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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Sinais europeus...

Acompanho de longe (embora não tanto agora) a situação espanhola atual. Em meio à ruína econômica que assola o país, não falta quem diga que o acesso para o caos já era nítido há algum tempo. A forma absurda com a qual o sitema de controle aeroportuário barrava brasileiros de forma completamente arbitrária é um dos pontos chaves para entender o processo. Diariamente, acompanho no noticiário a frequencia assustadora de depoimentos desses brasileiros que demonstram mesmo o uso da força desnecessária, dos quais o caso do violonista e compositor Guinga não é uma das exceções, infelizmente.

Uma sociedade secular, que já foi um dos grandes centros de transmissão cultural do mundo, obviamente não cai por acaso. Para isso, normalmente contribuem o desleixo do poder público com suas obrigações mais básicas, introduzindo o descaso geral como norma. Aos poucos, esses descaso leva ao cada um por si, chegando às raias do desespero quando, numa tentativa de conter a entrada de imigrantes ilegais, chega-se ao cúmulo de nivelar por baixo toda uma nação e seus cidadãos.

Mas a Espanha dá outros sinais externos disso, ao demonstrar que seu sistema judiciário também ameaça desabar. É largamente criticado atualmente o afastamento por incríveis onze anos de Baltazar Galzón, um dos juízes que mais promoveu limpezas dentre os torturadores e evasores de divisas; em outras palavras, exatamente o tipo de pessoa que levou o país ao ponto em que se encontra. Ao condenar o magistrado que ficou famoso por levar o ditador Pinochet aos tribunais, a mensagem que transpassa é de que a justiça como tal já é passado naquele país.

Conheci uma argentina que vivia na Espanha por doze anos. De uma hora pra outra, sem emprego, sem ter onde ir. Como ela, venho conhecendo muitos outros, italianos, turcos, portugueses; viajantes, nômades em sua própria terra, em busca de emprego, de uma vida decente e feliz. O rosto de todos se ilumina quando peço detalhes da sua terra natal, mas o brilho rapidamente se esvai. Só reascende quando falo do Brasil, de como estamos indo, de como lentamente, depois de anos de uma política irresponsável que quase dilapidou nosso patrimonio, parece que estamos relativamente mais coesos do que jamais fomos como nação.

E como deve ter ocorrido em outros tempos, percebo nesse interesse pelo nosso país um eco de um passado não tão distante, em que outros europeus em semelhante estado buscavam melhor sorte num lugar que julgavam quase selvagem, mas rico em oportunidades.

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