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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Duas opiniões sobre cotas raciais

Observe como ser negro ou branco nada tem a ver quando o assunto é um argumento claro que não tergiversa sobre o que se fala.

Primeiro, a opinião do humorista Hélio de la Penha. Coloque direto em 1'26 minutos para ir ao que interessa.



Compare agora com a opinião de Pedro Cardoso.

terça-feira, 24 de julho de 2012

A ilusão em "Smile"

Charles Chaplin (à esquerda sem maquiagem em 1920 e à direita no personagem que o consagrou)



"Sorri... vai mentindo a tua dor. E ao notar que tu sorri
Todo mundo irá supor que és feliz."

Eu sempre vi na letra de Smile uma divagação sobre o dilema do palhaço, que tem de fazer os outros  rirem, mesmo que esteja dilacerado por dentro. Vou usar essa ideia de ponto de partida, embora eu saiba que essa música não se preste como exemplo do que quero falar.
...

Ninguém gosta de sofrer, e nem preciso dizer que isso é fato. É uma sensação que ninguém deseja, mas que às vezes me faz pensar que algumas pessoas chegam a extrapolar esse sentimento, chegando a achar que ele não existe. Aqueles que aderem a esse pensamento podem ser identificáveis através de mensagens e dizeres que eu chamo excessivamente positivas. Mas existe positivo demais? Sem dúvida alguma. E isso é ruim? Péssimo.

Pessoas que tendem a esse comportamento às vezes não dão tempo ao tempo para pensarem profundamente sobre suas vidas. Estão sempre "pra cima", sempre dizendo que não se importam com "o que vem de baixo", e não vêem problema em consolar ou aconselhar o outro que sofre da mesma forma. "Ele não te merece", "ela está num lugar melhor agora", "foi melhor assim", e por aí vai. O que acontece é que isso pode ter o efeito contrário do que se deseja, e fazer com que a pessoa ali diante delasacabe parecendo estar melhor, parecendo ter superado, parecendo estar feliz. Uma tentativa vã de não parecer frágil aos olhos de quem parece tão alheio ao que se sente.

Não há, nesse mundo inteiro, prisão pior do que o fingimento. Pretender algo que você não consegue ser, não deseja e acima de tudo, não quer. Você pode esconder dos outros o que de fato você está pensando e sentindo por um bom tempo (ou uma vida toda) com uma boa dose de sucesso; algumas pessoas se tornam muito boas nisso. Mas você não vai poder esconder isso daquele travesseiro que te aguarda todas as noites na cama, nem do espelho que passa a vida esperando os outros passarem diante de si para que sua existência tenha sentido.

Com a melhor das intenções, temos a vontade de consolar um amigo que sofre e nos esquecemos do básico: se você perdeu alguém da família, se perdeu o emprego ou ele é um espinho dolorido e te causa dissabores um atrás do outro, ou ainda se seu relacionamento acabou, saiba que não existe consolo. Não naquele momento. Não no agora. As coisas levam tempo para se ajeitar e faz parte do processo da vida. Não fique enchendo os bolsos de escritores de auto-ajuda lendo "O Segredo" [de eu ter ficado rico sem fazer nada], "Quem mexeu no meu queijo?", nem "Homens são de Saturno, Mulheres são de Vênus" (ou algo assim). E não impinja isso aos outros, desmerecendo o sentimento honesto com palavras que o banalizam; querendo-os fazer acreditar que o sofrimento alheio é uma demonstração de fraqueza.

Se alguém sofre, é importante que procure um amigo de verdade para estar perto. Para falar do que sente sem ser interrompido por "não fica assim", "isso é bobagem" ou outras pérolas do ramo da literatura dos rasos. Esteja com alguém que sente do seu lado sem te julgar, que ponha a mão no seu ombro, te abrace e, mesmo, que chore com você. Que esteja disponível vez por outra ao menos para um momento verdadeiro num mundo tão superficial. E se você não é a pessoa que sofre, tente ser isso para alguém que você gosta e que passa por isso.

Lembre que rir e chorar é parte do que somos, parte da roda da vida. Voltar a sorrir sinceramente, e não para agradar um interlocutor insensível, demanda tempo e reflexão. Às vezes, tudo o que você precisa para encontrar sua alegria é não fingi-la num momento inapropriado. Cruzar o vale de lágrimas com certeza não é bom, mas é honesto se é como se sente. É ser humano o suficiente para admitir suas fraquezas ao menos para você mesmo e aprender a se ver no outro que sofre. E se precisar de ajuda profissional, procure-a pois isso não te faz menor. Se entender que alguém precisa disso, sugira.

Estar ao lado de alguém dessa forma é especialmente revelador, porque não basta recitar frases de efeito. Você tem de se abrir de verdade e buscar uma conexão mais profunda que a verbal. Não se espante porque a maioria das pessoas que conhece vão sumir nesses momentos; é uma atitude madura perceber, por outro lado, que é injusto exigir isso de qualquer pessoa. Mas para aqueles que são capazes, não há nesse planeta inteiro sensação melhor nem de maior confiança na nossa humanidade que olhar pra trás e perceber aquela presença firme e sincera quando todo o resto parecia instável.

Palavras voam com vento; atitudes ficam para sempre.


domingo, 15 de julho de 2012

Sobre bandas militares....


Não é novidade alguma para os músicos de bandas escolares, municipais e de igrejas de todo o país que as bandas militares representam uma oportunidade visível para uma carreira estável. Músicos adolescentes se vêem nas fardas oficiais das três forças e tem nelas uma promessa de seguir adiante aliando o que gostam de fazer com o ideal de uma profissão. E isso ainda torna mais difícil a adaptação quando muitos deles conseguem atingir essa meta e percebem que o meio, infelizmente, deixa muito a desejar quanto à profissionalização.

Quando você passa a conhecer a realidade que há por trás daquelas apresentações em praça pública que tanto incentivam esses jovens músicos, percebe que há um abismo de diferença entre a promessa e a realização, entre o sonho e a realidade. A rotina de competir para quem estuda mais (ou quem "toca mais") tão presente na vida das bandas civis contrasta imediatamente com a rotina diária em bandas militares. Nelas, profissionalizar-se é uma quimera, uma ingenuidade adolescente e sem futuro. Mais do que isso, é uma atitude indesejável e sem o menor traço de estima pela visão institucional dominante. Escondidos em hierarquias, graduações e patentes, muitos deles justificam essa postura com os argumentos mais variados e rasos possíveis; a ausência de um aumento financeiro, a inexistência de uma obrigação legal que faça com que isso seja praticado, a inveja pura e simples, e por aí vai.

O desrespeito à profissão de músico nas casernas é antigo e reflexo de uma série de fatores. Antes de mais nada, a própria incapacidade de comandantes de perceber o potencial literalmente inaudito desses homens e mulheres que compõe suas fileiras. Mas avança ainda mais; num mundo de sobras e migalhas, aqueles que as distribuem adquirem na sua própria visão um prestígio sem paralelo com nada do que teriam na sua vida cotidiana. Sem uma política institucional digna, a classe é deixada à mercê de líderes absolutamente incapazes e interesses variados e, às vezes, mesquinhos. Regentes desprovidos de talento e, muito pior, sem formação alguma arrotam sua ignorância abissal ao se vangloriar disso; ao se exporem diante de quarenta instrumentistas à sua frente sem ter uma vaga ideia do que fazem ali, eles não percebem o papel ridículo que representam para si e seus pares. É um jargão conhecido que os ensaios são feitos para "dar uma passadinha na música", e muitas das chamadas rotinas semanais constituem-se de uma tentativa canhestra de parecer que se faz algo, só para que o chefe da seção ao lado não perceba a inércia motivacional.


 O grupo de percussionistas das Forças Armadas da Suiça mostra num espetáculo que alia um rigoroso treinamento musical com o aspecto cênico e performático. Um exemplo que a música em bandas militares pode se valer da disciplina com resultados extremamente positivos.

No período em que pertenci a esse meio, vi e participei de alguns dos maiores absurdos que não achei que veria em vida: o caminhar muitas vezes de um lado pra outro no sol sem saber o porquê; tentativas de melhorias das condições de trabalho serem rejeitadas porque “vai trazer muito serviço”; regentes desesperados por um sinal visual durante a música para saber onde andavam na partitura e quando deveriam encerrar a música; a atitude debochada e sem paralelo dos que sempre julgaram sua posição hierárquica uma justificativa para que a sua estupidez fosse não só tolerada, como também aceita e seguida; e ainda a humilhação degradante e de forma pública de uma voz discordante, independente das suas razões serem acertadas. As exceções existem em grande número, e muitos dos melhores músicos que conheci pertencem a essas bandas. Mas eles representam uma minoria cuja individualidade vai se corroendo com o tempo porque ninguém aguenta viver contra um sistema inteiro o tempo todo.

Costumo dizer que as bandas militares ainda procuram seu lugar enquanto instituição. Elas não se encontraram ainda e talvez todo esse conjunto frustrante de experiências colhidas por mim e outras pessoas sejam um tipo de assentamento tectônico natural para que as arestas sejam aparadas e alguém finalmente tome uma atitude em relação à isso. Mas esse continente se move devagar e não há demonstração de uma saída a médio prazo. A impermeabilidade desse meio faz com que as mudanças dificilmente sejam vistas como coisa boa. 

Por outro lado, as saídas existem, e são várias; para começo de conversa, atacar a formação é fundamental. A abertura de concursos independentes para regentes com formação na área seria uma forma de garantir que aquele que está à frente do grupo possua pelo menos a condição mínima de falar sobre aquilo que exerce e conduzir um ensaio adequadamente. A valorização de grupos de câmara dentro dos naipes de instrumentos com trabalhos paralelos ao da banda em si, com horários de ensaios definidos, rotinas de trabalho e apresentações próprias também são uma forma de dinamizar e incentivar. A criação de uma estrutura interna saudável de trabalho, com setores independentes para a digitação de partituras e manutenção de arquivo, o secretariado e trabalhos burocráticos, uma comissão de relações públicas pronta a dar declarações e entrevistas sobre música e afins, projetos dinamizados que incluam a formação de plateias em escolas e eventos públicos.

Além desses, pessoalmente tenho a convicção que um grupo de quarenta profissionais usados única e exclusivamente para atender a uma demanda interna de um desfile semanal é subaproveitar o material humano em mãos. Parcerias entre governos federal, estadual e municipal poderiam usar os voluntários desses meios na criação e manutenção de bandas de música pelo país a fora e que tantas vezes são mantidas muito mais por entusiastas mas sem uma opinião mais adequada sobre a prática do fazer musical.

Ver a banda passar pode ser uma atividade prazerosa e da qual as lembranças são sempre vivas na memória. Mas é preciso notar que, se tal qual na música de Chico Buarque, tudo volta ao normal depois que ela passa, também para as bandas militares os curtos momentos nas suas apresentações podem representar também para eles um acontecimento fora do usual, onde tudo volta ao normal quando retornam à sua realidade pouco estimulante.


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Padres e padres

A Igreja Católica teve a sua longeva história marcada por atritos e discordâncias, seguidos de momentos em que a tentativa de contorná-los podia ou não ser bem sucedida. A Reforma e a Contra Reforma demonstram isso em uma perspectiva mais ampla, com a cisão da verdade cristã e o início de uma série de denominações que se multiplicam a cada dia ainda hoje.

Entretanto, ainda que não seja divulgado com a frequência desejada, as atitudes críticas em relação à postura oficial da ICAR aconteceram e acontecem em níveis mais sutis dentro dela própria. Se é certo que essas divergências não se localizam em aspectos fundamentais da doutrina ou provocariam uma nova cisão, também o é que elas podem ser bastante ruidosas e deixar rusgas e marcas entre grupos diferentes, ainda que não sejam visíveis ao público externo.

Acompanho o enterro de Dom Eugênio Sales e o balanço que é feito rapidamente pelos meios de comunicação à sua atuação no que foi o mais longo episcopado do país. Antes de mais nada, uma coisa é certa: ele pode ter sido uma grande pessoa e sua atitude de proteger perseguidos políticos na ditadura pesam muito a seu favor. Não vou cair no erro fácil de julgar a facilidade de fazê-lo quando a ditadura em si já perdia as forças e não representava um perigo tão grande assim; quem vive a sua época é que sabe os perigos a que é submetido.

Mas, ainda assim é preciso que se pontue sua postura conservadora, convenientemente aliada aos interesses do então cardeal Ratzinger. Mais do que isso, ele combateu o envolvimento político das CEBs (comunidades eclesiais de base), especialmente materializados na doutrina conhecida por Teologia da Libertação. As críticas mais comuns que a Igreja fazia ao movimento eram que essa teologia colocava os pobres como elemento mais importante que Jesus. Embora por si uma justificativa absurda, na prática fica ainda pior porque era uma tentativa de impedir que uma interpretação incômoda dos Evangelhos submetesse os poderosos à justiça terrena.

Por ser do interesse da cúria romana, sua ala foi favorecida em detrimento de bispos como D. Paulo Evaristo Arns, Dom Oscar Romeno ou Élder Câmara, que eram alguns dos expoentes da Teologia da Libertação. Nesse sentido sua biografia se apequena; ele pode ter ajudado refugiados políticos, mas esteve longe, muito longe de ter sido uma voz que se levantou contra o regime ditatorial. Como arcebispo de Salvador, teve a mão muitas vezes beijada por Antônio Carlos Magalhães; ele, em pessoa celebrou a missa de corpo presente do filho de ACM, Luis Magalhães, mais recentemente. Ou seja, ele tinha livre acesso aos poderosos. Em entrevistas, dizia-se amigo de generais do regime e que eles respeitavam sua independência. Não parece ter-lhe ocorrido que esse respeito devia-se simplesmente ao fato da sua independência não incomodar em nada o regime em si. Num mundo de carnívoros, Dom Eugênio foi, no máximo, um herbívoro bem intencionado.

A pomba solta dentro da igreja no seu velório, sem ter onde ficar e atordoada por estar num ambiente estranho acabou pousando no caixão de D. Eugênio, numa clara demonstração que era o local mais plano e com menos pessoas perto já que se encontrava longe das demais pessoas que se aglomeravam para vê-lo. Mas longe dessa interpretação dos fatos, leio que sua permanência ali impressionou os fiéis profundamente e que isso poderia apontar como um sinal de santidade do mamífero que jazia dentro do caixão (como se sabe, a pomba é o símbolo do Espírito Santo para muitos cristãos, sobretudo católicos; e um artigo no blog do Nassif evoca semelhante analogia no candomblé). Se isso fosse verdade, e não cogito essa possibilidade nem por um segundo, seria duplamente irônico perceber que a pomba defecou sobre o caixão. E agora, isso também é um sinal...? Ou não é porque estraga a teoria que se quer montar sobre os fatos?

terça-feira, 10 de julho de 2012

Divagações de uma viagem na Suiça

Outro dia no trem vindo de Milão a caminho de Lugano vi uma cena que foi ao mesmo tempo constrangedora e didática; constrangedora porque não há como não nos ver na humilhação que outro ser humano passa nas situações mais bizarras desse mundo, e didática porque sintetizou numa única cena materializada bem na minha frente, toda uma relação de poder e exploração, com seus desdobramentos.

Um senhor negro viajava na minha frente (as poltronas são dispostas de uma forma que grupos de quatro pessoas ficam sempre frente a frente) desde Milão, quando vi surgir numa das entradas do vagão em que estávamos os guardas da imigração. Eles fazem revistas rotineiras nessas viagens, e eu mesmo já tinha sido interpelado umas quantas vezes. Sempre bem vestidos, os dois arianos claros como o dia me olharam e gentilmente pediram meu passaporte. Perguntas normais, "onde está indo", essas coisas. Me desejaram bom dia com um sorriso discreto que logo se turvou na face dos dois quando olharam esse senhor à minha frente.

Como se visualizassem uma ameaça até então oculta para as pessoas que ali iam, o tom de voz imediatamente se alterou, frontes crispadas e falando em um italiano alto, eles lhe perguntaram quem era e pediram pra que esvaziasse os bolsos. Bilhetes velhos, um pacote de balas aberto, quinquilharias banais pareceram ganhar contornos de arma secreta para os guardas que examinavam os pertences com luvas de borracha. Pego de surpresa, o bom homem perguntou se tinha algum problema, com uma expressão claramente de quem não entende o tratamento que lhe dispensam. A atitude foi mal interpretada pelos arianos que exigiram que o tal senhor se levantasse. 

Começou um verdadeiro interrogatório na frente de todos, com o pobre homem tremendo e visivelmente consternado por ter sido escolhido como exemplo diante de pessoas que não conhecia, e provavelmente jamais conhecerá. Os guardas, por outro lado, pagos para identificar estereótipos dos quais sua sociedade deve ser resguardada; dos sem cultura, sem educação, vagabundos sem alma que tentam destruir o mundo encantado em que vivem. O diálogo se seguiu por vários minutos, mas confesso que a partir de determinado ponto, eu fui deixando-o em segundo plano. A cena diante de mim falava mais, em um tom muito mais berrante e desagradável, e me foi impossível não transferir minha atenção para ela.

Sabemos que dos altos céus um grupo de dez a quinze pessoas divide esse planetinha de merda de acordo com seus interesses; eles controlam sistemas políticos, o consumo, as crenças, a cultura. E suas atitudes nunca refletiram uma única preocupação com as consequências que o jogo de quem tem mais causa nas pessoas. Pois eis que aqui no mundo real, num dos trens do melhor sistema de transporte do planeta e bem diante de mim, dois indivíduos bem empregados de um país onde investimento não falta mas cujo manutenção vem diretamente do investimento de tudo que é roubado e surrupiado em várias países do globo, achacavam diante de si um perplexo senhor, provavelmente vítima dessa exploração em seu país de origem e obrigado a procurar emprego em outras pastagens.

Não havia de quem cobrar a conta. Pouco adiantava, se ele tivesse consciência disso, dizer ali que os papéis estavam invertidos; que ele não era o marginal, que não era sua culpa ter sido explorado ao ponto de sair pelo mundo em busca de sobrevivência. Dizer ali que deviam ser eles a lhe pedir desculpas por apoiar e louvar esse sistema, de um país que sequer se importa de onde vem o dinheiro que irriga as obesas contas que são sua principal fonte de renda. Que ele já havia sofrido o suficiente por uma vida só e que não se fala assim com outro ser humano, especialmente estando triplamente errado como no caso deles.

Mas essas foram divagações da minha cabeça. No mundo real diante de mim, o homem era levado corredor à fora, à vista de pessoas em cujo olhar transparecia, como último insulto, um sentimento de desprezo para com aquele que ali ia, ainda que todos nós, eu, o senhor negro, os guardas arianos, senhores e senhoras de bem ali sentados, tenhamos descendido da mesma ameba e fossemos, por isso mesmo, todos irmãos de uma mesma raça. Convenientemente dividida para que se culpe uns aos outros lá na terra pelo infortúnio que vivem, enquanto seus mandantes lá no céu gozam da reputação de continuarem sendo sagrados.