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sábado, 26 de março de 2011

Audições na OSB 5

Matéria divulgada no blog do Nassif sobre a entrevista de Roberto Minczuk em 23/03/2011, a respeito das audições realizadas na OSB. Ao que parece as audições terminaram na segunda passada e dos 82 músicos, 35 vieram. Posto em seguida dosi comentários dessa matéria no próprio blog do Nassif, que julguei pertinente por serem feitos por dois músicos conhecidos e ambos ex-executantes da OSB. Demonstram pontos de vista e ênfase diferentes, como se há de notar.
Segue a entrevista.

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"Vamos repatriar nossos 'Ronaldinhos"

Roberto Minczuk, regente-titular da OSB, anuncia seleção em Nova York e Londres e desejo de recuperar talentos brasileiros no exterior
Hoje à tarde, músicos e direção da Orquestra Sinfônica Brasileira tentam reconciliação no Ministério do Trabalho
Joel Silveira - 22.out.2004/Folhapress
Maestro Roberto Minczuk à frente da OSB
CRISTINA GRILLO
DO RIO

Pela primeira vez em seus 70 anos, a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) fará, em maio, seleção no exterior para contratar instrumentistas. As sessões acontecerão em Londres, em Nova York e no Rio. Há 13 vagas abertas-algumas há mais de dois anos-, mas o número de contratações é indefinido.
Desde janeiro, a orquestra enfrenta uma crise por causa da decisão de avaliar seus músicos. Apenas 35 dos 82 instrumentistas compareceram às audições -os que se recusaram a participar podem ser demitidos.
"Vamos repatriar nossos "Ronaldinhos'", diz Roberto Minczuk, 43, diretor artístico e regente-titular da OSB, sobre a possibilidade de trazer do exterior músicos brasileiros de alto nível.
Hoje será um dia decisivo para a OSB. Em reunião à tarde no Ministério de Trabalho, as duas partes tentarão chegar a um acordo.
Enquanto os músicos querem a suspensão das avaliações, a direção propõe a reabertura do plano de demissões voluntárias -ou seja, sinaliza que aqueles que não participaram das avaliações serão demitidos.
À Folha, Minczuk nega a fama de ríspido e diz que não pretende, por ora, levar a OSB ao exterior. 

Folha - As audições de avaliação terminaram na segunda. Qual é o balanço final?
Roberto Minczuk
- Dos 82 músicos que deveriam se apresentar, 35 vieram. Temos seis atestados médicos, então essas audições serão remarcadas. Fiquei surpreso. Desde o início, deixamos claro que o intuito não era demitir ninguém, mas dar "feedback" para os músicos e resolver questões da orquestra.
Quais?
A OSB não tem relatórios escritos de avaliações até 2006. A partir daí, temos registro de tudo. Sabemos que, antes, as audições eram feitas com certa informalidade, com repertório simplificado.
Vários músicos nunca fizeram concurso para entrar na orquestra. Temos casos de posições chave, de solistas e até de spallas [o primeiro violino da orquestra] que nunca passaram por audição.
Outra finalidade era dar oportunidade aos integrantes de ocupar categorias superiores. Tenho 13 posições abertas na orquestra há muito tempo. Vários músicos se candidataram a essas posições nas audições. Um de nossos violistas foi promovido após a avaliação.
Só com audições individuais é possível identificar exatamente a afinação de cada um, o vibrato [a oscilação da corda de um instrumento], a qualidade dos instrumentos de cada um...
Percebemos que alguns precisam adquirir instrumentos de qualidade superior. Agora, com a remuneração entre as melhores do país, eles poderão fazer isso. É o que vai fazer a diferença do bom para o ótimo, do ótimo para o soberbo.
Os músicos se queixam de que o nível de exigência do repertório escolhido para as avaliações foi muito elevado.
O exigido é o "standard", o que foi tocado nas últimas temporadas: Beethoven, Brahms... Além disso, pedi uma peça solo, que demonstra o conhecimento de estilo, sonoridade, afinação, coisas básicas, e uma peça de livre escolha. É o básico para qualquer bom músico em qualquer lugar.
Tiveram dois meses, um de férias, outro de trabalho, em que a orquestra pagou para que se preparassem. Um bom músico, em minha opinião, prepara um repertório desses em três semanas.
Estamos oferecendo salários de R$ 9,3 mil a R$ 11,3 mil. Vemos a Osesp crescendo, a orquestra de Minas crescendo. Como a OSB pode ficar acomodada?
Teremos audições abertas em maio no Rio, em Nova York e em Londres. Já temos brasileiros que estudam ou atuam lá fora inscritos.
É a primeira vez que fazemos isso. Agora, com salários competitivos, conseguiremos até repatriar os nossos "Ronaldinhos".
No primeiro semestre, vamos completar a orquestra e, no segundo, quando passa a vigorar a nova remuneração, teremos mais ensaios, mais dedicação. Os ensaios serão de manhã e à tarde, coisa que a OSB nunca fez.
Como é atualmente a rotina da orquestra?
O máximo que a orquestra trabalha é até sete ensaios ou concertos por semana, cada um com no máximo três horas. Vamos passar a ter nove funções semanais, com ensaios à tarde como faz a Osesp e orquestras lá fora.
Isso vai exigir dedicação maior. Temos músicos que tocam em mais de uma orquestra. Cada um vai ter que tomar sua decisão.
O que vai acontecer com os músicos que faltaram?
Essa é uma questão administrativa, jurídica, que não cabe a mim.
Mas como diretor artístico, o que o senhor pode fazer?
O conselho vai decidir sobre essa questão. A partir daí, vamos ver como proceder artisticamente.
Será possível continuar a trabalhar com os músicos que se recusaram a ser avaliados?
É cedo para dizer. Temos que nos reunir, conversar. A questão foi levada à Justiça.
Como foi o desempenho dos que participaram?
Foram bem avaliados. Pretendo me reunir com cada um, fazer ajustes.
Os músicos se queixam de que o senhor é ríspido.
Gostaria que os ensaios fossem transmitidos pela internet. Isso acabaria com esse negócio de dizer que sou ríspido. Sou intenso, muito exigente, mas não sou ríspido. Sei exatamente como cada músico deve tocar.
Evidentemente, se uma pessoa comete o mesmo erro três, quatro vezes, mudo a forma como estou pedindo.
De zero a dez, que nota daria à orquestra?
Há aspectos técnicos, de emoção e de performance a serem levados em consideração. Seriam notas diferentes.
A orquestra tem muita garra, mas precisa aperfeiçoar afinação; é brilhante, mas tem que ser mais precisa tecnicamente. Há ainda variação de concerto a concerto.
O que queremos é constância, uniformidade. Na temporada 2010, fizemos concertos excelentes, outros abaixo da expectativa.
O senhor teria confiança de levar a orquestra hoje para uma turnê no exterior?
Ainda não. Por isso precisamos passar pelo processo pelo qual estamos passando."



COMENTÁRIOS

Paulo Sérgio Santos

"Eu sou clarinetista ha mais de 40 anos. Nunca estudei no exterior. So dei aulas e toquei e toco no exterior. Algumas pessoas veem estudar comigo vindo do Japao, Europa e Estados Unidos. So toquei musica brasileira fora do Brasil, erudita ou nao, porque toco as duas coisas e dizem que bem.
Fui primeiro clarinetista durante 18 anos na Orquestra Sinfonica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e ha uns 18 sai dela. Toco no Quinteto Villa-Lobos desde 1977. Nos ultimos anos, fui convidado a participar em concertos na Osesp e OSB. Nunca aceitei porque a remuneracao proposta sempre foi ridicula em relacao ao que ganham os maestros destas instituicoes completamente e, na minha opiniao, burramente endeusados.
Nao tenho NENHUM interesse em relacao ao que se faz na Europa, Japao ou Estados Unidos porque eu tenho compromisso com a musica que eu tenho na minha cabeca e alma. Isso me basta!
Concordo totalmente com a exposicao do Carlos Henrique Machado e repudio totalmente quem utiliza a admiracao pela musica e cultura  europeias para DIMINUIR o que ee feito ou foi feito no Brasil.
Eu nao troco a musica do Brasil POR NENHUMA OUTRA DO MUNDO! E conheco musicos brasileiros que nao estudaram no exterior e sao IMBATIVEIS! Pensar em construir orquestras e centros culturais baseados na cultura europeia ou em outra qualquer, para mim (e Mario de Andrade!), eh um grande erro. Um erro crasso que soh eh frequentemente cometido por pessoas que tiveram a infelicidade de nascer no Brasil pois queriam ser europeias ou americanas ou japonesas. Desconheco algum concurso realizado pela Filarmonica de Berlim ou Chicago ou Viena ou Venezuela (que tem uma qualidade excepcional e poucos sabem!) que tivesse audicoes no Rio de Janeiro ou qualquer outra capital brasileira.
Dizer que o Brasil nao tem escola de musica ee o maximo da PRETENSAO e TUPINIQUISMO! Brasileiro que age ou pensa desta forma deveria ser convidado a se retirar do Pais ou ser preso! Chega de "complexo de vira-lata"!
Para mim, Villa-Lobos nao esta entre os 10 melhores compositores do mundo e sim ocupa os 10 primeiros lugares. Depois a gente fala em Bartok, Ligeti, Xennakis, Pierre Boulez dentre tantos outros excelentes compositores.
O mundo estaa muito cheio de cronometros, estatisticas  e planilhas e gente boba e equivocada que se impressiona muito com os aparentes resultados maqueados e tecnologia sensacionalista.
Pior do que estas pessoas acometidas por este mau sao as outras IGNORANTES que, poderosas, conferem tanto poder e importancia a individuos e pensamentos completamente malignos e  consequentemente mediocres! Alguns sao tao talentosos mas se encontram apodrecidos na sua essencia, doentes e paranoicos, nutridos por essa seiva cujos nutrientes sao o  poder financeiro, o poder da midia, a falta de consciencia e a falta do verdadeiro conhecimento do assunto.
Esse comportamento lamentavel ee que nos assegura a qualidade de TERCEIRO MUNDO e nao o inverso!
Gloria aos tupiniquins!
Quando isso vai mudar? EU NAO SEI! Talvez nao mude."




Fernando José Silveira (respondendo a um comentário anterior)
"Caro Brejtmann,
O que você está sujerindo é que contratemos Regentes de fora?? Sua comparação ao futebol, pelo menos para mim, indica isso.
Uma pergunta que o Sr. Minczuk não tem resposta se reporta à sua formação como regente: ele simplesmente não tem! SIM, ele não possui uma formação em regência! Porquê os músicos precisam ter uma formação sólida - em escolas de música e universidades de renome - e ele não?? Parece que os pensamentos do Sr. Minczuk quanto à qualidade musical só não dervem para ele...
Quanto à qualidade de seu trabalho, bem... Trabalhei com ele na OSB durante seus primeiros quatro anos e, comparado a outros grandes maestros com quem trabalhei - como I. Karabichevisky, Masur, Rostropovich etc - podemos dizer que ele ainda é um aprediz. Talentoso?? SIM! Mas, por enquanto só isso...
SIm, o Brazil já teve sua fase de importar regentes e músicos de fora (ou que obtiveram sua formação fora do Brasil) que pudessem contribuir para o desenvolvimento da música por aqui. Nomes?? Noel Devos, José Botelho, Zdenek Svab, Jean Noel Sagard, Szenka etc... Mas hoje, posso te garantir que tanto na música popular quanto na música 'erudita' temos qualidade suficiente para nos sustentarmos.
Não é verdade que não temos escolas de música incapazes de formar bons músicos. É verdade que encontramos mais dificuldades - principalmente no que tange à recursos materiais. Porém vejo que encaramos estas dificuldades com muita responsabilidade. Temos excelentes professores em todos os cantos de nosso país. Digo isso porque, nos últimos 5 anos - tenho sido constantemente convidado a dar aulas e a tocar por todo o mundo e posso atestar que nossos músicos não deixam nada a dever as colegas estrangeiros. Muito pelo contrário: o contato com nossa rica cultura brasileira permite ao músico brasileiro diferenciais que outros gostariam de ter...
Cabe a pergunta: por que o 'mundo da música' se coloca firmemente contra as decisões do Sr. Minczuc?? Eles não são brasileiros e nos apoiam porque querem... Será um complô contra o Sr. Minczuk?? Ou será que os problemas referentes à música só podem ser realmente entendidos por que dela participa e conhece??"


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