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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Feliz Natal!

Eu podia começar isso desejando um Feliz Natal e indo embora, já que meu blog tem ficado inerte por minha ausência de tempo em poder gerenciá-lo. Mas, culpem-me do que quiser, eu não consigo ficar sem dizer algumas palavras. Talvez seja coisa de menino, dessas que os adultos não entendem; "por que tem de falar?"; "que mal há em ficar quieto, sem necessariamente ficar apontando o que acha um equívoco?". Dizem que cada gesto seu a respeito do mundo está muito mais perto de dizer sobre você e, ao invés de aclará-lo, deixa o mundo ainda mais confuso. Se for assim, sei que sou um prato cheio para psicanalistas de ocasião. Mas devo dizer que também sou um deles e levo adiante enquanto falo uma bateria de testes sobre mim mesmo, e que controlo com rigor metódico. 

Bom, o natal é visto como uma data chave na tradição cristã ocidental. Digo ocidental porque nesse exato momento, o país mais populoso do mundo possui uma influência cristã pequena, patética quase. Não é melhor ou pior por isso, a priori, mas é um exemplo importante para pontuar que enquanto muitas pessoas falam em termos de uma data global, ela de fato diz pouco sobre uma plêiade de pessoas do outro lado do globo.

Por outro lado, se focarmos na nossa tradição ocidental, mas olharmos para além das fronteiras temporais a que nos habituamos, veremos que o natal já era comemorado muito antes de Jesus nascer. Alex Klein falou outro dia que antes de ser usado para celebrar o nascimento de Jesus, era considerado o dia da árvore. Não sei exatamente até onde isso procede, mas não me espantaria em nada que assim o fosse. Sabe-se que um edito de 350 anos após a era de Jesus foi que estabeleceu seu nascimento, não só como uma medida para dirimir uma dúvida que ninguém conseguia, mas sobretudo para se antepor a uma festa de outra religião, vulgarmente chamada pagã (`por que assim é que eu chamo tudo que não é a minha`), em que se comemorava o solstício de inverno do deus Sol.

Do ponto de vista da sociedade de então, fazia muito mais sentido comemorar um deus que tinha, de fato, uma inferência clara nas colheitas e na vida cotidiana. Nunca é demais dizer que achava-se que ele prescrevia uma rota sumindo e aparecendo do outro lado; demoraria muito tempo para alguém propor algo mais realista: que na verdade, nós é que prescrevíamos uma roa em torno dele. Mas por uma série que movimentos na história, sempre complexa demais para caber no que se escreve a respeito dela, a religião de cunho cristã foi se impondo.

Nada demais para a época, é preciso que se diga. Roma sempre que subjulgava uma nação, trazia consigo as pretensas divindades veneradas no lugar, construíam um templo em sua homenagem e a incluíam nas suas festas anuais. Foi Roma, cujo império ergueu muito da civilização moderna de concentração de pessoas em grande cidades, quem oficializou a religião cristã. Mas só o fez quase quatro séculos depois, e os cultos cristãos então realizados eram tão diversos, tão diferentes entre si que a igreja nascente ali precisaria de mais uma dúzia de séculos para unificá-los. 

Esse reconhecimento tardio deve-se ao fato incômodo aos crentes mas factual que a religião cristã não foi fundada por Jesus. Ele era um judeu falando a outros judeus e a Bíblia, por mais que padres e pastores se esmerem em torcer significados, é clara a esse respeito. A insignificância do movimento de Jesus em seu tempo fica evidente quando justapomos o que se diz a seu respeito hoje em grau de importância e o que se sabia a respeito dele na época. Ora, ninguém sabe quando nem como ele nasceu; os quatro evangelhos aceitos são contraditórios em muitos aspectos e, ademais, excluem convenientemente as informações do que Jesus fez dos doze aos trinta anos. Considerando as alusões ao seu nascimento uma invenção que buscava legitimar uma ideia (comum nos escritos de uma época em que não se sabia a sua origem), o que se tem de mais concreto são os três anos em que Jesus apareceu como mais um dos messias que coalhavam Jerusalém da época.

Os mecanismos que fizeram de Jesus o que é são complexos e não me atreveria a sequer tentar esgotar isso com uma conclusão apressada. Mas essa afluência atual em torno da sua figura é muito mais um fenômeno moderno, que nada tem a ver com o nazareno enquanto homem. Isso, claro, se é que existiu. As pessoas que esperam sua segunda vinda são convictas da mensagem que acreditam ser dele. As pessoas se acostumam a não fazer perguntas; a receber os conceitos sem pesquisar uma linha que seja. E assim, você dificilmente encontrará um seguidor cristão que seja capaz de articular razões para sua crença fora daquilo que o seu pastor ou padre prega nos fins de semana. Ele lerá a Bíblia como o melhor dos livros sem achar estranho que a magnitude do que é dito ali use como referência o próprio livro. É verdade porque... está ali. Não é à toa que essa credulidade tornou-se uma forte razão de exploração em todos os níveis possíveis no mundo moderno.

E ainda assim, as redes sociais são tomadas sobre "o verdadeiro sentido do Natal"; todo mundo explica que é Jesus, não o papai noel. Bom, segundo a população em massa do outro lado do globo e de todos os que viveram no passado, não é nem um, nem outro. 

O Natal é uma comemoração que está há muito tempo na nossa civilização. Mudou de sentido algumas vezes para acomodar crenças de forma conveniente, e a recorrência da História é um sinal claro que pode sofrer mudanças dessa natureza no futuro. Independente da crença que se tenha, a ideia de parar e celebrar com os seus uma esperança que parece se afogar no dia a dia em que vivemos é tão necessária quanto real. Era assim no tempo da deusa árvore, de Hórus, de Jesus ou quem mais vier. 

O que faz do Natal a sua maior força é a reunião entre os que não se viam. De encontrar de novo seus amigos e parentes e ver nos sorrisos e abraços uma identificação natural que reforça em cada um os laços profundos que constroem o que somos: uma rede interlaçada de pessoas que contribuem mutuamente pelo bem estar do outro. Senão de todos, ao menos daqueles que amamos.

É isso. Um feliz natal com aqueles que lhe são estimados!




Um comentário:

Trecos disse...

Um soprar dos ventos me levou a ler essas palavras...
Sim somos do tamanho do que vemos. Em algum momento um ser lembrou da sua luz e assim deve ter virado um Jesus, fiquei feliz em saber que o pedaço da possibilidade divina é uma ideia, um suspiro talvez um sonho.
Gratidão por compartilhar.
Fiquei curiosa sobre como foi o Natal de 2012...
Por fim lembrei que tudo vale a pena se a alma não é pequena ; )