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quinta-feira, 28 de junho de 2012

Sonhos...

Às vezes eu sonho quando durmo; são imagens esparsas, relâmpagos que cortam a escuridão da minha noite silenciosa. Eles vão e vem e neles não lembro de como cheguei ali... onde estava antes, quem são as pessoas que aparecem ali comigo, se estão vivas ou não (um fator que sempre me causa espanto é que a participação daqueles que se foram parece não soar absurda quando nos labirintos do teatro que a mente produz). 

Talvez ainda mais estranho que o rol das pessoas que integram esses relapsos do sono mais profundo seja a surrealidade do enredo que ali se desenrola; as mais banais, improváveis, sem nexo. As peças se torcem a todo momento, e de uma situação feliz, imediatamente pode seguir um desfecho aterrador e insano; de perseguidor a perseguido, de mocinho a um bandido sem caráter.

Para algumas pessoas, esses episódios que tanto devem ter afligido os homens de outras épocas ainda sinaliza um acontecimento nesse mundo real, como um aviso sem data nem hora, uma intermediação incompleta, aberta convenientemente à múltiplas interpretações; pode esperar por dias até que surja um evento que algumas características parecçam similares e pronto, era isso! Pra mim, essas pessoas continuam sonhando, mesmo depois de acordadas.

Meu cérebro é uma tempestade de raios contínuos, com sinapses intermitentes e cuja tarefa é construir modelos que me permitem entender o mundo à minha volta. Parece-me plenamente natural que em algum nível esse labor intelectual prossiga de uma forma enquanto minhas demais faculdades se desligam temporariamente. Mas no fundo não me parece nada mais que imagens sobrepostas como uma proteção de tela que paira incólume sobre o suspirar profundo.

O sonha nada mais é do que uma projeção; um solstício isolado que encontra seu momento de brilho quando o sol da lucidez se esvai com a noite. E quando a aurora chega, ele perde novamente o controle e volta às profundezas de mim, esperando a possibilidade de guiar a própria vida... de por em prática essa sugestão de um mundo que não faça tanto sentido, mas onde sentir seja uma experiência mais profunda, sem restrições ou ligações com a lógica dos eventos no mundo real. Uma utopia daqueles que são ofuscados por serem diferentes, por não poderem ser classificados, mas por isso mesmo, nem reprimidos.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Depois do estupro, a castração...

De tempos em tempos, eu lembro que esse blog existe e que é acessado, embora eu não tenha ideia por quem. Sei que é porque meu contador de acesso me diz. Então me vem uma vontade de continuar, embora tempo tenha sido um artigo de luxo ultimamente.Bom esse post é só pra pontuar uma notícia estarrecedora que soube hoje. 

Se alguém ouve falar que em algum lugar, estupraram crianças e que, aquelas que ousaram denunciar eram castradas, a primeira coisa que qualquer um pensaria seria uma tribo na África em tempos remotos, ou no Império Inca Antigo. Ledo engano. Uma investigação na Holanda publicada no jornal Telegraph, demonstrou que se eu achava que abusar de uma criança era o fim do mundo, católicos daquele país demonstraram que eu sou muito ingênuo. A notícia demonstra que, na década de 1950, as crianças abusadas que acusavam os padres responsáveis eram castradas cirurgicamente como castigo pela denúncia. As crianças abusadas eram castradas cirurgicamente como combate à homossexualidade mas também como castigo por ter denunciado o estuprador. Eu fiz questão de escrever duas vezes, porque eu também não acreditei quando li da primeira. Se você lê em inglês, a notícia está aqui; nela é possível ver que há pelo menos dez casos comprovados de castrações como represálias por denúnicias.

Agora, imagine comigo. Uma criança estuprada, porque é isso que é, um estupro. Abuso é um eufemismo usado quando se trata de falar de padres que escondem seu mal cheiro e podridão por baixo de uma batina hipócrita e moralista. Aí, depois do tralma sofrido, de tudo o mais, ela decide denunciar corajosamente e... uma comissão chega, a leva para hospitais católicos e lá elas eram castradas. Isso ocorreu em uma série de casos.

Depois disso, eu simplesmente não tenho palavras. Nenhuma... juro. Eu tento encontrar as razões que me fazem humano mas fico em dúvida do que realmente sou quando vejo membros da minhas espécie agindo institucionalmente dessa maneira. Não dá pra dizer animais, porque somos animais de qualquer forma, mas sobretudo porque animais irracionais não agem assim. Esse nível de sadismo supera todas as ambições da ficção dos malévolos. Não há nada nesse mundo inteiro que possa conter o sentimento de alguém mesmo que parcialmente honesto ao dar de cara com uma notícia dessas. 

Às vezes, o melhor desenvolvimento daquilo que se quer dizer é ficar em silêncio e assim eu escolho.