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terça-feira, 21 de setembro de 2010

Jornalismos e jornalismos


Em tempos em que revistas e jornais assumem para si o papel de órgãos reguladores, emitindo pareceres e julgamentos baseados em indícios, quando o que deveriam realmente fazer é informar, chamou-me a atenção a matéria do Correio Braziliense sobre a popularidade do Tiririca (e de como ele deve ser eleito com mais de um milhão de votos!). Na minha opinião, alguém que diz não saber do que se trata aquilo para o que se candidatou, não ter uma única proposta e ainda ironizar o processo com piadas de todo gênero, representa a falta absoluta de opções de representatividade política. Nesse aspecto, ninguém melhor para ser esculachado por órgãos de imprensa atualmente.

Ainda assim, o jornalista Ulisses Campbell, em matéria no referido jornal, trata a questão com absoluta imparcialidade, num texto que considerei muito bom. Fica-se sabendo quem ele é, constata-se sua aceitação nas classes mais humildes,  a ausência absoluta de propostas efetivas, e isso sem um único julgamento moral. Obviamente, quem faz esse julgamento é o leitor... e deve ser sempre assim. Não preciso de ninguém pra interpretar os fatos, mas sim saber em profundidade quais são eles e qual a sua relevância.

Sem mais por ora, segue a matéria do Correio....


"Palhaço Tiririca torna-se fenômeno e deve conquistar um milhão de votos



Ullisses Campbell

Publicação: 21/09/2010 07:52 Atualização: 21/09/2010 07:52


São Paulo — Ele se apresenta três vezes na semana por apenas 35 segundos na televisão. Parece pouco, mas é tempo suficiente para fazer um enorme sucesso e um grande estrago na concorrência. Vestido de palhaço, intitula-se e chama o eleitor de “abestado”. Diz que não sabe o que vai fazer em Brasília e assume desde já que quer ser eleito deputado federal por São Paulo para ajudar os mais necessitados, inclusive a própria família.


Parece brincadeira, mas o humorista Francisco Everaldo Oliveira Silva, 45 anos, mais conhecido como Tiririca, virou fenômeno de popularidade. Uma projeção não oficial feita pelo Ibope estima que ele terá ao menos 1 milhão de votos. Com tanta popularidade, vem gravando programas eleitorais para candidatos do Ceará, do Amazonas e da Bahia, apesar de concorrer apenas em São Paulo. Num dos programas, o artista desdentado aparece com o rosto coberto com as próprias mãos. Pergunta: “Você sabe quem está aqui?”. Ele mesmo responde: “Sou eu, o Tiririca. Vote em mim senão eu vou morrer”.


Em outro comercial, ele diz que todo mundo apela nas eleições e que também resolveu levar o pai e a mãe para pedir voto. À Justiça Eleitoral, o candidato disse que não concluiu nem o primário, mas sabe ler e escrever. O palhaço saiu candidato pelo PR, que em São Paulo está coligado ao PT. Apesar da popularidade, o comando da campanha da candidata à Presidência, Dilma Rousseff (PT), pediu que ele não mencionasse o nome dela.



No início do programa eleitoral de Tiririca, aparecia o rosto e o número do candidato ao governo de São Paulo do PT, Aloizio Mercadante. No entanto, o artista aparecia dizendo apenas “vote em Tiririca, pior do que tá não fica”. Mercadante não gostou e pediu para não ser associado ao palhaço.


Como todo político, o humorista conquistou desafetos. Uma dezena de candidatos passaram a integrar um movimento chamado anti-Tiririca. O candidato ao governo de São Paulo Paulo Skaf (PSB), que tem 3% das intenções de voto, aparece na televisão pendurando um quadro de Tiririca num tripé, dizendo que voto é coisa séria. “Por trás de cada voto que o Tiririca tiver, terá um eleitor dizendo que está de saco cheio de corrupção. Se os políticos não entenderem esse recado, haverá outros tiriricas no Congresso e até no governo”, ressalta Skaf.


Proposta

Até agora, Tiririca não apresentou proposta. Sua campanha se resume a piadas na televisão e em corpo-a-corpo na periferia de São Paulo. O Correio acompanhou um dia de campanha do palhaço no bairro de Itaquera, Zona Leste da capital. Por onde passa, uma multidão de pessoas carentes pedem para tirar foto com ele. Em todo momento, ele está vestido do personagem que ficou consagrado em programas de televisão. “Eu sou um sucesso porque eu falo a língua do povo”, vangloria-se. Ele assegura que, se eleito, quem vai assumir é o Francisco e não o Tiririca. “Uso o personagem só por causa do marketing. Em Brasília, vou ajudar as pessoas.”


Quando sai do personagem, Francisco vira um homem tímido chegado à bebida alcoólica. Conta que ganhou o apelido da mãe, já que vivia mal-humorado. Nasceu em Itapipoca, cidade de 114 mil habitantes no sertão cearense. Tem sete irmãos. Começou a trabalhar aos oito anos. Foi vendedor de algodão-doce e de picolé. A carreira como palhaço iniciou no circo. Também foi equilibrista, malabarista e mágico. Nos anos 1990, ganhou projeção com o sucesso da música Florentina.



DENUNCIADO PELO MINISTÉRIO PÚBLICO

Tiririca foi denunciado à Justiça estadual pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPE-SP) por falsidade ideológica. O humorista afirmou, em entrevista concedida à revista Veja, que declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não possuir nenhum bem, pois teria colocado o seu patrimônio em nome de terceiros, depois de responder a processos de sua ex-mulher. O promotor eleitoral Maurício Antonio Ribeiro Lopes pediu a quebra dos sigilos fiscal e bancário de Tiririca."
 
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