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domingo, 27 de março de 2011

Philippe Jaroussky

O frances dublador do castrati Farinelli em filme homonimo.

O Canon de Pachebel...

Da série "é Old mas é Gold". E em instrumentos de época.

"Crash into me"

Uma banda legal, boa música pontuando a noite... A produção fantasiosa, interpretação e o festival de caretas de Dave Mathews em sua música "Crash in to me".

sábado, 26 de março de 2011

Ele deu a volta por cima? José Arruda, Revista Veja e a piada pronta...

Em matéria publicada no site da revista Veja, o ex-governador José Roberto Arruda fala de ética e moralidade enquanto estava preso no ano passado. O detalhe é que a entrevista foi concedida antes das eleições e só foi publicada agora. Por quê? Dentre uma série de fatores, as pessoas que ele expunha e as eleições que se aproximavam.

O repórter autor da entrevista também foi o da matéria sobre Elenice Guerra, Diego Escosteguy, que saiu da revista pouco depois pela péssima relação que mantinha com o editor de Veja. Estando trabalhando na revista Época, o jornalista pediu autorização à revista para publicar a sua matéria; a autorização foi concedida, mas a revista Veja acabou publicando a matéria sem os créditos na versão online. 

Mas do que trata a entrevista? De pérolas dignas de um livro de auto-ajuda, não fosse seu autor quem fosse.

"Os problemas éticos nas casas legislativas são facilitados por uma legislação política e administrativa totalmente atrasada e incompatível com o momento político que o Brasil vive."

"[meu limite] É o limite ético. É não dar mesada, não permitir corrupção endêmica, institucionalizada. Sei que existe corrupção no meu governo, mas sempre que eu descubro há punição.

Opa, espere um pouco. Não lembra quem é José Roberto Arruda? Segue dois vídeos 'educativos' dele. O primeiro resultou na operação Caixa de Pandora da Polícia Federal, com 29 mandados de busca e apreensão.


E o segundo é um clássico. Lembro de ter acompanhado isso ao vivo na época. Os primeiros 2:30 minutos são sua defesa apocalíptica e inflamada da calúnia da qual se dizia vítima, suaresponsabilidade na violação do sigilo do painel de votação do Senado. A partir daí até o fim do vídeo, é a sua retratação 4 dias após (mais rápido que a reconstrução da rodovia no Japão!!) o primeiro. Depois do depoimento de Regina Célia Borges, sua versão ficou insustentável e ele teve de vir a público desmentir. No episódio, ele e o senador Antônio Carlos Magalhães ("ah, que saudade eu sinto da Bahia") tiveram de renunciar para não serem cassados. Depois voltaram nas eleições, mas isso é outra história.
Observe o contraste, o descaramento e o nivel de sinismo que chega uma pessao pública, pago para representar as pessoas e decidir as questões sobre educação e cultura, entre outras.


E isso tudo enquanto eu e você lutamos feito um condenado para viver, aprovar projetos com verbas miseráveis, receber bolsas que são uma piada. Nem falo das necessidades básicas da população em geral, porque seria covardia.

Em resumo, invocando Hamlet, tem ou não tem algo de podre no reino da "Dinamarca"?

Audições na OSB 5

Matéria divulgada no blog do Nassif sobre a entrevista de Roberto Minczuk em 23/03/2011, a respeito das audições realizadas na OSB. Ao que parece as audições terminaram na segunda passada e dos 82 músicos, 35 vieram. Posto em seguida dosi comentários dessa matéria no próprio blog do Nassif, que julguei pertinente por serem feitos por dois músicos conhecidos e ambos ex-executantes da OSB. Demonstram pontos de vista e ênfase diferentes, como se há de notar.
Segue a entrevista.

"
"Vamos repatriar nossos 'Ronaldinhos"

Roberto Minczuk, regente-titular da OSB, anuncia seleção em Nova York e Londres e desejo de recuperar talentos brasileiros no exterior
Hoje à tarde, músicos e direção da Orquestra Sinfônica Brasileira tentam reconciliação no Ministério do Trabalho
Joel Silveira - 22.out.2004/Folhapress
Maestro Roberto Minczuk à frente da OSB
CRISTINA GRILLO
DO RIO

Pela primeira vez em seus 70 anos, a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) fará, em maio, seleção no exterior para contratar instrumentistas. As sessões acontecerão em Londres, em Nova York e no Rio. Há 13 vagas abertas-algumas há mais de dois anos-, mas o número de contratações é indefinido.
Desde janeiro, a orquestra enfrenta uma crise por causa da decisão de avaliar seus músicos. Apenas 35 dos 82 instrumentistas compareceram às audições -os que se recusaram a participar podem ser demitidos.
"Vamos repatriar nossos "Ronaldinhos'", diz Roberto Minczuk, 43, diretor artístico e regente-titular da OSB, sobre a possibilidade de trazer do exterior músicos brasileiros de alto nível.
Hoje será um dia decisivo para a OSB. Em reunião à tarde no Ministério de Trabalho, as duas partes tentarão chegar a um acordo.
Enquanto os músicos querem a suspensão das avaliações, a direção propõe a reabertura do plano de demissões voluntárias -ou seja, sinaliza que aqueles que não participaram das avaliações serão demitidos.
À Folha, Minczuk nega a fama de ríspido e diz que não pretende, por ora, levar a OSB ao exterior. 

Folha - As audições de avaliação terminaram na segunda. Qual é o balanço final?
Roberto Minczuk
- Dos 82 músicos que deveriam se apresentar, 35 vieram. Temos seis atestados médicos, então essas audições serão remarcadas. Fiquei surpreso. Desde o início, deixamos claro que o intuito não era demitir ninguém, mas dar "feedback" para os músicos e resolver questões da orquestra.
Quais?
A OSB não tem relatórios escritos de avaliações até 2006. A partir daí, temos registro de tudo. Sabemos que, antes, as audições eram feitas com certa informalidade, com repertório simplificado.
Vários músicos nunca fizeram concurso para entrar na orquestra. Temos casos de posições chave, de solistas e até de spallas [o primeiro violino da orquestra] que nunca passaram por audição.
Outra finalidade era dar oportunidade aos integrantes de ocupar categorias superiores. Tenho 13 posições abertas na orquestra há muito tempo. Vários músicos se candidataram a essas posições nas audições. Um de nossos violistas foi promovido após a avaliação.
Só com audições individuais é possível identificar exatamente a afinação de cada um, o vibrato [a oscilação da corda de um instrumento], a qualidade dos instrumentos de cada um...
Percebemos que alguns precisam adquirir instrumentos de qualidade superior. Agora, com a remuneração entre as melhores do país, eles poderão fazer isso. É o que vai fazer a diferença do bom para o ótimo, do ótimo para o soberbo.
Os músicos se queixam de que o nível de exigência do repertório escolhido para as avaliações foi muito elevado.
O exigido é o "standard", o que foi tocado nas últimas temporadas: Beethoven, Brahms... Além disso, pedi uma peça solo, que demonstra o conhecimento de estilo, sonoridade, afinação, coisas básicas, e uma peça de livre escolha. É o básico para qualquer bom músico em qualquer lugar.
Tiveram dois meses, um de férias, outro de trabalho, em que a orquestra pagou para que se preparassem. Um bom músico, em minha opinião, prepara um repertório desses em três semanas.
Estamos oferecendo salários de R$ 9,3 mil a R$ 11,3 mil. Vemos a Osesp crescendo, a orquestra de Minas crescendo. Como a OSB pode ficar acomodada?
Teremos audições abertas em maio no Rio, em Nova York e em Londres. Já temos brasileiros que estudam ou atuam lá fora inscritos.
É a primeira vez que fazemos isso. Agora, com salários competitivos, conseguiremos até repatriar os nossos "Ronaldinhos".
No primeiro semestre, vamos completar a orquestra e, no segundo, quando passa a vigorar a nova remuneração, teremos mais ensaios, mais dedicação. Os ensaios serão de manhã e à tarde, coisa que a OSB nunca fez.
Como é atualmente a rotina da orquestra?
O máximo que a orquestra trabalha é até sete ensaios ou concertos por semana, cada um com no máximo três horas. Vamos passar a ter nove funções semanais, com ensaios à tarde como faz a Osesp e orquestras lá fora.
Isso vai exigir dedicação maior. Temos músicos que tocam em mais de uma orquestra. Cada um vai ter que tomar sua decisão.
O que vai acontecer com os músicos que faltaram?
Essa é uma questão administrativa, jurídica, que não cabe a mim.
Mas como diretor artístico, o que o senhor pode fazer?
O conselho vai decidir sobre essa questão. A partir daí, vamos ver como proceder artisticamente.
Será possível continuar a trabalhar com os músicos que se recusaram a ser avaliados?
É cedo para dizer. Temos que nos reunir, conversar. A questão foi levada à Justiça.
Como foi o desempenho dos que participaram?
Foram bem avaliados. Pretendo me reunir com cada um, fazer ajustes.
Os músicos se queixam de que o senhor é ríspido.
Gostaria que os ensaios fossem transmitidos pela internet. Isso acabaria com esse negócio de dizer que sou ríspido. Sou intenso, muito exigente, mas não sou ríspido. Sei exatamente como cada músico deve tocar.
Evidentemente, se uma pessoa comete o mesmo erro três, quatro vezes, mudo a forma como estou pedindo.
De zero a dez, que nota daria à orquestra?
Há aspectos técnicos, de emoção e de performance a serem levados em consideração. Seriam notas diferentes.
A orquestra tem muita garra, mas precisa aperfeiçoar afinação; é brilhante, mas tem que ser mais precisa tecnicamente. Há ainda variação de concerto a concerto.
O que queremos é constância, uniformidade. Na temporada 2010, fizemos concertos excelentes, outros abaixo da expectativa.
O senhor teria confiança de levar a orquestra hoje para uma turnê no exterior?
Ainda não. Por isso precisamos passar pelo processo pelo qual estamos passando."



COMENTÁRIOS

Paulo Sérgio Santos

"Eu sou clarinetista ha mais de 40 anos. Nunca estudei no exterior. So dei aulas e toquei e toco no exterior. Algumas pessoas veem estudar comigo vindo do Japao, Europa e Estados Unidos. So toquei musica brasileira fora do Brasil, erudita ou nao, porque toco as duas coisas e dizem que bem.
Fui primeiro clarinetista durante 18 anos na Orquestra Sinfonica do Teatro Municipal do Rio de Janeiro e ha uns 18 sai dela. Toco no Quinteto Villa-Lobos desde 1977. Nos ultimos anos, fui convidado a participar em concertos na Osesp e OSB. Nunca aceitei porque a remuneracao proposta sempre foi ridicula em relacao ao que ganham os maestros destas instituicoes completamente e, na minha opiniao, burramente endeusados.
Nao tenho NENHUM interesse em relacao ao que se faz na Europa, Japao ou Estados Unidos porque eu tenho compromisso com a musica que eu tenho na minha cabeca e alma. Isso me basta!
Concordo totalmente com a exposicao do Carlos Henrique Machado e repudio totalmente quem utiliza a admiracao pela musica e cultura  europeias para DIMINUIR o que ee feito ou foi feito no Brasil.
Eu nao troco a musica do Brasil POR NENHUMA OUTRA DO MUNDO! E conheco musicos brasileiros que nao estudaram no exterior e sao IMBATIVEIS! Pensar em construir orquestras e centros culturais baseados na cultura europeia ou em outra qualquer, para mim (e Mario de Andrade!), eh um grande erro. Um erro crasso que soh eh frequentemente cometido por pessoas que tiveram a infelicidade de nascer no Brasil pois queriam ser europeias ou americanas ou japonesas. Desconheco algum concurso realizado pela Filarmonica de Berlim ou Chicago ou Viena ou Venezuela (que tem uma qualidade excepcional e poucos sabem!) que tivesse audicoes no Rio de Janeiro ou qualquer outra capital brasileira.
Dizer que o Brasil nao tem escola de musica ee o maximo da PRETENSAO e TUPINIQUISMO! Brasileiro que age ou pensa desta forma deveria ser convidado a se retirar do Pais ou ser preso! Chega de "complexo de vira-lata"!
Para mim, Villa-Lobos nao esta entre os 10 melhores compositores do mundo e sim ocupa os 10 primeiros lugares. Depois a gente fala em Bartok, Ligeti, Xennakis, Pierre Boulez dentre tantos outros excelentes compositores.
O mundo estaa muito cheio de cronometros, estatisticas  e planilhas e gente boba e equivocada que se impressiona muito com os aparentes resultados maqueados e tecnologia sensacionalista.
Pior do que estas pessoas acometidas por este mau sao as outras IGNORANTES que, poderosas, conferem tanto poder e importancia a individuos e pensamentos completamente malignos e  consequentemente mediocres! Alguns sao tao talentosos mas se encontram apodrecidos na sua essencia, doentes e paranoicos, nutridos por essa seiva cujos nutrientes sao o  poder financeiro, o poder da midia, a falta de consciencia e a falta do verdadeiro conhecimento do assunto.
Esse comportamento lamentavel ee que nos assegura a qualidade de TERCEIRO MUNDO e nao o inverso!
Gloria aos tupiniquins!
Quando isso vai mudar? EU NAO SEI! Talvez nao mude."




Fernando José Silveira (respondendo a um comentário anterior)
"Caro Brejtmann,
O que você está sujerindo é que contratemos Regentes de fora?? Sua comparação ao futebol, pelo menos para mim, indica isso.
Uma pergunta que o Sr. Minczuk não tem resposta se reporta à sua formação como regente: ele simplesmente não tem! SIM, ele não possui uma formação em regência! Porquê os músicos precisam ter uma formação sólida - em escolas de música e universidades de renome - e ele não?? Parece que os pensamentos do Sr. Minczuk quanto à qualidade musical só não dervem para ele...
Quanto à qualidade de seu trabalho, bem... Trabalhei com ele na OSB durante seus primeiros quatro anos e, comparado a outros grandes maestros com quem trabalhei - como I. Karabichevisky, Masur, Rostropovich etc - podemos dizer que ele ainda é um aprediz. Talentoso?? SIM! Mas, por enquanto só isso...
SIm, o Brazil já teve sua fase de importar regentes e músicos de fora (ou que obtiveram sua formação fora do Brasil) que pudessem contribuir para o desenvolvimento da música por aqui. Nomes?? Noel Devos, José Botelho, Zdenek Svab, Jean Noel Sagard, Szenka etc... Mas hoje, posso te garantir que tanto na música popular quanto na música 'erudita' temos qualidade suficiente para nos sustentarmos.
Não é verdade que não temos escolas de música incapazes de formar bons músicos. É verdade que encontramos mais dificuldades - principalmente no que tange à recursos materiais. Porém vejo que encaramos estas dificuldades com muita responsabilidade. Temos excelentes professores em todos os cantos de nosso país. Digo isso porque, nos últimos 5 anos - tenho sido constantemente convidado a dar aulas e a tocar por todo o mundo e posso atestar que nossos músicos não deixam nada a dever as colegas estrangeiros. Muito pelo contrário: o contato com nossa rica cultura brasileira permite ao músico brasileiro diferenciais que outros gostariam de ter...
Cabe a pergunta: por que o 'mundo da música' se coloca firmemente contra as decisões do Sr. Minczuc?? Eles não são brasileiros e nos apoiam porque querem... Será um complô contra o Sr. Minczuk?? Ou será que os problemas referentes à música só podem ser realmente entendidos por que dela participa e conhece??"


O Japão e a reconstrução do país

Dia desses vi uma piada que comparava a capacidade de superação japonesa com a nossa, brasileira. Diziam que mais rápido o Japão reconstrói o país inteiro que o Braisl termina um único estádio para a copa do mundo de 2014. Claro, isso não é piada, mas uma triste realidade no nosso caso. O Japão, por outro lado,  pode ter uma série de problemas culturais, mas forçosamente, são imbatíveis na própria superação.

Pois bem, eis que sou surpreendido com a notícia vinculada pelo portal do G1 sobre a reconstrução de uma rodovia em absurdos seis dias!! Sim, isso mesmo, SEIS DIAS! E com fotos pra comprovar...

11 de março de 2011


17 de março de 2011


Bom, sem comentários. Nem preciso dizer que se fosse por aqui, ainda estariam "estudando" uma forma de realizar a melhor licitação, no bom interesse de alguns, o que levaria a materiais de segunda categoria, camada de asfalto fina, entre outras coisas.
Particularmente, não sou desses que acha que tudo que é lá de fora é o melhor. Mas acho que um patriotismo sem sentido não nos ajuda. Temos muito o que melhorar em nossa política, nossa cultura, nosso conhecimento geral, e devemos ser nossos maiores críticos, exatamente porque somos nós que melhor conhecemos nossas fraquezas e problemas.

Exportamos matéria prima, somos privilegiados geologicamente, temos uma diversidade étnica vivendo em invejável harmonia, MAS ainda somos incipientes em gerir nossa sociedade numa trilha sustentável, sem que alguém saia ganhando absurdos em detrimento da perda substancial e diária de muitos outros; frequentemente, os já tão pobres e miseráveis. E basta que a imprensa retire-se das manchetes diárias que nada mais é feito. Arrisco-me a dizer que muitas das vítimas da enchente em Nova Friburgo ainda esperam por socorro, bem como a reconstrução da cidade.

Se a sociedade que queremos é aquela que plantamos, e a julgar pelo que plantamos em linhas gerais, ainda vamos demorar um pouco a colhê-la.

Fonte da matéria e fotos: G1.

sábado, 19 de março de 2011

Audições na OSB 4

Matéria publicada por Nelson Rubens Kunze, na versão online da revista Concerto. Segue:

"Por uma nova OSB (12/3/2011)
Por Nelson Rubens Kunze

 

Estou acompanhando atônito os desdobramentos da crise da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Como todos sabem, músicos se rebelaram contra um processo de reavaliação de performance decidido pela direção da orquestra e pela Fundação OSB. A ideia, segundo tem repetido insistentemente o maestro Roberto Minczuk, é a de reclassificar artisticamente o grupo. Músicos protestam e boicotam as audições, na internet ecoam queixas e até o blog do influente crítico inglês Norman Lebrecht entrou na história [clique aqui para ler].

Surpreendeu-me a dimensão que o assunto assumiu. Estamos falando da reavaliação de instrumentistas de um grupo que há pouco mais de 5 anos era um simulacro de orquestra. Simulacro mesmo! Não foram raras as vezes em que a Revista CONCERTO lamentou a situação de penúria e abandono a qual a OSB, uma das mais importantes orquestras do país, estava relegada. Com a nomeação do maestro Roberto Minczuk, em 2005, a coisa mudou. Houve em sua gestão uma pequena revolução, que teve entre as suas principais conquistas a revalorização do músico e de seu trabalho. Não será isso o que significa a realização de temporadas sinfônicas com renomados solistas e maestros internacionais (Kurt Masur já seria suficiente, mas é uma lista extensa)? Ou concertos com teatros lotados em palcos nobres como o Teatro Municipal do Rio de Janeiro ou a Sala São Paulo? Ou ainda salários e remunerações pagos mensalmente? Há poucos anos não era bem isso o que se passava.

Mas a pequena revolução não foi apenas do maestro Minczuk. Houve um grande empenho para mobilizar um atuante conselho para a Fundação OSB (isso não deve ser desprezado, seu conselho reúne personalidades eminentes e um presidente com raro engajamento), houve empenho para conseguir formar uma administração moderna e eficiente com profissionais que estão entre os mais preparados do ramo, e, talvez o mais importante, logrou-se sensibilizar grandes patrocinadores e apoiadores. Após anos de sufoco, a OSB começou a respirar novamente. Isso, no Brasil, é uma pequena revolução. Desconfio que no Rio de Janeiro seja um tsunami cultural...

Mas sejamos realistas: a orquestra, em uma escala de 0 a 10 , foi, digamos, de 3 para 6. Não é pouco, pelo esforço que custou e pelo movimento que causou. Mas está muito aquém do que a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil merecem. A Cidade Maravilhosa quer uma grande Orquestra Sinfônica Brasileira, profissional, geradora de cultura e inserida no debate cultural contemporâneo. Uma orquestra que possa orgulhar o país que abrigará a Copa do Mundo, e que possa orgulhar a cidade das Olimpíadas de 2016. E convenhamos que para isso falta alguma coisa.

A Fundação OSB não está propondo uma reavaliação de performance de uma orquestra consolidada em um grande centro europeu ou norte-americano. Também não se trata de reaudições em algum conjunto do interior da Inglaterra ou de uma orquestra de alguma cidade da província alemã. Creio que o que se pretende é a construção – sim, estamos em pleno processo de construção! – de uma moderna orquestra sinfônica internacional em uma das mais belas metrópoles do mundo, em um país que recentemente alcançou à sétima posição na economia global. A OSB, com sua história de 70 anos, merece essa oportunidade, e desde alguns anos há um esforço evidente nesse sentido.

Posto isso, parece coerente a decisão da Fundação OSB em promover a avaliação de performance como medida para a classificação artística de seus instrumentistas. Não será uma imposição unilateral e autoritária guiada pela vontade do maestro ou diretor artístico. Haverá uma banca internacional, isenta e imparcial. E o processo terá uma contrapartida, que é um novo patamar salarial. Assim a Fundação OSB finalmente estabelecerá condições para um vínculo empregatício que poderá garantir, também, a necessária segurança para futuras aposentadorias.

Oxalá a OSB possa seguir contando com o grupo de exímios instrumentistas que hoje a integra, e que contribuiu decisivamente para o atual nível de suas realizações. E que o processo auxilie também para o amadurecimento de modernos processos de gestão, próprios de uma orquestra sinfônica do século XXI."

quarta-feira, 16 de março de 2011

Edvirges...

Sentada na soleira da porta, ela passava o dia vigiando as pessoas que ali passavam
E a vida da cidade era como uma grande parada que se descortinava em desfile à sua frente
Contudo, embora nada que se passasse fora de si lhe escapasse,
Tão embebida estava com o alheio
Era cega, surda e muda ao único fato digno de nota naquele hábito:

Fazendo da vida dos outros a sua, transferia a eles o objetivo da sua própria...

Tinha motivos de sobra para rir das situações mais banais, de condenar, comentar
Ser juiz e júri de uma infinidade de casos, todos sob sua onisciente jurisdição
Mas ela mesma não lembrava de quando havia voltado tão judicioso crivo contra si
E não lembrava do último grande amor que teve, se já o teve
Nem nunca permitia-se rir de si própria; tornar-se ela a notícia
Não se arriscaria a ser alvo daqueles que, como ela, também varavam o dia nas janelas

Como sentinelas de um castelo abandonado, eram algozes e vítimas das celas que criaram

Como eles, ela também vivia através da compensação do saber sem vivenciar
E projetava na vida dos que não lhe diz respeito um sentimento de posse, uma legitimidade
Como se fosse sua por direito, embora nada daquilo lhe dissesse respeito de fato
Presa na sua ninharia, naquela cidade com umas poucas ruas, pequena e esquecida
Assim passava os dias, na soleira, testemunha de um drama que não era seu, 
Nem nunca poderia ser
Uma eterna coadjuvante da própria vida na peça que diariamente escrevia...

terça-feira, 15 de março de 2011

Carl Sagan renovado

A locução original de Carl Sagan para sua série Cosmos, com imagens ao redor do mundo atualizadas pela Nasa e legendadoi pelo Bule Voador. Recomendo ver em tela cheia.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Samurai e seus demonios

Um espetáculo muito legal, com uma interação perfeita entre o ator e as luzes.

domingo, 13 de março de 2011

Direto ao ponto com Philip Pulman...

Rapaz, certo ou errado, isso sim é que é ter uma opinião formada sobre algum assunto.

Shakespeare revisado.

A regravação pelo SBT em 1991, anteriormente feita pela antiga Record em 1968, da versão hilária de Romeu e Julieta, com Hebe Camargo, Nair Belo, Ronald Golias e grande elenco. Isso sim é uma boa forma de começar o domingo!
1968

1991

Versículos...

Nada como o bom e velho Ezequiel para animar o domingo (grifos meus).

Ezequiel 5

"7 Portanto assim diz o Senhor Deus: Porque sois mais turbulentos do que as nações que estão ao redor de vós, e não tendes andado nos meus estatutos, nem guardado os meus juízos, e tendes procedido segundo as ordenanças das nações que estão ao redor de vós;

8 por isso assim diz o Senhor Deus: Eis que eu, sim, eu, estou contra ti; e executarei juízos no meio de ti aos olhos das nações.

(...)

10 portanto os pais comerão a seus filhos no meio de ti, e os filhos comerão a seus pais; e executarei em ti juízos, e todos os que restarem de ti, espalhá-los-ei a todos os ventos.

11 Portanto, tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, pois que profanaste o meu santuário com todas as tuas coisas detestáveis, e com todas as tuas abominações, também eu te diminuirei; e não te perdoarei, nem terei piedade de ti.

12 uma terça parte de ti morrerá da peste, e se consumirá de fome no meio de ti; e outra terça parte cairá à espada em redor de ti; e a outra terça parte, espalhar-la-ei a todos os ventos, e desembainharei a espada atrás deles.

13 Assim se cumprirá a minha ira, e satisfarei neles o meu furor, e me consolarei; e saberão que sou eu, o Senhor, que tenho falado no meu zelo, quando eu cumprir neles o meu furor."


Obs: Me veio à cabeça aquela frase da música "Índia":  (...) e a doce meiguice desse teu olhar (...).

quinta-feira, 10 de março de 2011

EUA x cultura geral...

...ou o que dá ficar alienado achando-se o maior de todos.

Em tempo: note que na exibição do mapa, eles trocam os nomes dos países impressos e ninguém se dá por conta. Destaque para onde um deles põe a França.

Zizi Possi e Ana Carolina em "Ruas de Outono"

Tá um vídeo bacana, bem bonito. Destaque pra sensibilidade excepcional da Zizi Possi.



quarta-feira, 9 de março de 2011

Da série "e agora, enfio a cara aonde?"


Trânsito, ciclismo e barbárie



Retirei do blog do Kayser.

Justiça e direitos iguais.

Toca o telefone...

- Alô.
- Alô, poderia falar com o responsável pela linha?


- Pois não, pode ser comigo mesmo.

- Quem fala, por favor?


- Edson.

- Sr. Edson, aqui é da OI, estamos ligando para oferecer a promoção OI linha adicional, onde o Sr. tem direito...


- Desculpe interromper, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Judite, da OI, e estamos ligando...


- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, gostaria de conferir alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- Bem, pode..


- De que telefone você fala? Meu bina não identificou.

- 10331.


- Você trabalha em que área, na OI?
- Telemarketing Pro Ativo.


- Você tem número de matrícula na OI?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.

- Então terei que desligar, pois não posso ter segurança que falo com uma funcionária da OI. São normas de nossa casa.
- Mas posso garantir....


- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de atendentes sempre que tento falar com a OI.
- Ok.... Minha matrícula é 34591212.


- Só um momento enquanto verifico.

(Dois minutos depois)

- Só mais um momento.

(Cinco minutos depois)

- Senhor?

- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.

- Mas senhor...

- Pronto, Rosicleide, obrigado por ter aguardado. Qual o assunto?


- Aqui é da OI, estamos ligando para oferecer a promoção, onde o Sr. tem direito a uma linha adicional. O senhor está interessado, Sr. Edson?

- Rosicleide, vou ter que transferir você para a minha esposa, porque é ela que decide sobre alteração e aquisição de planos de telefones.


- Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.

(coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê do Latino
tocando no Repeat (quem disse que um dia essa droga não iria servir para alguma coisa?), depois de tocar a porcaria toda da música, minha mulher atende:

- Obrigado por ter aguardado.... pode me dizer seu telefone pois meu bina não identificou..

- 10331.


- Com quem estou falando, por favor.

- Rosicleide


- Rosicleide de que?

- Rosicleide Judite (já demonstrando certa irritação na voz).


- Qual sua identificação na empresa?

- 34591212 (mais irritada agora!).


- Obrigada pelas suas informações, em que posso ajudá-la?

- Aqui é da OI, estamos ligando para oferecer a promoção, onde a Sra tem direito a uma
linha adicional. A senhora está interessada?

- Vou abrir um chamado e em alguns dias entraremos em contato para dar um parecer,
pode anotar o protocolo por favor.....alô, alô!

TUTUTUTUTU...

- Desligou.... nossa que moça impaciente!

terça-feira, 8 de março de 2011

Audições na OSB 3

A mensagem de Paulo Bosísio sobre o fato, divulgada no blog do Nassif.


"Mensagem do violinista Paulo Bosisio.
by Antonio J Augusto on Friday, March 4, 2011 at 7:22pm

Mesmo não integrando o quadro de instrumentistas da Orquestra Sinfônica Brasileira, minha relação com aquele conjunto já vem de 1966 , quando solei como jovem concertista, sob a regência do então Titular Maestro Karabtchewsky. Retornando da Europa, apresentei-me diversas vezes na serie oficial da OSB, em cujo corpo integram hoje, não só antigos e novos colegas, como também alunos e ex-alunos.

Participante ativo da vida musical de nosso país fui surpreendido pela noticia de um possível teste de avaliação interna nos quadros daquela orquestra, de natureza estranha, no mínimo. Estranha por não ter eu presenciado tal procedimento nos oito anos de minha permanência na Suiça e Alemanha, estranha por não poder avaliar os músicos da orquestra por suas maiores qualidades - a experiência profissional e o convívio harmônico com os colegas - ,estranha pelo seu tom autoritário.

A ideia de que a OSB-Jovem, onde também tenho alunos, possa por um espaço de tempo suprir a ausência da OSB profissional, é absurda. Aquela orquestra jovem deveria estar cumprindo a missão de orquestra escola, como foi a antiga Orquestra Juvenil do Teatro Municipal, sob a regência do maestro Hack, que ofereceu ao cenário sinfônico carioca os seus melhores músicos profissionais. Para ter este perfil, deveria trabalhar com um repertório compatível com o nível existente, o que definitivamente não é o caso.
Voltando aos profissionais cito, para quem não sabe, que o grande violinista Arnold Rosé, spalla da Opera de Viena sob a regência de Mahler, ocupou durante 57 anos aquele posto, não sendo obrigado a passar por qualquer prova de avaliação. Foi afastado pelos nazistas austríacos.
A ideia de avaliação interna é deplorável e humilhante. Mas se assim fosse a filosofia, por que não avaliar o maestro? Não é músico também? É uma questão de coerência.

Paulo Bosisio.

Paulo Bosísio ocupa a Cadeira 08 na Academia Brasileira de Música."


PS: Em tempo, segue link do jornal O GLOBO, com matéria mais recente sobre a discussão.

Audições na OSB 2

Posto aqui a resposta à carta aberta de Alex Klein por John Neschling em seu blog Semibreves.

"A deselegância de Alex Klein

Como sabem meus leitores, uma das razões pelas quais criei esse blog foi a minha decisão de não permitir mais que ataques me sejam feitos sem que eu possa me defender. Hoje, li a carta aberta que o oboísta e atual maestro Alex Klein enviou ao maestro Roberto Minczuk, em razão das audições marcadas para os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira. A carta é de uma deselegância ímpar em relação a mim e também ao maestro Minczuk, a quem Klein se dirige como se fosse um veterano na regência. Alex Klein é um excelente músico, mas jamais fez nada parecido ou próximo do que deixei realizado no Brasil. Sua passagem pela direção do Teatro Municipal de São Paulo foi fugaz e estéril, e nem por isso ele foi vítima da deselegância que hoje ele utiliza  na sua tentativa de ser parceiro de outro maestro, e ao mesmo tempo partidário dos músicos da orquestra.
Comparar as atuais audições da OSB com as que realizei  durante a minha gestão frente à OSESP  é fora de propósito. As audições foram feitas com outros critérios, outros objetivos e  e sobretudo,  após longas negociações com a comissão da orquestra e a anuência da grande maioria dos músicos. Sem falar que elas foram programadas no início da minha gestão.
Alex afirma que essas audições deixaram cicatrizes profundas, que até hoje afetam os músicos. O que elas deixaram, sim, foi uma orquestra que, com menos de  dez anos de trabalho, já estava ganhando o Grammy. Quando saí da OSESP  a prestigiosa revista inglesa Gramophone a incluiu como digna de nota na matéria sobre as vinte melhores orquestras do mundo.
Curioso Alex mencionar o cenário internacional das orquestras para discutir o contexto brasileiro. Como se o Brasil, em 1997, tivesse a mesma tradição e os mesmos 150 anos de história da Filarmônica de Berlim nas costas. Quando cheguei ao Brasil, em 1997, Alex era oboísta da orquestra de Chicago porque no Brasil não havia orquestra à qual ele pudesse entregar seu talento. Naquela época, para quem não se lembra, os músicos da OSESP, ensaiavam num restaurante e podiam até mesmo ler jornais durante os ensaios. Mais do que construir uma orquestra, eu imprimi uma cultura de qualidade e de disciplina, e se fiquei com a pecha de autoritário e ditador, foi por conta de atitudes deselegantes e conservadoras como a de Alex, que na época em que fui diretor da OSESP, ia a meu camarim dizer coisas muito diferentes do que diz hoje em carta aberta.
Dizer que em 1882 os músicos da Filarmônica de Berlim iniciaram a sua luta por melhores condições de trabalho  é citar exemplos fora da nossa realidade.  A OSESP reestruturada não tem nem 15 anos.  Klein parece que esqueceu disso e vem agora com exemplos de 1882. Durante toda a minha atuação à frente da OSESP minha preocupação não foi só quanto à qualidade artística. Enquanto Alex Klein tocava nos USA e ganhava em dólares, sem pensar em voltar ao Brasil, eu batalhei pelo aumento dos salários dos músicos brasileiros em reais e para dar-lhes uma condição de trabalho digna e luxuosa, comparável a qualquer grande orquestra do mundo, inclusive a de Chicago, onde Alex tocava.  Quando deixei a OSESP estava iniciando uma batalha para conseguir um plano de previdência privada para os integrantes da Fundação OSESP e havíamos incluído o seguro saúde nos seus salários. O que fez Alex Klein pelo músico brasileiro?
Nesse episódio da OSB, me manifestei a favor da orquestra e coloquei meu blog à disposição para a divulgação das ideias da Comissão dos Músicos. Posicionei-me em relação à crise, da mesma forma como venho comentando a realidade de diversas  outras orquestras da América Latina.
Citar grandes empresas e comparar suas políticas  administrativas à gestão  de uma orquestra sinfônica, como faz Alex,  é típico de quem nunca fez nada no campo da gestão artística além de pequenas empreitadas regionais . Uma orquestra não produz suco de laranja, petróleo nem aviões, e seus músicos não devem ser encarados como burocratas ou fornecedores. Sempre me bati contra essa mentalidade reducionista. Antes de mais nada, porque uma orquestra não dá lucro. Seus ganhos são mensurados por critérios muitos diferentes.
Ainda por cima citar como exemplo a EMBRAER, que há pouco tempo promoveu uma demissão em massa, é desconhecer até os modelos de gestão das grandes empresas contemporâneas. Nunca fui partidário de demissão aos magotes . (Ah, sim, na verdade houve o episódio da demissão dos sete músicos que brigaram e desrespeitaram Roberto Minczuk, na época, meu assistente, durante um ensaio, e a quem apoiei no episódio, assumindo todas as responsabilidades que me cabiam).
Alex vai mais longe e sugere que eu não tenho carreira internacional. Se ele ignora o que venho fazendo fora do Brasil durante os últimos 40 anos, razão pela qual, inclusive fui chamado de volta ao Brasil –  não por razões de saúde que me impediam de continuar no meu emprego – devia, no mínimo, calar-se a meu respeito. Diferente dele que é regente só recentemente,  atuo nessa profissão  desde os meus vinte anos . É curioso que ele queira ser agora o paladino dessa classe, espinafrando colegas, pretendendo dar aulas a Roberto Minczuk  e, pretensiosamente, ditando regras que ele nunca conseguiu por em prática. Seu primeiro conflito no único cargo importante que tentou ocupar como diretor de  um grande teatro, resultou na sua demissão depois de tres meses no posto.
Nessa carta, Alex, ainda que de forma indireta, dá a entender que, como Minczuk agora na OSB, eu agi na Osesp numa atitude de desrespeito e contrária aos interesses dos músicos, e esse é o maior disparate que ele diz nessa carta que até músicos de Montevideo já receberam.
Agora é fácil para o Alex falar nos avanços das orquestras brasileiras, e nas conquistas que conseguimos. Mas é preciso ter em mente que a história é feita de coragem, originalidade e sobretudo , senso crítico. Se hoje músicos da qualidade de Alex podem voltar a viver no Brasil, como fez ele próprio- e  Minczuk não é obrigado a ficar só em Calgary-,  é porque fui um pioneiro na criação de uma nova realidade sinfônica no país.
Como disse Sêneca, nossa vida é curta e nossa arte é longa. A essa altura, Alex deveria, no mínimo, ter uma biografia como a do maestro Minczuk ou a minha, para escrever  cartas pretensiosas como a que escreveu."

As audições na OSB e construção de um modelo orquestral que funcione.

Pode ter passado despercebido para a comunidade em geral, mas há um diálogo eclodindo sobre a pretensa audição requerida aos músicos da Orquestra Sinfônica Nacional e seus possíveis desdobramentos. Resolvi postar aqui as cartas que encontrei sobre o assunto, por julgar sobretudo que essa discussão pode ser benéfica para todos os músicos, se pensarmos em que tipo de orquestra queremos; integrar as refinadas funções de um grupo musical como esse enquanto instituição com um local que ofereça segurança profissional aos músicos parece ainda ser um ideal distante.

Segue a mensagem postada no blog da Comissão dos músicos da OSB, informando das condições em que a polêmica audição foi instaurada:

"A Orquestra Sinfônica Brasileira comemorou em 2010 seus 70 anos de existência. Ano passado, tocamos cerca de cem concertos - numero muito expressivo - que foram vistos por 190 mil espectadores. A temporada teve caráter de celebração, revivendo grandes momentos destas sete décadas de trabalho. Não há dúvida de que a OSB é a orquestra mais tradicional do país, com uma história de grandes estréias mundiais e no Brasil de obras-chave, responsável pela revelação de talentos (Nelson Freire, Cristina Ortiz e Antonio Meneses, por exemplo) e pela presença no país dos maiores nomes do planeta como seus convidados.

Logo após o inicio das férias da Orquestra, todos os seus músicos foram surpreendidos por uma convocação para prestarem uma prova de avaliação do seu potencial artístico. Isso é inusitado. Nenhuma orquestra do mundo exige tal prova. Criou-se assim um grande impasse na Fundação - como muitos dos senhores e senhoras já sabem, porque foi veiculado pela imprensa. Há profundo desacordo sobre os critérios e a exigência inédita desta prova, de "avaliação de desempenho". Todos somos avaliados diariamente. Todos fizemos prova para ingresso na OSB. Não há porque "avaliar" o que está todo dia sendo avaliado.

Agora, falamos de um desrespeito ao público. A Fundação, querendo se precaver, decidiu colocar no palco a OSB Jovem abrindo a nova temporada e atuando como único grupo sinfônico no primeiro semestre da programação de 2011, sem nenhuma justificativa, tanto para os seus assinantes quanto para os seus músicos profissionais.

Pela primeira vez na história desta tradicional instituição, percebemos um desvio grave dos seus princípios. A Fundação OSB, erigida com o compromisso estatutário de manter uma orquestra sinfônica, vê sua governança infringir esta norma, acenando para seus músicos contratados com programa de demissão voluntária, sem a solução ética da boa gestão que premia seus antigos e fiéis funcionários.

Estamos diante de graves problemas trabalhistas e da triste situação da busca de soluções externas para atingir algum equilíbrio entre as partes. Estamos entristecidos com a utilização indevida dos jovens músicos, com o desrespeito na desinformação dos assinantes, com o descaso para com os músicos profissionais - aqueles que imprimiram a marca, a personalidade, a característica única desta instituição, fundada e alimentada pelos sonhos dos músicos e pela prestigiosa presença das senhoras e dos senhores em nossos concertos. Estamos, enfim, nos mobilizando.

A partir de hoje, convidamos os assinantes e o público em geral a acompanhar também por esse espaço as questões que colocaremos, como interessados de primeira hora na qualidade e na excelência da programação da OSB, assim como na manutenção deste grupo de artistas em sua melhor performance possível. Uma orquestra sinfônica é um organismo singular: vivo, mobilizador, poderoso, feito por seus artistas reunidos em prol de um objetivo comum: a música em sua grandeza."

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Aqui a carta aberta de Alex Klein em apoio aos músicos da OSB e divulgada por magnoviola.

"Carta aberta sobre a OSB


Carta aberta ao maestro da Orquestra Sinfônica Brasileira, Roberto Minczuk.

por Alex Klein, quinta, 3 de março de 2011 às 19:16
Caro Roberto,


Eu lhe escrevo em carta aberta para apoiar sua intenção de renovar a Orquestra Sinfônica Brasileira, e elevar seu nível artístico. A OSB já foi líder entre orquestras nacionais, e graças ao seu trabalho e liderança estes últimos anos, assim como a dedicação dos músicos que mantiveram esta orquestra viva por tantos anos de dificuldades, vemos que ela retorna ao seu merecido alto reconhecimento.

Porém, eu lhe peço encarecidamente que reconsidere a estratégia de impor audições internas a toda a orquestra, e mesmo a um único musico. Esta estratégia já foi usada antes, na OSESP, deixando cicatrizes no mercado que até hoje afetam músicos e o próprio maestro. Naquela época, no entanto, as audições internas da OSESP contaram com bancas julgadoras externas à organização, reduzindo ou eliminando a percepção de que padrões não-artísticos – ou seja, preferência pessoal do maestro – seja utilizada na escolha dos músicos.

Para justificar estas audições, muito se fala na necessidade de elevar o nível de nossas orquestras ao nível internacional. Mas, ironicamente, não existe precedente destas orquestras internacionais passando por audições internas para alcançarem tal nível. Ao contrario, as grandes orquestras do mundo alcançaram seu patamar apos movimentos que deram apoio trabalhista aos músicos, dando-lhes segurança de emprego razoável assim como condições de trabalho que fomentem este alto padrão.

A Orq. Filarmônica de Berlim iniciou seu caminho expressivo como líder entre as orquestras do século XX apos uma movimentação em 1882 onde 54 músicos reclamaram sobre condições de trabalho, seu uniram, e partiram com seu maestro. E Chicago abriu-se com como orquestra internacional de ponta após a saída de Fritz Reiner, com a formação de sua comissão de músicos defendendo os direitos trabalhistas de seus integrantes. De fato, a primeira tournée internacional de Chicago foi somente em 1971, 8 anos apos a saída de Reiner, em cujo periodo se instalou a Comissão de Músicos que estabeleceu direitos trabalhistas.

Contra esta movimentação histórica não se pode lutar. Os dias do “poderoso chefão” em fábricas e indústrias já a muito tempo passou. Hoje, empresas modernas dão valor à retro-alimentação dentro da firma, com “patrões” e “empregados” em constante comunicação bilateral em prol de um produto de melhor qualidade. Não se vê a Embraer ou a Petrobrás re-entrevistando todos os seus engenheiros. Este é o segredo do sucesso das grandes empresas assim como das grandes orquestras internacionais. A eleição de audições internas vai em sentido oposto a estas modernidades, e faz com que a OSB sob sua liderança tenha os anos 1950 como exemplo de futuro. Você não merece esta comparação, Roberto, e precisa mudar o rumo desta discussão.

Mas as audições internas tem outras conseqüências. Cria-se um regime de trabalho de “nós contra eles” onde a primeira oportunidade é utilizada para infligir dano ao outro grupo, geram-se desconfianças, atritos desnecessários, e nada disso é comensurável com a boa musica, onde deveria reinar a harmonia, o respeito mútuo, a coesão artística, e aquele grande momento orquestral onde maestro e orquestra são “um”, e formam uma parceria mágica. Uma “parceria”, no entanto, indica um trabalho horizontal, de lado a lado, entre maestro e músicos. E não algo vertical onde o maestro está acima e suas decisões são supremas. O respeito de músicos por um maestro não é de fato diferente do respeito que um engenheiro tem pela administração de uma Embraer ou Petrobrás, e este respeito depende de uma via de duas mãos onde a liderança “faz sentido” para os técnicos altamente treinados e que montam o produto da empresa. Se ao ponto de vista do musico a liderança do maestro “não faz sentido”, este músico não produzirá seu melhor trabalho, a não ser que o produto desejado seja meramente 100 músicos tocando junto. Mas ao ver a sua trajetória, Roberto, você sabe e merece mais do que isso. Talvez outros maestros se contentem com menos, assim como talvez outras indústrias aceitem menos. Mas para uma instituição de ponta, exigimos de nós mesmos um resultado de primeira qualidade em todas as suas vertentes.

É igualmente errado, portanto, músicos exigirem a demissão imediata de um maestro. Você tem um contrato de 6 anos, e deve ter o direito de cumpri-lo sem interferência ou movimentação interna contra sua permanência. Não seria o caso de liderar por exemplo e dar aos músicos também sua permanência sem movimentações que ameacem sua subsistência? Não faria mais sentido assegurar a presença de todos – músicos e maestros – deixando-os livres para criar musica, sem o desperdício de tempo e recursos, e o desgaste de audições e demissões?

E veja bem, Roberto, o seu caso é bem diferente do Neshling quando ele fez as audições na OSESP nos anos 90. Você rege as melhores orquestras do mundo, Philadelphia, New York Phil, e tem uma posição expressiva em Calgary. Todas estas orquestras mantém contratos modernos com seus músicos, contratos “horizontais”. Você não precisa demonstrar ser igual ao colega Neshling para instalar sua reputação como excelente líder orquestral no Brasil, e não necessita utilizar técnicas desprestigiadas internacionalmente para impor respeito e disciplina em sua orquestra. Uma escolha equivocada neste momento poderá causar desconfianças e complicações à sua reputação no exterior. Você não merece isso apos dedicar-se tanto à sua carreira, e precisamos de você no Brasil como um líder moderno.

A OSB é uma excelente orquestra, e possui muitos dos melhores músicos orquestrais do Brasil. A própria instituição deve a eles um grande agradecimento por manter viva esta orquestra durante muitos anos de condições trabalhistas abaixo da expectativa. Se há entre eles músicos que já não acompanham o ritmo de trabalho, quem sabe você pode trazer à OSB os princípios de desligamento existentes em Calgary e outras orquestras estrangeiras que você já regeu. O musico merece conhecer as razões de seu possível desligamento, e de ter uma chance verdadeira de oferecer melhorias. Se mesmo assim um desligamento é desejado, o musico merece a defesa de sua causa pela Comissão de Músicos, para evitar que razões não-artísticas permeiem a decisão de demitir-lo. E se mesmo assim a demissão é inevitável, dê ao musico a misericórdia e a dignidade de um desligamento educado, com uma salva de palmas, um certificado de agradecimento, um reconhecimento de que seus dias na OSB foram de valor, pelos quais a instituição lhe agradece. Valorize o ser humano dentro deste músico, pois a mensagem ficará clara àqueles que ficam, que a orquestra valoriza aqueles que produzem o som dela.

Estes músicos tem famílias, Roberto. Tem prestações a pagar. O caminho para a desejada e importante renovação não é pelo afastamento de músicos, e sim por estimular-los a produzir a melhor musica que jamais tocaram, alimentando sua auto-estima. Eu concordo que é muito mais difícil para um maestro trabalhar nestas condições, onde 100 músicos tem opinião própria e muitas vezes opostas à do maestro. E é também muito mais difícil para Dilma Rouseff governar do que Kim Il-Sung. Pois este é o regime em que vivemos, democrático, onde há liberdade de expressão. Uma orquestra ou empresa não é uma democracia, mas nós brasileiros somos democráticos, está em nossas veias. Nós respiramos o dialogo e livre expressão em todos os nossos afazeres, e inteligente é o líder que sabe transformar toda esta energia em produção. A vivência com valores democráticos tem seu preço, especialmente para aqueles que lideram. Não podemos aderir a valores autocráticos simplesmente porque nos convém. Somos brasileiros, nós não respondemos bem à autocracia, e isso é bom. A orquestra, como uma micro-sociedade, também respira valores democráticos, mesmo se o formato da organização é contratual e empresarial.

Eu lhe peço, meu caro, que reconsidere, e cancele estas audições. Você está em uma posição excelente para trazer ao Brasil os padrões de uma orquestra internacional. Faça-o. Traga ao seu pais os verdadeiros padrões que fazem de uma Philadelphia ou Cleveland o que elas são. Eleve o nível de produção de seus músicos, mas com respeito e dignidade.

Vamos virar a página e encerrar este capítulo de demissões, desentendimentos, polarizações, autoritarismo, e a inevitável falta de consenso artístico que resulta. Chega de demissões em massa de músicos, chega de exigir a saída imediata do maestro.

Contamos com você, Roberto, pelo musico que você é, e pelo futuro que você representa, em liderar a OSB sem audições internas, não porque é fácil, mas porque é difícil. Mas é o caminho certo.

Abs,

Alex"