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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Do porque Marina não é apta a me representar I

Em entrevista a Rádio Jovem Pan (apud Estadão), ela criticou veladamente e sem citar nomes sobre a aproximação dos candidatos Dilma e Serra dos eleitores protestantes (não foi dito, mas pressunho: pentecostais). E se saiu dessa forma:

"Os fiéis sabem o que é um discurso de crença e o que é um discurso de conveniência".

Honestamente, se os "fiéis" soubessem diferenciar conveniencia de crença sincera, acho que certas igrejas não teriam um único seguidor. Porque na minha opinião, o problema é exatamente esse... eles não tem idéia. Passei a receber de alguns conhecidos por e-mail mensagens de todo gênero sobre Dilma ser a favor do aborto, a "assina de crianças", a favor do casamento homossexual, que não crê em deus ou no diabo, que isso e aquilo.
Tal como qualquer outro fanatismo, as pessoas que encaminham essas mensagens deturpadas, falsas, encharcadas do preconceito mais bizarro e atrasado, acreditam estar fazendo uma cruzada moderna em prol da sua crença, do seu deus. E sem se dar conta, escondem atrás de preceitos pseudo-divinos os seus mais profundos medos e inseguranças, sua incapacidade de conviver com a diferença, com aquilo que demonstra o tamanho da estupidez de viver segundo o que se dizia na mesma época em que se achava que a terra era plana, que a mulher era uma criada do homem, que um arbusto em chamas era manifestação divina (quando na verdade é combustão expontânea). Tudo o que ameaça seu pequeno mundo deve ser extirpado, sem delongas, sob pena do fogo eterno.
Cada um acredita no que lhe convém. Desde que não interfira na vida dos demais, qualquer um pode adorar uma toca no jardim dizendo que ali vive um duende azul que fala pelos ouvidos e vive de olhos fechados. Mas, a partir do momento em que as pessoas passam a pautar suas decisões nisso, aí temos um grande problema; porque essa pessoa pode começar a me cercar na rua dizendo que não posso sair de chinelos porque o seu deus/duende particular não gosta; ou que não posso andar de mãos dadas com a pessoa que amo, muito menos beijá-lá em público porque isso seria promiscuidade. Ou ainda, que ele pode matar essas pessoas por isso em nome dessa criatura imaginária.
Achou um absurdo? Isso é exatamente o que o discurso religioso tenta fazer com todos. O aborto é uma agressão à vida...? É. Mas a AIDS também é e a igreja não se importa uma linha sequer, já que desaconselha o uso da única coisa que protege as pessoas da transmissão.  Além disso, duvido que as pessoas saiam felizes de uma situação de aborto, pelo nível de agressão no corpo da mulher, mas sobretudo pela agressão psicológica na família toda.
Tem que se medir os pesos exatos. A gravidez é de risco? Existe alguma chance para fetos com morte ou ausência de massa encefálica? Se existe, os pais estão dispostos a sacrificar suas vidas pessoais para seguir ao lado de uma pobre criatura em estado vegetativo pelo resto da vida? Se sim, tudo bem. Mas se não, eles tem o direito de não passar por essa tortura psicológica. Outros problemas de uma gravidez indesejada devem ser considerado, como problemas de desenvolvimento, instabilidade financeira e familiar, apoio psiquiátrico. Em suma, aborto é uma questão complexa, que exige uma atenção caso a caso, com apoio psicológico e educação para familia. E nunca uma decisão dada por alguém que julga possuir um martelo moral para definir casos assim com base numa crença pessoal sem uma evidência que seja.

E Marina acredita nisso. Já disse publicamente que não abona questões de comportamento (pessoas homossexuais) e de saúde pública que contrariem suas crenças, embora alegue um respeito por essa decisão. Alguma dúvida que ela faria tudo pra impedir esse tipo de coisa? E se a sua interpretação de alguma outro versículo condenar algo que para a maioria das pessoas é normal? Que me importa o que a biblia diz? Eu preciso ouvir Moisés pra saber o que é certo? Basta ter uma idéia de como vivam naquela época pra saber que isso está errado. Como Saramago dizia, que pessoas podem hoje em dia acreditar que Abraão, Moisés, Elias ou quem quer que seja teria um contato privilegiado com algum deus que era negado a qualquer outro?

Quando Marina se diz a favor do direito dos homossexuais, mas não aceita o comportamento de quem escolhe viver com quem quiser com base no que sua crença lhe sussurra nos ouvidos, eu entendo melhor o conceito de conveniencia...

Se Marina precisa de um parâmetro biblíco para se guiar em questões morais, ela definitivamente não é minha escolha.

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