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sexta-feira, 30 de março de 2012

Proselitismo...

Passei um bom tempo sem publicar o que quer que fosse aqui; sem internet, em lugar estranho é osso pra qualquer um. Por outro lado, agora deu uma estabilizada, e como venho acompanhando as notícias pela internet, esbarrei como de costume nesses problemas cotidianos que surgem no embate de ideias, ou de ideias e maluquices, se você preferir.
 
Começando pela ideia infeliz, pra dizer o mínimo, de uma professora de história no ABC paulista que usava vinte minutos diários da sua aula para...orar.


E como desgraça pouca sempre é bobagem, acabou que o primeiro que ousou não participar da oração porque era de outra denominação, foi exposto a bullying pelos próprios colegas. E pra piorar ainda mais,  a professora era de história. Você pode achar que não tem nada a ver ela dar aulas de história e que isso não vem ao caso, porque seria o mesmo se ela desse português ou matemática. Mas não é. Como professora de história ela deveria ter algo que as pessoas comuns não tem, que é o conhecimento dos erros no passado; ter ao menos ciência do que o movimento religioso realmente representou e representa na sociedade. O que ela ensinava quando tinha de falar sobre a Peste Negra, a Inquisição, o massacre dos huguenotes, o Holocausto? Que aulas de história eles estavam tendo afinal?? Se o que se ensinava ninguém sabe, sabe-se por outro lado que ela ameaçava dar zero a quem não orasse. Um exemplo didático que deixaria o ditador mais sorrateiro e hipócrita com inveja.

O trofeu dos sem noção ainda aguarda porque tem mais gente na fila; e como tem. Uma psicóloga do Paraná resolveu que não há distinção entre a igreja que frequenta e o consultório onde exerce a profissão. Resolveu nadar na contramão do que é considerado consenso entre todos os seus pares (laicos), e afirmar que homossexualismo é doença. Quando confrontada pelo Conselho de Psicologia, delirou abertamente ao dizer que estava sendo vítima de um complô ateísta. "Vítima" é uma palavra alegórica aqui e você verá muitos religiosos a usando para sua defesa, enquanto achacam os verdadeiros perseguidos nessa história toda.

Nos posts que coloca no Twitter, ela pede auxílio da oração de outros fiéis, diz que essa é uma provação que o diabo lhe impõe, além do que seu trabalho é "a ciência de Deus (...) Seu código de ética é a Bíblia. Seu psicólogo, Jesus. Seu juramento, “Eu voltarei”". Ou seja, você paga uma consulta à psicóloga para tratar de problemas reais, e acaba levando de brinde uma enxurrada dos seus delírios pessoais, incluindo toda uma pleiade de códigos e amigos que, sendo imaginários, só ela vê, ouve e conversa.
 
Mas quando se refere ao Conselho que deveria prestar contas, a santidade dos seus argumentos rapidamente se turvam para dar lugar ao que na verdade eles aparentemente escondem: o preconceito grosseiro e rasteiro, a arrogância e a infantilidade.  

 

Note que ela clama por alguém "macho", um termo que seria discutível nesse contexto para qualquer pessoa, mas que no de uma psicóloga é praticamente um absurdo. Além do que, ela demonstra ou quer fazer crer aos outros que o fato que parece importar aos seus "acusadores" não é a sua falta de compostura profissional, mas o quanto sua crença os incomoda.

O que esses casos tem em comum é simples de identificar; são pessoas, macacos pelados como eu e você, que um dia alguém botou na cabeça que estavam destinados a serem balizas morais dos outros. O que isso quer dizer é o de menos para quem desenvolve esse tipo de patologia. Para chegar a esse ponto, tiveram de abandonar completamente o bom senso, o senso crítico, sem falar, claro, no famoso e tão útil nesses casos, o senso de ridículo. Trocaram os questionamentos que nos deram os alicerces da civilização moderna pelo jogo de pique-esconde e o ta-ti-bi-ta-te metafísicos.

Essas pessoas deixam ver mais de si mesmas do que gostariam através da sua atitude. São pessoas que sofrem de algum tipo de carência gigantesca, e tem uma necessidade deprimente de se sentirem importantes, destemidas, heróicas; mais ou menos como as histórias de mártires que ouviram no passado.

Não gosto de crianças mal educadas, mas definitivamente, ver pessoas adultas falando como crianças é de dar azia em qualquer um. Façamos o seguinte: quer pregar? Vá para a igreja, onde as pessoas pretensamente vão para ouvir coisas desse tipo. Agora, não use sua posição social para impingir suas crenças e fantasias, porque diferente do que essas pessoas pensam, eu não preciso ser salvo. Sou um cidadão livre, com direito a acreditar no que eu quiser sem ser importunado, mas acima de tudo, eu mereço ser respeitado por isso, deixando os espaços públicos livres de delírios pessoais. 


  

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