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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Os conflitos nos países árabes.

Tudo parece ter acontecido de uma hora pra outra. Mal tivemos a virada de ano e uma enchurrada de revoluções pipocam do outro lado do mundo; gente que não teme a morte e segue adiante, por vezes sob a ameaça velada, outras nem tanto, do poder dominante. Pois é, mas só PARECE ter sido repentino. Se fomos pegos de surpresa por populações de países inteiros completamente descontentes, foi pura e simplesmente porque isso não era noticiado na mídia tradicional.

Passamos boa parte do ano passado vendo a baixaria das nossas próprias eleições aqui, que cheguei a comentar aqui no blog em um post anterior. Ficou demonstrado que grandes corporações midiatícas defendem um lado da história (frequentemente, o seu próprio). Pois dessa vez não foi diferente.



É preciso que se diga: a razão pela qual você pode não ter ouvido falar dos problemas desses países árabes é pura e simplesmente porque apesar de viverem em ditaduras por décadas, esses governos tinham o aval dos Estados Unidos e portanto de boa parcela da comunidade internacional. Por que? Escambo. O papel desses governantes é/era manter sob controle os muçulmanos que ali vivem e servir de base de apoio para os EUA. Em troca, são/seriam endossados pela economia norte-americana. Pouco importa se isso seria bom ou ruim para as pessoas; seu desejo foi, mais uma vez ignorado.

Quem acompanha algumas das idéias que discuto aqui sabe que tenho sérios problemas com religiões, sobretudo com o fanatismo religioso. A crença sem qualquer tipo de evidência faz dos que a ela se submetem servos sem juízo crítico; quando homens explodem-se matando outros, há quem comemore isso como uma vitória com base em preceitos divinos; o mesmo é válido para pastores presos com dinheiro ilegal e soltos em seguida sob oração dos fiéis e padres pedófilos que são transferidos sem punição para outra paróquia. Entretanto, por maior que seja o perigo que essas religiões fundamentalistas representam, essa mordaça ditarial ou abonar esse tipo de comportamento não é justificável.


O que acontece hoje no norte da África é reflexo de uma população reprimida, sem direitos civis e sob péssimas condições de vida. Permitir que eles se organizem por si, com governantes e parlamentos próprios e independentes, com liberdade de se expressarem pode ser dificil de aceitar para alguns. Especialmente para quem os consideram um perigo a nivel mundial, e sobretudo por quem tem interesse na posição estratégica que eles ocupam naquela região. Impor a mordaça parece ser mais simples e economicamente viável nesse caso do que dialogar. E com isso empurramos com a barriga mais uma vez a questão histórica da repressão daquilo que não conseguimos debater.


O viés dessas revoltas populares encontra seu pano de fundo numa conjuntura econômica nefasta; pessoas contrárias aos interesses norte-americanos devem ser contidas para não prejudicar sua influência. E pouco importa que isso fomente ditaduras e mortes. A opinião pública se cala porque também não vê com bons olhos o fanatismo exacerbado de quem considera os não crentes em alá um infiel. Afinal, se representam um perigo para nós, porque se importar? Bom, primeiro porque em se tratando de ideologias, a repressão nunca foi a chave para a sua extinção, por mais ruins e criminosas que sejam. E combatemos idéias, sempre; nunca pessoas.

Não é à toa que vivemos nesse paradoxo em que as religiões se proliferam como mato ainda hoje, por mais que a ciência e o conhecimento estejam cada vez mais acessíveis. Adquirir o conhecimento é uma construção ampla e demorada; a fé é mágica e de fácil aceitação, e isso por si só já diz muito sobre cada um desses processos. Por mais que se ore pra passar em um concurso, por exemplo, e diga-se que se não for a hora, ou se não for a vontade de deus não rola (etc,etc), não conheço ninguém que passe sem estudar de verdade, pra valer.

Isso não quer dizer que eu não respeite a religião das pessoas, ou sua necessidade de possuí-la. Quer dizer dizer apenas que acho que o mundo seria muito melhor sem elas. Por outro lado, também não sou favorável a esse comportamento permissivo à repressão dos direitos das pessoas com base no quanto suas crenças atrapalham o avanço economico do mercado.

Existe um motivo pelo qual chamamos um país de autônomo: dentro de seus limites, desde que não prejudiquem as pessoas nem interfiram nos demais, seu povo é livre para gerir sua sociedade da forma que julgar melhor, independente que suas decisões prejudiquem os interesses se A ou B. E a disseminação do conhecimento fará o resto, sem conversão de nenhum tipo, mas através da exposição lógica que uma suposição só pode ser sustentada com base nas evidências que são demonstráveis.




Um comentário:

Berzé disse...

Oi Vinicius,
Tô na área. É iso mesmo, noticiam seus próprios interesses. Empanturram a gente das notícias deles.Mas é bom saber que tem gente atenta.
Abração
Berzé