Zilda Arns e possivelmente até o papa João Paulo I.
A ocorrência de tragédias em massa como as ocorridas no Haiti recentemente, além do tsunami na Índia, passando pelos massacres nas guerras mundiais (especialmente a 2ª) e chegando mesmo ao biblico desaparecimento das cidade de Sodoma e Gomorra não podem ser usados de maneira nenhuma para justificar punição divina de quem quer que seja, sem ao mesmo tempo acusar essa mesma divindade de ignorância e precariedade de métodos. Ou alguém duvida que em Sodoma havia crianças? Ou em Gomorra, pessoas idosas pacatas e ordeiras? Ou que o julgamento de Hitler estava correto ao trazer para si a nefasta decisão de quais critérios usaria para purificar sua estimada "raça ariana", condenando uma infinidade de pessoas que ele sequer conheceu direito?

A punição, que em si já é árbitrária, se tivesse de ocorrer poderia perfeitamente atingir somente àqueles pseudo-culpados... ou não?  Ou os métodos são tão imprecisos que o sangue de uma infinidade de inocentes são o preço para punir alguns poucos?

Pra mim, o fato em si já diz que tragédias acontecem a todos, indistintamente. Elas não escolhem índoles, nem são arautos de nada. O sofrimento por si só não traz benefícios, não transforma ninguém em santo só por ter de passar por ele, nem tampouco é prova de culpa. Seria imoral e hipócrita pensar dessa forma, porque não é o que se espera de um deus onisciente e onipotente. De uma forma geral, o fio da espada casual da morte cruza indistintamente o globo fazendo vítimas pelo caminho sem qualquer relação aparente entre causa e efeito. E isso por si só já desarma completamente esse argumento tacanha de que quem "brinca" com deus paga com a morte... acrescente que não só ele, mas uma infinidade de inocentes tb!!

segunda-feira, 22 de março de 2010

"Passagem das Horas"

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

(...)

Viajei por mais terras do que aquelas em que toquei...
Vi mais paisagens do que aquelas em que pus os olhos...
Experimentei mais sensações do que todas as sensações que senti,
Porque, por mais que sentisse, sempre me faltou que sentir
E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.

(...)

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei
Se me falta escrúpulo espiritual, ponto-de-apoio na inteligência,
Consangüinidade com o mistério das coisas, choque
Aos contatos, sangue sob golpes, estremeção aos ruídos,
Ou se há outra significação para isto mais cômoda e feliz.

Trechos de Passagens das Horas, por Álvaro de Campos (também conhecido por Fernando Pessoa)

domingo, 21 de março de 2010

"Traduzir-se" por Ferreira Gullar

 
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?

Ferreira Gullar

sábado, 20 de março de 2010

Um pensamento...

O fato de um crente ser mais feliz que um cético não quer dizer muito mais que o fato de um homem bêbado ser mais feliz que um sóbrio.

George Bernard Shaw

quarta-feira, 17 de março de 2010

Augusto Cury é Paulo Coelho reencarnado?

Não é de hoje que os livros de Paulo Coelho não me chamam a atenção. Já li alguns deles no passado e confesso que por um tempo eles até tiveram algum respaldo pra mim. Comecei por "Brida", depois "O Monte Cinco" e, por último, "Verônica decide morrer". O que transparece na leitura é aquela sensação estranha de fórmula manjada, como uma banda que grava sempre músicas parecidas com um antigo rit de sucesso. Não espere em nenhum desses livros qualquer desfecho diferente daquele que naturalmente se deseja em novelas televisivas: que a ala do bem fique numa boa (apartamento em Copacabana, viagens ao exterior e festas reunindo todo mundo) e a galera do mal sofra (prisão, morte, loucura, sofrimento, etc...).

Pois bem, eis algumas das suas pérolas:

Embora meu objetivo seja compreender o amor, e embora sofra por causa das pessoas a quem entreguei meu coração, vejo q aqueles q me tocaram a alma ñ conseguiram despertar meu corpo, e aqueles que tocaram meu corpo ñ conseguiram atingir minha alma.
...

Tudo que acontece uma vez poderá nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, certamente acontecera uma terceira.
...

Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um 'sim' ou um 'não' pode mudar toda a nossa existência.



As coisas mais simples da vida são as mais extraordinárias, e só os sábios conseguem vê-las.
...


Ninguém consegue mentir, ninguém consegue esconder nada quando olha direto nos olhos.
E toda mulher, com um mínimo de sensibilidade, consegue ler os olhos de um homem apaixonado.

...

Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia.
...


Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo.

Pois bem, nessa onda de best sellers onde a importância de um autor aparentemente é medida pela quantidade de livros vendida, Augusto Cury vem ganhando destaque na mídia em geral e, por conseguinte, nas prateleiras de muitos aficcionados pela sua literatura. Autor de livros como "Pais Brilhantes, Professores Fascinantes", "Você é insubstituível" e "Análise da inteligência de Cristo: o mestre inesquecível" (?), ele justapõe conceitos óbvios da auto-ajuda com uma linguagem rebuscada de médico, psiquiatra e psicoterapeuta. O resultado é uma coleção de lugares comuns típicos, no melhor estilo "se não chutar, não sai gol".
Algumas dessas pérolas:

Construí amigos, enfrentei derrotas, venci obstáculos, bati na porta da vida e disse-lhe: Não tenho medo de vivê-la.


Todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as suas mãos para cultivá-las.


Quando somos abandonados pelo mundo, a solidão é superável; quando somos abandonados por nós mesmos, a solidão é quase incurável.


Os problemas nunca vão desaparecer, mesmo na mais bela existência. Problemas existem para serem resolvidos, e não para perturbar-nos.


A vaidade é o caminho mais curto para o paraíso da satisfação,porém ela é, ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve.


Os que desprezam os pequenos acontecimentos nunca farão grandes descobertas. Pequenos momentos mudam grandes rotas.


Se um dia fecharem-lhe as portas da vida, pule a janela.

 Com exceção desse último pensamento, que pode ser extremamente perigoso se entendido ao pé da letra (especialmente se vc mora no 23º andar), os demais são todos copilações de frases de efeito, que não por acaso tem esse nome. Elas buscam sempre trazer ao leitor uma compreensão "filtrada" da realidade, um lugar comum e fácil onde brota a comodidade e o conforto através da mera consciência e do desejo pessoal.

A comparação com autores consagrados na literatura é injusta, mas serve como ponto de apoio para exemplificar o que quero dizer; personagens como Don Quixote¹, Dorian Gray², Gilliat³, Sydney Carton¹¹ e (li esse recentemente, presente da keko²²) Geraldo Viramundo³³ não são meras criações literárias para exibições de frases de efeito. Eles são, sim, personagens complexos e profundos, que exploram intensamente nosso caráter ambíguo e contraditório, nossa doçura e raiva, como seres caridosos e mesquinhos. Já foi dito que o Jesus bíblico seria uma caricatura sem graça se comparado à complexidade visceral de qualquer personagem da obra de Dostoiéviski. Acho que o mesmo vale aqui.

O problema da história do "universo ao seu favor" é que ela não encontra respaudo no mundo real. Como sábios visionários também não. E pessoas que não sentem medo. E bondade absoluta. E assim por diante.
Somos formigas presas numa garrafa tentando ler o mundo lá fora através de um vidro trincado, sujo e desfocado, mas ainda assim somos fortes e profundamente corajosos diante do desconhecido (viu como pega... rsrs). Entender nossa falibilidade demonstra a extensão da nossa insignificância, mas também a grandeza do nosso caráter e a nossa honestidade frente ao que não conhecemos, minimizando nossa ignorância, ajustando nossos ponteiros com um universo já em rotação própria e não o contrário, sob todos os aspectos.

Tenho de proclamar a minha incredulidade. Para mim não há nada de mais elevado que a ideia da inexistência de Deus. O Homem inventou Deus para poder viver sem se matar.

Fiodor Dostoiéviski


1. O cavaleiro errante, que tenta a todo custo viver seu sonho medieval num mundo onde o cavalheirismo não tinha mais espaço. Da obra homônima de Miguel de Cervantes.

2. O personagem de Oscar Wilde imortalizado através de um retrato, que passa por sua vez a envelhecer em seu lugar, embora seu caráter desvirtuado não o permita encarar a pintura, como alguém que evita espiar a própria consciência.

3. O pescador de Victor Hugo em "Os trabalhadores do mar", que sonha com um amor platônico e termina facilitando a fuga da sua amada com outra pessoa, morrendo lentamente na subida da maré ao vê-la partir.

11. O fantástico antipático e irônico personagem de Charles Dickens em "Um Conto de Duas Cidades", que termina assumindo o lugar de um desafeto no cadafalso, morrendo por alguém que nem conhecia, nem gostava direito.

22. Minha negrinha... "a linda flor do meu sertão pernambucano".

33. O grande mentecapto de Fernando Sabino em obra homônima, que percorre um estado de Minas Gerais quase pictórico, oscilando entre a extrema bondade, profunda ingenuidade, grande sabedoria e loucura demente.

Aparições de jesus... ou da fé necessária para ver o que não existe.

Algumas pessoas procuram e buscam tanto que acabam encontrando... ou não?

















Curtas e boas... ou rindo pra não chorar!!

Comédia sem precedentes, seleção natural onde as baboseiras se valem de uma educação ineficiente, incompleta e obtusa para se proliferarem. Faz me lembrar ironicamente o evangelho de marcos, capítulo 13, versículo 7:

"Porque naqueles dias haverá tribulações tais, como não as houve desde o princípio do mundo que Deus criou até agora, nem haverá jamais".







Pastor transforma metais em ouro!!!





Lipoaspiração pentecostal (tb conhecido como pastor "Dr Hollywood"!!!)





Enquanto isso, na saída de alguma fonte miraculosa em algum lugar do mundo, essa imagem que poderia ser livremente traduzida por cura à frente.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pat Condell arrasador...

Pat Condell é um humorista inglês que tem um talento impressionante com as palavras. Ele também é extremamente contundente nas suas colocações e muita gente reclama disso. Mas no fundo, apesar dessa aparência agressiva do discurso, é impossível não ficar admirado, porque não vejo ninguém refutando suas opiniões com outras com o mesmo nível de elaboração e evidências.

Segue um sobre o clero... ah, esqueci de avisar, ele é ateu convicto, como vcs podem ver, então, aos religiosos apavorados com a iminência do juízo final, por favor, tirem as crianças da sala.

sábado, 6 de março de 2010

A palavra do dia é: PEDANTE

Tem palavras que eu leio e com frequencia esqueço o significado. Vou postar algumas delas até como lembrete pra mim mesmo.

Pedante

"Pedante é aquela pessoa que possuiu muita “vaidade” na maneira com que fala das coisas, e que acaba de forma arrogante e precipitada ostentando conhecimentos que na verdade não possui. Todos que foram adolescentes um dia sabem o que é isso. Geralmente este comportamento está relacionado com uma necessidade de auto-afirmação, uma necessidade de se impor ideologicamente. O profissional pedante é aquele que vai se apegar a detalhes desnecessários e vai se esquecer do principal."

Disponível aqui.