É muito fácil criar o pânico que os jornais e tevês transmitem
hoje em dia. E não é difícil demonstrar como isso pode ser feito. Três ou
quatro pessoas bastam. Se cada uma delas contratar uns pobre diabos com a
missão de parar um ônibus, mandar todo mundo descer e tocar fogo, saindo em
disparada em seguida, poucas pessoas argumentariam que seria impensável. Ora,
qualquer um pode subir num ônibus e anunciar a ordem de evacuação, um assalto, ou
mesmo aquelas pregações que ninguém ali pediu (ou teria ido a uma igreja ao
invés de bater perna). Ofereça ainda como troféu R$ 50,00 a cada posto da PM
que eles conseguirem alvejar com suas armas calibre 12, montados em motos 125.
O resto, a imprensa e os duplicadores de redes sociais fazem
por conta. “Ataques já somam 12 ocorrências”; “secretário Ciclano fala em 60
mortos”, e pouco importa se ele incluiu o fluxo regular de homicídios que um
estado normalmente tem; afinal, quem está prestando atenção?; “a polícia já
prendeu X pessoas”, mas aparentemente ninguém fala a mesma língua já que não
são dados os nomes de quem seja o mandante, nem o por quê. E com base em
manchetes como essa, a “rede” se agita e encarrega-se de transmitir a mensagem:
o crime tomou conta.
Nessas horas eu sempre percebo a falta que faz de um pouco
de filosofia nas escolas, porque a massa dá demonstrações diárias de ser beata
demais. Os meios de comunicação, que deveriam ser os primeiros a divulgar TODAS
as informações e analisar os fatos sobre todos os ângulos são os primeiros a
tergiversar, fazerem o enredo de novela... e
por que não? E a venda dos jornais que quase já não saíam, não aumentou?
E as redes sociais, você pergunta. Bom, elas são a extensão das pessoas por
trás delas. De cada dez frases publicadas com fotos de floresta, no mínimo a
metade erram o autor. Como podem ser elas um contraponto à mídia corporativa a
quem o terror das pessoas tanto interessa? Simples: não podem. Não ainda. A
foto da movimentação de caminhões do Exército na rodovia catarinense é o sinal
que faltava; a situação está fora de controle e o Exército “foi” para SC. Claro
que o fato de o Exército já estar em
SC parece não ter ocorrido às pessoas que abonaram a ideia.
Mas e as três ou quatro pessoas lá do começo, o que fazem?
Que tal tomando cerveja num bar e rindo de como as pessoas são facilmente
assustadas? Quando o pavor toma conta, as perguntas que deviam ser feitas não
são. E pessoas que não questionam são como muitos dos que conheci na minha vida
de estudante toda; só estão ali pra levar a nota. E olha que as perguntas e
serem feitas nem são difíceis.
Podia-se começar com quem ganha em assustar as pessoas do
Estado, espalhando o caos? Se alguns policiais tiverem pessoas inconvenientes a
eliminar, não seria uma boa hora? Observe que inconvenientes não são necessariamente
bandidos; talvez até outros policiais menos coniventes, ou um novo comando cuja
presença incomoda a um grupo. E portanto não seriam eles esses suspeitos de
serem esses três ou quatros que armaram o circo? Em Salvador, na Bahia, durante
a greve da polícia, alguns dos próprios policiais não ficaram contentes em ver
a criminalidade não triplicar nas ruas, então eles mesmos puseram máscaras e
saíram atirando nas ruas como se estivessem no velho Oeste. Filmado e tudo o
mais.
Muitas outras possibilidades podem ser arroladas aqui, mas é
certo quem quer que seja o(s) mandante(s), seu objetivo é causar pânico.
Ninguém armado de um pica fogo qualquer sai atirando em cabines da Polícia de
graça. Nem deixa pra queimar ônibus sem ninguém dentro em pontos finais de
linha à toa. Em todo o caso, antes de ficar
compartilhando notícias de quantos ônibus forma queimados, talvez seja prudente
verificar, por exemplo, se os donos da empresa não estão com dívidas suspeitas,
se os suspeitos não são vacas de presépio de um enredo maior, geralmente menos
fantástico e mais simples.
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