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sexta-feira, 26 de março de 2010

Quando o inimaginável acontece...

Não sei se dependendo do dia, a gente fica mais propenso a ser atingido por certas coisas, ou se é a fase da lua agora, meu horóscopo chinês, meu ascendente em se lá o que; o fato é que a notícia do menino de Maceió que foi sequestrado por dois anos me deixou um pouco perturbado.

Pra quem não acompanhou, a noticia foi veiculada no jornal nacional da rede Globo. O menino foi sequestrado de Alagoas e por mais de dois anos esteve vivendo com o sequestrador em Campos, no norte do estado do Rio. Lá, ele era obrigado a pedir esmola para o homem, que só foi descoberto em dezembro de 2009 porque foi preso, acusado de sequestrar outra criança.
Levado para um abrigo, o menino (que aparenta uma idade de 4 a 6 anos agora) afirmava a história contada pelo sequestrador desde que foi acolhido. Só recentemente ele começou a revelar dados e fatos que ajudaram a encontrar sua verdadeira família. A matéria do jornal é sobre o reencontro.


Agora imagine comigo essa situação: uma criança que é levada por mais de dois anos numa idade tão tenra, dormindo por todo esse tempo sabe-se lá onde e em que circunstancias, sendo submetido a um tratamento que seria abusivo e absurdo para um adulto, que marcas e cicatrizes profundas não carrega? A cena acima é uma quadro do vídeo na página da Globo, numa das cenas finais do reencontro entre mãe e filho. Não tenho o hábito de me emocionar por qualquer comercial de margarina, mas confesso que a cena me levou às lágrimas. E quem não seria levado? Quem poderia assistir a uma cena tão nefasta, que revela aspectos daquilo de pior que somos capazes de fazer e permanecer indiferente?

A psicóloga que tratou do menino fala do processo de retorno e retomada da vida familiar, e de como esse processo é delicado. Isso seria de se esperar; traumas em adultos deixam marcas profundas, mas temos válvulas de escape melhores, somos experientes em quedas e recomeços, temos uma consciência mais clara do mundo que nos rodeia. Uma criança não tem nada disso, e é precisamente por isso que é tão grave um crime que atente contra elas. Suas defesas são extremamente limitadas, buscam apoio em quem estiver perto e são facilmente influenciáveis. Além disso, em todos os grandes problemas que enfrentamos, sejam desastres naturais, guerras santas ou profanas, ou mesmo o descaso do dia a dia com os menos favorecidos, as crianças são sempre a variável mais frágil da equação, as mais atingidas, as que mais precisam de proteção. Isso nem sempre acontece...

Se um criminoso choca as pessoas com atos tão covardes, que dizer de um "santo" homem" ou "mulher"? bento 16 anda em voltas com os próprios demônios que durante anos varreu pra baixo do tapete: abuso de crianças por padres e freiras. Muito antes de ser papa (e ter feito a ponta em "Star Wars" como o imperador Palpatine, disponível aqui e aqui), ele foi acessor direto do Vaticano para assuntos dessa ordem. Agora, todas as evidencias apontam para aquilo que já se sabia ou desconfiava: durante anos, as acusações de padres e freiras por pedofilia e abuso foram ignoradas e desconsideradas, sendo os criminosos transferidos para outro lugar. Apesar de um incontável número de casos serem forjados (e isso é importante deixar registrado aqui), coisas como essa acontecem com maior frequencia do que gostariam de admitir  os católicos (aqui, aqui, aqui, e aqui, para citar alguns exemplos, e aqui para a política do vaticano de "abafa o caso").
Casos assim chocam pela frequencia que ocorrem, pelas implicações resultantes que falei anteriormente, por perverter uma inocência que é perdida para sempre, um mundo de sonho e fantasia que, de um momento para o outro, é transformado num terrível pesadelo e que pode, como em muitos casos, acompanhar a pessoa pelo resto da vida, com sérias consequencias à capacidade de confiar e relacionar-se futuramente.
Mas o caso do abuso dos padre, pastores (aqui, aqui e aqui, por exemplo) e freiras (e etc) tem um agravante ainda maior, porque muitas pessoas acreditam nessas instituições e depositam nelas a esperança de dar um futuro melhor aos seus filhos, seus órfãos, os herdeiros de tudo o que fazemos hoje em dia. Como a traição de alguém que lhe é íntimo e próximo, casos como esse revelam uma certa covardia adicional (se é possível adicionar ainda mais), porque são as pessoas de onde menos se esperaria. Como eles mesmo anunciam-se como arautos de deus na terra, resta saber o que imaginam eles que lhes reserva a pretensa justiça divina; ironicamente, a mesma com que tanto ameaçam e atormentam as próprias crianças...

Pra mim, das duas uma: ou são completos psicóticos, porque são masoquistas e acreditam que arderão no inferno mais profundo e terrível, ou são completos psicóticos, porque sabem que pregam alegorias para uma massa de corações desesperados que neles depositam suas esperanças, e cuja influencia é explorada ao extremo da vaidade e da loucura a seu próprio favor...




Pelo sim, pelo não, que paguem todos pelo que fazem aqui mesmo, já e agora!!

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