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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Contos suiços 2

Duas brasileiras...

(irritantemente inaudivel)
-Oi... lembra de mim?

-Não, eu deveria?
-Eu estive aqui duas vezes há uns seis meses atrás.
-Ah, deve ser por isso, é muito tempo e recebo muita gente aqui.
(risinhos)
-Você ia voltar pro Brasil, não?
-Pois é, eu voltei... mas resolvi voltar de novo.
(ri de novo sem se dar conta que ninguém acha graça)
-Mas... sabe... é que sou arquiteta de interiores, vim pra cá há uns anos estudar Feng Chui... acabei descobrindo o meu 'eu' interior, minha vida se transformou aqui como eu nunca imaginei... é quase parte do que sou.
-Hm... bom saber. Mas você queria voltar para o Brasil, não?
-É, por causa da família... você sabe, saudades e tal.
-Mas então?
-Então eu fui, fiquei lá um pouco e precisava voltar. Percebi que não era completa lá.
-Desculpa, não entendi... onde você se sente bem.
-Lá e aqui... lá eu tenho amizades, amigos. Também aproveitei para ir até o Planalto Central e meditar à espera dos discos voadores que têm aterrizado lá.
-Viu algum?!
-Não... mas comprei esse chaveiro, não é uma gracinha?
-... Tá, mas tava falando que tá de volta...?
-Ah, sim... eu precisava de espaço.
-Mais espaço que no Brasil daquele tamanho?
-Ah, mas é que a energia lá não tava boa, sabe... as coisas são assim pra mim, quando é pra ser, não tem jeito.
-Mas e voltou porque, mulher...? Parece tão triste...
-Ah, você percebeu?
(fingindo mal uma surpresa)
-Nada não... eu sou assim. Acabou que não vim direto... parei na França por dois meses. Quis ver onde o Kardec viveu, mas me perdi...
-Que Kardec? Allan Kardec?
-É, eu gosto de estar em contato com pessoas de bons fluídos... mas como eu falava, me perdi naquela droga de cidade, aí resolvi: "vou pra Inglaterra". E fui.
-Londres?
-Não, aquela cidade é horrorosa. Fui para uma cidadezinha do interior, linda, onde teve alguns pousos confirmados.
-Pousos?
-É, ficaram conhecidos como círculos nos campos de trigo...
-Mas isso deu na tevê; dois rapazes que fizeram.
-Nããoo...!! Isso é para as pessoas não se apavorarem.
(se curva na direção da outra e sussurra)
-Sabia que eles estão me observando?
-...
-Não olha agora, mas aquela máquina de café no outro lado da rua é um deles.
-... Mas... (engole em seco e tenta reconduzir a conversa) você falava que aqui é que se encontrou?
-Simm! Adoro isso aqui. Mas as vezes é tão triste, sabe...?
-O que?
-Assim, viver longe do Brasil...
-Mas você tem de se decidir. Lá ou cá.
-Mas eu gosto dos dois, e não consigo decidir.
(faz uma pausa rápida e volta a cochichar)
-O que foi isso?
-Isso o que? Tá me assustando...
-Não ouviu?
-Não...
-Deixa pra lá, deve ser só o vento.
-Não tem vento.
-Não? Hm... Acho que eu vou indo então.
-Claro, apareça sempre.
-Porque?
-... Como assim? Porque você é bem vinda aqui.
-E porque não seria?? Quem é você??
-Eu?
-Onde está a Maria?
-Aqui nunca teve Maria nenhuma.
-Bom, quando ela aparecer, diz que eu mandei lembranças.
-Tá, beijinho, querida.
-Tchau...
(assim que ela sai, a outra corre e fecha a porta. Se senta pra respirar e ouve a batida no vidro atrás de si. Olha assustada e de sobressalto vê a outra com o rosto colado no vidro a poucos centímetros dela)
-Aí!!! Que susto!
(com voz abafada e quase chorando)
-Quer tomar um café comigo?
-Não posso! Vou trabalhar agora.
-Tudo bem, eu volto amanhã.
-Claro.
-Sabe, acho que vou pra China ver a muralha...
(e vira as costas sem parar de falar e caminha até a outra perdê-la de vista na neve).

...

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